A crise hídrica e os preços do minério de ferro em baixa estão abrindo oportunidades para novas tecnologias que dispensam o uso de água no beneficiamento da commodity e também conseguem tornar economicamente viáveis materiais mais pobres, antes considerados "rejeitos". "Nesse cenário [de preço]
deprimido novas tecnologias conseguem achar espaço e se consolidar", diz Gustavo Emina, presidente da New Steel Soluções Sustentáveis S.A. A empresa, com sede no Rio, desenvolveu uma rota tecnológica para concentrar finos de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, em processos de beneficiamento a seco, sem o uso de água.
A New Steel é a mais nova aposta da família Lorentzen, antigos controladores da produtora de celulose Aracruz, atual Fibria. Nascida em 2007, a New Steel passou a ser controlada pelos Lorentzen em 2012 via Fundo de Investimento em Participações (FIP) Hankoe, ligado à família. O FIP Hankoe possui 67,53% do capital total da New Steel. O restante está em mãos de pessoas físicas por meio da GN da Barra Empreendimentos e Participações, com 23,46%, e da GEF Consultoria, de Emina, com 6,81%. Mario Yamamoto, responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, tem 2,21% da empresa. Entre as razões que levaram os Lorentzen a investir no negócio, estão aspectos de inovação e sustentabilidade da tecnologia da New Steel e o potencial de crescimento da empresa.
A New Steel é uma prestadora de serviços para mineradores que atuam no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. A estratégia da empresa consiste em assinar contratos de longo prazo com mineradores para beneficiar minério de ferro do tipo "friável", com teores de ferro abaixo de 50%. "Há milhões de toneladas de pilhas com esse teor no Quadrilátero Ferrífero", afirmou Emina. A empresa também planeja inaugurar uma unidade-experimental para concentrar minério de ferro do tipo "compacto", com teores abaixo de 40%. A unidade será "flex", podendo processar outros tipos de minério. O objetivo da New Steel é garantir produto final de alta qualidade, com 66% de teor de ferro.
"Pegamos o minério [de baixo teor], que é passivo ambiental, e montamos unidades para beneficiar o produto em contratos de 10 anos. Nos contratos com os clientes, 100% do Capex [investimento] é nosso", diz Emina. A meta é chegar a 2022 processando 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Mesmo em um cenário de crise, quando as mineradoras estão adiando investimentos em expansões, a News Steel acredita que este pode ser um bom momento para ganhar espaço. "Com a tecnologia, somos mais eficientes, todo o investimento nas unidades de beneficiamento é nosso e acreditamos que, a partir de 2019-20, o preço voltará a subir."
Por enquanto, a New Steel tem contratos com empresas para implantar duas unidades de beneficiamento a seco de minério de ferro em Minas Gerais com capacidade total de 3 milhões de toneladas por ano. As unidades estão em fase de licenciamento ambiental. Emina não informou os nomes dos clientes por razões de sigilo contratual. No modelo de negócio desenhado, a New Steel monta e opera a unidade para o cliente.
Emina disse que os processos tradicionais de beneficiamento de minérios finos no Quadrilátero Ferrífero utilizam água. O cálculo da New Steel é que a concentração dos finos do minério, que eleva o teor de ferro, exige mil litros de água por tonelada no processo de beneficiamento convencional. "Hoje a tecnologia disponível no mercado para elevar o teor de partículas muito finas de minério de ferro é a flotação. Mas essa tecnologia, além do uso intensivo de água, não se sustenta economicamente no cenário de preços atual, tornando qualquer projeto inviável por demandar capital intensivo".
Ele afirmou que a tecnologia da New Steel se baseou no princípio de "secar" o minério valendo-se do ar. "O que movimenta nosso processo é o ar", afirmou. A tecnologia da empresa atua por meio da separação magnética a seco, utilizando gás natural ou biomassa e não gera rejeitos. A tecnologia separa magneticamente o ferro da sílica. Emina disse que a tecnologia da New Steel, com depósito de patente feito em 28 países, já consegue separar partículas de minério de ferro milimétricas a seco, concentrando o minério compacto (com teor abaixo de 40%). Um problema, porém, é que o custo da moagem do minério compacto é alto, afirmou.
Em 2014, a New Steel assinou contrato de cooperação tecnológica com a alemã Loesche, especializada em moagem de diversos materiais. O objetivo foi acoplar o sistema da Loesche à tecnologia da New Steel para minérios compactos. "Conseguimos operar abaixo do custo do sistema tradicional, de flotação", disse Emina. Ele afirmou que o custo para concentrar minério de ferro compacto, via flotação, fica entre US$ 110 e US$ 120 por tonelada. Já no beneficiamento a seco da New Steel o custo para concentrar o minério compacto fica, em geral, em US$ 65 por tonelada, uma redução de cerca de 50%.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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