A nova realidade do mercado de minério de ferro, com preços atuais abaixo dos US$ 80 por tonelada no mercado à vista da China, coloca mineradoras independentes frente a um cenário desafiador. Várias dessas empresas tentam desenvolver novas jazidas ou fazer ampliações de minas existentes. Mas no atual patamar de preços torna-se mais difícil levantar recursos para investimento em projetos de mineração, inclusive no Brasil. Nessa conjuntura só tendem a sobreviver os projetos mais competitivos, de menor custo.
Três empresas - Manabi, Bahia Mineração (Bamin) e Ferrous Resources - têm programados investimentos totais de US$ 8,6 bilhões em projetos que, se executados conforme o previsto, poderão se transformar, a partir de 2017-2018, em uma produção de 60 milhões de toneladas de minério de ferro por ano nos Estados de Minas Gerais e da Bahia.
Mas há dúvidas se os projetos vão se desenvolver conforme o anunciado. Na avaliação de um executivo do setor, o humor dos investidores financeiros, aqueles que apostam no desenvolvimento dos projetos, mudou. Eles estão mais relutantes e exigem taxas de retorno mais agressivas para entrar nos empreendimentos. Nessa condição, passou a ser importante para alguns projetos novos, como o da Manabi, a busca por sócios estratégicos.
Depois da derrocada do grupo EBX, de Eike Batista, os bancos estão mais cuidadosos em oferecer financiamentos tendo a receita dos próprios projetos como garantias, o chamado "project finance", disse uma fonte. Se há um lado bom nessa história, é que as mineradoras encontram hoje um ambiente menos aquecido para negociar os custos dos projetos com as empreiteiras.
"Mesmo em um cenário de mercado mais difícil e complicado, temos um projeto de baixo custo, equivalente aos projetos da Vale", disse José Francisco Viveiros, presidente da Bamin. Ele estima o custo de produção da Bamin em menos de US$ 30 por tonelada com o minério posto no porto, no Brasil. A Bamin tem como meta produzir 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano em Caetité, na Bahia, a partir de 2018, em um investimento de US$ 2,8 bilhões. Desse total, US$ 1,1 bilhão deve ser aplicado na mina e US$ 1 bilhão na construção de um terminal portuário privativo no complexo do Porto Sul, em Ilhéus (BA). A empresa investirá ainda em material rodante (vagões e locomotivas) e fará reservas para contingências.
Em setembro, depois de anos de espera, o terminal portuário da Bamin em Ilhéus recebeu a licença de instalação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O projeto conta com apoio local, mas também enfrenta a resistência de grupos ambientalistas. Viveiros disse que o projeto da Bamin está todo licenciado, da mina ao porto.
Um executivo do setor avaliou que o sucesso do projeto da Bamin depende da conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), obra da estatal Valec, que está com cerca de 60% das obras concluídas, segundo avaliações do mercado. É por essa ferrovia que o minério produzido em Caetité será escoado até o Porto Sul, em Ilhéus.
Outra dúvida do mercado é se o controlador da Bamin, a Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC), do Cazaquistão, terá condições de aportar os recursos que a Bamin precisa para desenvolver o projeto, ainda mais na atual situação de mercado. A ENRC enfrentou recentes restrições de capital. Para Viveiros, o importante é que o projeto da Bamin é "competitivo". Já foram investidos US$ 400 milhões no desenvolvimento do projeto. A Bamin já tem um volume de produção e escoa pelo porto de Aratu, na Bahia, e via Sistema Sul da Vale.
Outro projeto de minério de ferro que tenta tornar-se realidade neste difícil momento do mercado é o da Manabi, com direitos minerários em Morro do Pilar (MG), próximo ao Quadrilátero Ferrífero. A empresa planeja investir US$ 4,5 bilhões, incluindo recursos próprios e financiamentos, em um projeto integrado de mina e logística para produzir 25 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a partir de 2018.
A Manabi ainda espera pela licença do órgão ambiental de Minas Gerais para seguir adiante com o projeto, no qual já investiu US$ 600 milhões, entre aquisição de ativos e desenvolvimento, incluindo o projeto básico de engenharia. A companhia prevê produzir finos de minério com alto teor de ferro (68%) e baixo nível de impurezas. O projeto considera ligar à mina em Morro do Pilar por um mineroduto até a malha da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), da Vale, com quem a Manabi fechou, em agosto, contrato de transporte. A ideia é que o minério de ferro siga de trem até Colatina (ES), onde se prevê a construção de um ramal até um terminal portuário da Manabi, o Porto Norte Capixaba, em Linhares (ES), cidade em que a empresa adquiriu uma área.
Fontes do setor disseram que o acordo com a Vale só entrará em vigor quando a Manabi obtiver todas as licenças. A empresa tem entre os sócios o fundo soberano da Coreia, o Korea Investment Corporation (KIC), o fundo dos professores de Ontário, no Canadá, o OTPP, e a EIG, dos Estados Unidos, entre outros. Na avaliação do mercado, é possível, porém, que a Manabi, assim outras mineradoras independentes, continue a buscar sócios estratégicos para desenvolver o projeto.
Já a Ferrous Resources anunciou, em 2013, projeto de US$ 1,3 bilhão para expandir a mina de Viga, em Congonhas (MG). A ideia era multiplicar por cinco a produção, atingindo 15 milhões de toneladas a partir de 2017. Mas na visão de fontes do setor, na atual condição de mercado, essa expansão estaria em compasso de espera. Procurada, a Ferrous disse que não iria se pronunciar neste momento.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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