A queda nas receitas com exportação de minério de ferro, cujos preços nesta semana atingiram o menor nível em quase três anos, deve ter impacto limitado sobre a taxa de câmbio no Brasil até pelo menos o fim do ano. Essa é a avaliação de profissionais consultados pelo Valor.
Segundo os analistas, a despeito de um superávit possivelmente menor via conta comercial, a consequente pressão de alta sobre o dólar seria amortecida ou mesmo anulada por atuações do Banco Central, que assim não permitira uma valorização acentuada da divisa americana para não dar combustível à inflação.
Além disso, o fortalecimento do dólar poderia esbarrar num maior ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), cujos volumes têm surpreendido até mesmo o Banco Central, que deve revisar para cima as projeções no fim de setembro. "Se os preços do minério de ferro se mantiverem em queda, poderia ser um problema, mas eles devem se recuperar, já que os fundamentos ainda não sugerem um cenário tão ruim", avalia o especialista em câmbio da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri.
Ontem, a tonelada de minério de ferro era negociada a um preço médio de US$ 90,30, menor valor desde 2 de novembro de 2009, quando o preço médio ficou em US$ 88,90. Desde o pico do ano - de US$ 139,40, em abril -, os preços caíram 35,22%.
Esse movimento tem ocorrido em meio a temores de que a economia chinesa esteja desacelerando mais que o esperado. A crise europeia é uma variável explicativa para a retração da demanda chinesa e dos preços da própria commodity, já que o continente é também importante consumidor. O Brasil, por sua vez, no papel de grande exportador de minério para China e Europa, ao lado da Austrália, sofre com a queda dos preços.
Em relatório, o BTG Pactual afirma que os preços do minério de ferro "surpreenderam para baixo". A análise pondera, contudo, que os preços atingiram níveis próximos aos que provocaram correções de alta em 2010 e 2011. "Esperamos que os preços do minério de ferro se recuperem, embora vejamos que eles devem provavelmente se estabilizar perto de US$ 120 por tonelada, do que da faixa entre US$ 130 e US$ 140 por tonelada que estimávamos antes", escreve o banco.
Entre janeiro e julho, as receitas com as vendas de minério de ferro e seus concentrados totalizaram US$ 17,708 bilhões, 12,81% das exportações totais no período, de US$ 138,217 bilhões. Apenas em minério de ferro não aglomerado e seus concentrados foram exportados o equivalente a US$ 13,329 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O número representa uma queda de 18,69% ante o valor exportado no mesmo período do ano passado, de US$ 16,393 bilhões. Já a quantia de 144,946 milhões de toneladas tem alta de 1,44%. O relatório focus do Banco Central mostra que o mercado prevê um superávit de US$ 18 bilhões (segundo a mediana das estimativas), abaixo dos de US$ 29,795 bilhões de 2011.
Para o economista da Rosenberg & Associados, Rafael Bistafa, a queda era esperada. "Essa onda de greves atrapalhou os embarques, então pode ser que nos próximos meses haja recuperação no volume exportado conforme esses problemas sejam resolvidos", diz, estimando saldo comercial de US$ 18,5 bilhões neste ano.
No acumulado das quatro semanas de agosto, o volume de minério exportado recuou 31,1% na comparação com agosto de 2011, para 22,374 milhões de toneladas.
Na visão do sócio e responsável pela área de macroeconomia da FRAM Capital, Roberto Serra, em termos de fluxo, o dólar no Brasil poderia sofrer pressão de alta apenas com uma debandada de fluxos de investimento, cenário relativamente distante do vivido atualmente no país. "Não há movimento especulativo em se tratando de Brasil hoje. Você tem um volume razoável de dinheiro entrando e algumas saídas, mas nada que influencie fortemente as expectativas", diz. "A queda em si das receitas com minério de ferro não seria forte o suficiente para mudar esse quadro, nem para um lado, nem para o outro."
Fonte: Valor / José de Castro e Roberta Costa
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