Empresários avaliam que acordos poderiam provocar a substituição de produtos asiáticos por brasileiros
Proteção contra a concorrência da China. É isso que muitos empresários buscam em acordos de livre comércio com Estados Unidos e União Europeia. Eles querem que seus produtos entrem com tarifa zero nos grandes mercados e ganhem competitividade em relação aos chineses.
"Os acordos poderiam provocar um desvio de comércio nos mercados europeu e americano, afastando a China e beneficiando o Brasil", explica o consultor da área internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Domingos Mosca.
Ele diz que a lógica é a mesma em um eventual acordo com o México. "Seria uma oportunidade de proteger os mercados brasileiro e mexicano", diz. Segundo o especialista, "são economias com perfil semelhante e ambas alvo da China".
O Mercosul, que garante a entrada dos produtos brasileiros sem pagar tarifa, ajuda a manter a competitividade do Brasil na Argentina, Uruguai e Paraguai. Ainda assim, o País também tem perdido espaço para a China nesses mercados.
EUA, UE e México estão entre os países mais atingidos pela crise e seus mercados devem evoluir pouco nos próximos anos. A lógica dos empresários brasileiros, no entanto, é que a crise não vai durar para sempre e esses países vão voltar a crescer.
Resistências. De acordo com o coordenador científico do Centro Avançado de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni), da Universidade de São Paulo (USP), Amâncio Jorge de Oliveira, não foram apenas as prioridades políticas do governo que atrapalharam os acordos comerciais, mas também resistências no próprio setor privado.
"O governo nunca teve o apoio taxativo do setor privado para fechar acordos de grande impacto comercial", disse Oliveira. "A indústria brasileira avançou muito, mas o sentimento médio ainda é mais protecionista que liberal", completou.
Setores empresariais já começam a se movimentar com receio em relação ao acordo com a União Europeia. Empresas químicas e eletroeletrônicas reclamaram que as negociações estão sendo retomadas com base nas ofertas trocadas pelos dois blocos em 2004.
"A evolução tecnológica é muito rápida. Temos de reavaliar as listas porque podem ter surgido outros produtos sensíveis para a abertura do mercado brasileiro", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
Outra negociação que está paralisada por resistência do setor privado brasileiro é o acordo com os países do Golfo. De acordo com o diretor de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Renato Endres, "seria um desastre para o setor" por causa da alta competitividade desses países.
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Fonte: O Estado de S.Paulo
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