A Petrobrás deu mais um passo na quarta-feira, 26, em sua estratégia de concentrar seus negócios na exploração e produção e petróleo e gás e em cinco refinarias do Sudeste. Os gestores da empresa decidiram vender os 37,5% ainda detidos pela estatal na BR Distribuidora. A data e a que preço as ações vão ser oferecidas ainda não foram definidas. Mas, previamente, especialistas reagiram mal à notícia.
A saída do segmento brasileiro de distribuição de combustíveis, o sétimo maior mercado do mundo, está na contramão de concorrentes estrangeiras, que, nos últimos anos, compraram redes de postos de gasolina no País.
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As ações preferenciais da companhia iniciaram o pregão desta quinta-feira, 27, em alta de 0,45%, enquanto as ordinárias avançavam 0,26%. Mas por volta das 15h, estavam próximas da estabilidade, com leves quedas. A ação da própria BR Distribuidora caía mais de 3%.
A privatização da BR aconteceu em 2019, com a venda do controle pela estatal. O que vai ocorrer em seguida será a alienação da participação remanescente da companhia petrolífera. Os postos de gasolina ainda vão ostentar a marca Petrobrás, mas por mera definição contratual. A BR paga a estatal por isso.
Esse não é o único movimento da petrolífera para sair do mercado de combustíveis no Brasil. Ela também pôs à venda oito das 13 refinarias que possui e quer manter cinco unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro. A primeira privatização deve ser a da Rlam, na Bahia, que está sendo diretamente negociada com o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes.
"Acho um erro. Ainda que o foco da empresa seja a exploração e produção no pré-sal, o domínio do mercado doméstico de combustíveis é muito importante para a valorização da Petrobrás. Na situação atual, ela consegue utilizar a BR com essa finalidade, mesmo sem o controle acionário. A venda de toda sua participação coloca em risco essa possibilidade", disse Luciano Losekann, especialista em Petróleo e Gás Natural e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ele argumenta que o mercado doméstico de combustíveis, de maior valor agregado do que o petróleo cru, é relevante para as petrolíferas, porque exportações são mais custosas e competitivas. "É importante para a Petrobrás assegurar que parcela relevante da sua produção conte com a 'proteção' do mercado doméstico. Essa lógica integrada é muito usada em empresas de petróleo", afirmou.
A BR responde atualmente por 10% das vendas totais da Petrobrás no primeiro semestre deste ano, como informou no documento 20-F enviado às Bolsas estrangeiras.
Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o mercado brasileiro de derivados de petróleo é de aproximadamente 2 milhões de barris por dia, o sétimo maior do mundo, abaixo apenas dos Estados Unidos, China, Índia, Japão, Arábia Saudita e Rússia.
De olho nisso, nos últimos anos, petrolíferas estrangeiras de grande porte adquiriram distribuidoras no Brasil e analisam a possibilidade de ingressar no refino. A francesa Total comprou a Zema, de Minas Gerais, e a Petrochina, a TTWork, em Pernambuco. A anglo-holandesa Shell, por meio da Raízen, está entre as maiores distribuidoras do País, ao lado da BR e da Ipiranga.
"O consumo de derivados de petróleo no Brasil é atrativo. Somos um dos maiores do mundo e com grande potencial de crescimento, dada a possibilidade de inserção de um grande contingente populacional no segmento de energia. Com a abertura do mercado de abastecimento (que inclui refinarias, distribuição e logística), as majors estão atentas à distribuição brasileira, que exigem investimentos menores do que no refino", avalia Rodrigo Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep).
Fonte: Estadão