Genilson Cezar, para o Valor, de São Paulo
A anunciada nova onda de investimentos na infraestrutura alimenta a esperança de que venham ocorrer mudanças estruturais em setores deficitários que entravam o desenvolvimento do país. Os volumes de recursos para as obras são fabulosos. O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em sua segunda fase, o PAC 2, por exemplo, prevê R$ 958,9 bilhões entre 2011 e 2014. No período pós-2014, a estimativa é injetar mais R$ 631,6 bilhões em obras, totalizando R$ 1,59 trilhão. O plano de expansão da infraestrutura de energia até 2019, para fazer frente ao montante de 429,9 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), volume necessário para movimentar a economia brasileira, contempla a aplicação de R$ 951 bilhões.
O setor privado também está empenhado em participar mais do esforço de ampliar os investimentos em infraestrutura, diz Ralph Lima Terra, vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). "Os setores de infraestrutura - petróleo e gás, energia elétrica, telecomunicações, transporte e saneamento - entraram no radar dos investidores", diz. Levantamento realizado há três meses pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) indica que os planos de investimentos da iniciativa privada em infraestrutura envolvem R$ 310 bilhões nos próximos quatro anos.
"Como o Brasil apresenta boas perspectivas de crescimento econômico no médio e longo prazos, a infraestrutura precisará ser ampliada, o que abre oportunidades para novos projetos. Eventos globais, como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, criam uma demanda extra de investimentos, bem como o desenvolvimento das reservas no pré-sal que exigirão uma soma considerável de financiamentos e investimentos. Grandes projetos de infraestrutura, em energia e transportes, tendem a movimentar a economia por anos e anos."
A indústria que fornece bens e serviços para infraestrutura e indústria de base, segundo ele, terá de ampliar sua capacidade de produção, investir em novas tecnologias e aprimorar recursos humanos. "A expansão da renda e do consumo cria expectativa por mais bem-estar e por mais investimentos em mobilidade urbana e saneamento, aumentando a valorização do meio urbano e criando um ciclo positivo de negócios e investimentos", afirma Lima Terra.
A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 são dois grandes propulsores da nova escalada de investimentos. Estima-se em cerca de R$ 80 bilhões o total para as obras de infraestrutura necessárias para que o Brasil esteja em condições de sediar a Copa do Mundo. Para os Jogos Olímpicos, estão previstos R$ 28,8 bilhões. O crescimento dos gastos será resultado do esforço para superar entraves em áreas fundamentais: logística, transporte e saneamento, que estão há décadas sem maiores investimentos, e de energia.
Só na área de petróleo e gás, por conta da exploração do pré-sal, de acordo com estudos do Ministério de Minas e Energia, serão investidos nos próximos dez anos cerca de R$ 672 bilhões. No setor energético, serão aplicados mais R$ 214 bilhões. "São investimentos gigantescos, o que demonstra o esforço que a sociedade brasileira pretende fazer nos próximos anos", diz Altino Ventura, secretário de planejamento e desenvolvimento energético do MME.
Segundo a Abdib, é nítida a trajetória de elevação dos desembolsos do BNDES, especialmente na área de infraestrutura. De janeiro a outubro de 2009, o banco desembolsou R$ 55,8 bilhões em energia, petróleo e gás, telecomunicações, transportes e saneamento básico. O volume representou, no período, 52% do total de desembolsos do banco, um recorde desde 2001.
Para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, projeto de R$ 19,6 bilhões, o BNDES poderá participar em até 80% do total. O banco terá papel fundamental na construção do trem-bala que interligará Rio, São Paulo e Campinas, com custo de R$ 33,1 bilhões. "Os gargalos atuais da infraestrutura são oportunidades de bons negócios para o empresariado, e representam taxas de retorno muito atraentes para o investidor", diz Luciano Coutinho, presidente do BNDES.
Com uma carteira de projetos de R$ 15 bilhões para realização em três anos, a construtora Odebrecht considera factível a aplicação nos investimentos em infraestrutura. "Nos últimos cinco anos, houve uma revisão das prioridades e a infraestrutura passou a ter um destaque nos programas de investimentos, tanto do setor público quanto privado. O volume de investimentos vai tirar um pouco do atraso que o país viveu nos últimos 20 anos". A Odebrecht participa sozinha da construção de duas ferrovias - a Carajás e a Transnordestina -, que representam investimento de R$ 5 bilhões, além da construção da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, com investimentos de R$ 12 bilhões.
Fonte: Valor
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