Assim como as petroleiras, as empresas prestadoras de serviços para a indústria de óleo e gás também terão de se reinventar nas próximas décadas. E a Ocyan, ex-Odebrecht Óleo e Gás, já avalia novas oportunidades de negócios ligadas à transição energética, como eólicas offshore, captura de carbono, digitalização, eletrificação de plataformas e hidrogênio, mas sem perder de vista as atividades que desenvolve há décadas no Brasil e no exterior, informa o presidente da companhia, Roberto Bischoff, para quem o ano de 2021 termina com chave de ouro.
Um novo grande contrato foi fechado em dezembro para manutenção de cinco plataformas da Petrobras na bacia de Campos, no total de R$ 180 milhões, resultado de uma recuperação do setor bem mais rápida do que o esperado. No início do ano, o próprio Bischoff previa que o petróleo chegaria ao fim de 2021 cotado a US$ 60 o barril. Mas, com o avanço da vacinação contra a covid-19 e a retomada da economia antes do esperado, o salto foi bem maior. Apesar da alta volatilidade, o Brent ultrapassou os US$ 80 e deve fechar o ano perto dos US$ 75 o barril.
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"Foi um ano ótimo para Ocyan, e esse contrato de manutenção na bacia de Campos é basicamente a coroação de um ano muito bom. Esse cenário geral mundial de recuperação mais rápida do preço do petróleo acelerou um pouco o processo de decisão final de investimento das oil companies", diz Bischoff ao Estadão.
Atuando em perfuração com cinco sondas, em produção com duas FPSO (plataformas flutuantes), além da área de manutenção, a Ocyan aguarda ainda para este ano o resultado de duas licitações da Petrobras. Maior contratante do setor de óleo e gás no Brasil, a Petrobras ainda é muito importante para a Ocyan, mas com os desinvestimentos da estatal, Bischoff tem visto crescer a lista de clientes com as empresas independentes que compraram esses ativos.
"É um nicho que a gente enxerga muito estreito com a nossa estratégia para desenvolver soluções customizadas para esses clientes, que não tem o mesmo nível de experiência de uma Petrobras", avalia. "A sonda Norbe VI, por exemplo, que terminou o contrato em outubro com a Petrobras, já vai direto para a PetroRio no primeiro trimestre de 2022, depois de passar por dois meses de manutenção e atualização", informa.
Todas as áreas da Ocyan tiveram bom desempenho este ano, afirma o executivo, e a previsão é de que 2022 seja ainda melhor. No segmento de perfuração, inclusive, o executivo já percebe a recuperação de tarifas, abatidas pela pandemia, o que tem levado as petroleiras a acelerar contratações de serviços, já prevendo maiores altas ano que vem. Este ano, a Ocyan investiu US$ 120 milhões na atualização da sua frota de sondas, e para 2022, a previsão é de mais US$ 100 milhões.
Somente este ano, a Ocyan contratou 700 pessoas, elevando seu quadro para 2.700. Mais 200 empregados serão contratados para atender o contrato assinado este mês com a Petrobras para a prestação de serviços de construção e montagem nas plataformas P-09, P-26, P-32, P-33 e P-37, todas na bacia de Campos. O contrato entra em vigor no início 2022 e é válido por três anos, podendo ser renovado por mais 640 dias.
Para 2022, o desafio da empresa será a recontratação de duas sondas (ODN 1 e ODN2), cujo contrato termina no terceiro trimestre. Para Bischoff, porém, as perspectivas do Brasil nessa área são positivas, com os grandes volumes produzidos no pré-sal e os fortes investimentos da Petrobras e outras petroleiras.
Nem mesmo a transição energética e o banimento da produção de petróleo do mundo, como querem alguns países para reduzir emissões de gases efeito estufa (GEE), devem afetar o Brasil, na avaliação de Bischoff. Ele diz que pela qualidade do petróleo do pré-sal, de baixo teor de carbono, e o seu custo resiliente a eventuais baixos preços da commodity, o País deve continuar produzindo ainda por muitas décadas.
"Legitimamente, o Brasil vai ganhar o direito de fazer a transição energética mais gradual, porque vai ter produção de petróleo mais sustentável, pela eficiência do processo e pelo custo de produção", prevê, fazendo coro com especialistas que estimam que o País será um dos últimos a reduzir sua produção.
Novos negócios
Mas o executivo observa que, mesmo sendo gradual, essa transição tem de ser acompanhada por todos os envolvidos no setor. E as prestadoras de serviços terão de olhar para o longo prazo e começar a avaliar as opções que terão no futuro. Na Ocyan, essa avaliação já está ocorrendo desde meados deste ano, e até metade de 2022 deve ser definida a estratégia da empresa para acompanhar a migração das petroleiras para negócios mais sustentáveis.
"São empresas com grande competência offshore, e seria muito natural esperar que a energia eólica offshore tenha participação relevante nessas empresas, como já está se vendo com Equinor, Total", avalia. "Podemos fazer a prestação de serviços ou participar de projetos desse tipo, como de captura de carbono e armazenamento de carbono, cavernas nos poços, eletrificação de plataformas, entre outras várias oportunidades", explica, prevendo no futuro um portfólio da Ocyan bem diferente do atual.
A empresa escolheu 10 temas de possíveis novos negócios na transição energética, e assumiu o compromisso de transitar parte dos negócios para energia limpa até 2040.
A digitalização e o reforço da agenda ESG também entraram de vez nos planos da Ocyan, segundo Bischoff. "Hoje já desenvolvemos soluções digitais em parceria com algumas startups do setor, e já estamos inclusive comercializando, como prestação de serviços, pela Ocyan ou parceiros", explica.
O quadro da empresa também vem se diversificando, de acordo com compromissos assumidos pela companhia visando maior equidade de gênero, raça, pessoas com deficiência, e um novo grupo, voltado para a comunidade LGBTQIA+, aberto este mês. A Ocyan criou ainda um programa de estágio para dar oportunidade a pessoas menos favorecidas, que ficaram com 54% das vagas.
"A gente está buscando esse viés de empresa diversa e inclusiva, dando oportunidades para as pessoas mudarem a vida. Deixamos de buscar só pessoas prontas, que trazem um pouco do mesmo, acaba tendo uma empresa do ponto de vista de pensar menos diversa e mais homogênea", afirma o executivo, que pretende levar a Ocyan a ter o tamanho que já teve no passado.
Fonte: Estadão