Na abertura da 33ª edição do Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), no Rio, o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, apresentou visão afastada da realidade em relação ao comércio exterior. Em primeiro lugar, declarou que o comércio externo do país triplicou em anos recentes, até chegar próximo de US$ 500 bilhões, no ano passado, e agora a nova meta é duplicar esse nível, atingindo-se US$ 1 trilhão. No entanto, não se referiu ao fato de que, conforme estimativa dos seus anfitriões – a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) – o fluxo de comércio, este ano, deverá cair 5%. Assim, o país está andando para trás, nesse quesito, o que tornará mais árduo o alcance da meta anunciada.
Em outro ponto, disse que o Brasil adota a multilateralidade, e que os maiores alvos do comércio exterior são – pela ordem de citação – União Européia, Estados Unidos e China. Só em seguida, nominou o Mercosul. Na prática, no entanto, o que se observa é que a prioridade dada aos vizinhos é muito mais intensa do que o esforço feito em relação a aproximação com os gigantes. De forma suave, deu a entender que os países do Mercosul irão entender se o Brasil fizer um acordo com a União Européia, mas todos sabem que as regras do Mercosul exigem acordos de grupo e não isolados.
Com os Estados Unidos – com quem as relações andam tensas, na seara política – disse que se tenta acordo de bitributação, sem qualquer novidade em comércio. Com relação à China, acusou a grande imprensa menosprezar a criação do banco dos Brics. Todos os financistas sérios sabem tratar-se de projeto de médio prazo e com as dificuldades naturais de implantação – pois banco, mesmo de desenvolvimento, tem de ser rentável e não pode se basear em política e boas intenções. O ministro disse que o Brasil tem de pensar antes em multilateralismo do que em enfoque excessivo na regionalização – o que é contraditório com o dia a dia da política externa brasileira, que parece privilegiar os contatos regionais. Segundo Borges, o banco dos Brics vai ajudar o Brasil a se impor na África, mas o que se vê, na realidade, é apenas o crescimento da presença chinesa nesse continente.
A seguir, declarou que o Brasil é carente de capital fixo (dinheiro) e humano (pessoas qualificadas), o que é absolutamente verdadeiro. Também isso gerou comentários, entre exportadores, de que o financiamento a um porto em Cuba – e a possibilidade de crédito para aeroportos na ilha – contradiz essa diretriz. País com carência de capital não financia obras no exterior, principalmente quando não envolve exportação de máquinas e equipamentos, que foi o caso do porto de Mariel. Borges também criticou a exportação de produtos básicos, mas o que se observa, nos últimos anos, é a queda nas vendas de manufaturados e aumento das exportações de minério e soja.
Por fim, deixou mensagem positiva, ao informar que o Brasil quer antecipar acordos com Colômbia, Peru e Chile, para que a integração no subcontinente sul-americano seja mais efetiva, e revelou que o acordo com o México, que só envolve carros, poderá ser mais abrangente essa nação da América do Norte.
Fonte:Monitor Mercantil\Sergio Motta Barreto
PUBLICIDADE