O cauteloso otimismo que acompanha a estreia de 2013 parece varrer as incertezas deixadas por 2012. Encolhidas no ano passado em razão do ambiente adverso para negócios, as empresas agora anunciam uma retomada nos investimentos: mais de R$ 10 bilhões para ampliação de fábricas, construção de novas unidades e contratações de centenas de funcionários.
O ano que começa será de precaução — mas não como a timidez que marcou 2012. Somente a Celulose Riograndense investirá
R$ 4,9 bilhões na expansão do parque de Guaíba — R$ 300 milhões aportados via fornecedores. O presidente da empresa, Walter Lídio Nunes, antecipou para ZH, na sexta-feira, que 65% serão aplicados este ano — o restante em 2014.
Controlada pela chilena CMPC, a Celulose Riograndense irá produzir 1,75 milhão de toneladas por ano — quase quatro vezes mais que a capacidade atual.
Uma peça necessária à ampliação, um turbogerador, teve compra encaminhada antes do Natal.
Parte do empresariado se manterá reticente, até reduzindo os investimentos, à espera de cenário mais alentador. No entanto, uma consulta de ZH ao bloco de elite gaúcho aponta que a maior parte aposta em 2013. A carteira de empreendimentos da Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento do Estado também indica mudanças.
O diretor executivo da Agenda 2020, Ronald Krummenauer, compartilha o clima de controlada efervescência. Diz que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos devem estimular investimentos. Na avaliação da Agenda 2020 (criada para organizar propostas de interesse comum), a crise nos Estados Unidos e na China está quase superada, o que tende a favorecer as exportações gaúchas.
— Tudo indica que 2013 será melhor que 2012 — diz Krummenauer.
2013 acena com novos investimentos
O ano de 2012 se despediu com suas vacilações, seu ar fatigado e suas contradições — enquanto os empregos, os salários e o consumo se mantiveram em alta, a economia do país desacelerou.
O novo ano herda as cautelas passadas, mas estreia num cenário um pouco mais promissor.
Como se tivessem hibernado em 2012, empresários anunciam investimentos para 2013 — alguns novos, outros que já mofavam nas gavetas à espera de melhores ventos.
Não é que agora prepondere o otimismo, longe disso. Ainda perduram hesitações e dúvidas. Mas 2013 promete ser melhor, ou menos pior. ZH aferiu o ânimo das 30 maiores empresas do Rio Grande do Sul (sobraram 25 na lista, com a exclusão de cinco bancos) para investimentos imediatos, com base em um ranking elaborado pela Revista Amanhã. Das que responderam à consulta, a maior parte apostará mais do que 2012 (confira quadro ao lado).
Economistas vislumbram menos turbulências para 2013. Mas sem euforias. Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), prevê uma "tendência bastante moderada" de crescimento. Entende que há uma predisposição para uma leve melhora, pois os investimentos estão semiparalisados há um ano e meio.
— Pode haver mais espaço para aumentar do que para continuar caindo — diz Castelar.
O economista do Ibre é precavido na análise sobre os rumos do país. Ressalta que parte do legado desfavorável de 2012 persiste: as flutuações do real na comparação com o dólar geram inquietação, os projetos governamentais em infraestrutura (obras em aeroportos, rodovias, hidrelétricas, portos) ainda não ultrapassaram a fase das promessas e a crise na Europa e nos Estados Unidos não foi debelada.
— É normal que empresas esperem um pouco, para ver como fica, antes de lançarem investimentos — pondera Castelar.
Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, do Rio de Janeiro, também acredita que 2013 será um pouco melhor. Avalia que o epicentro do vendaval que sacudiu a Europa está se dissipando. Acha que a China e os países asiáticos retomarão o crescimento. Opina que os Estados Unidos de Obama entrarão nos trilhos.
— Com a redução do grau de incerteza, a economia internacional aponta para um processo de recuperação — deduz Frischtak.
Sobre o Brasil, o consultor define a situação como "moderadamente positiva". Destaca que a "trajetória virtuosa" do emprego, dos salários e do consumo, mais o desempenho favorável do setor de serviços, devem animar a economia. Mas observa que a volta do crescimento a patamares desejáveis dependerá da ousadia do empresariado e das iniciativas do governo.
Cenário econômico
Condições que podem estimular investimentos ou fazer com que empresários adiem planos:
Razões para otimismo
— A economia doméstica do Brasil segue forte: mercado consumidor crescente, baixo desemprego e salários em alta (mais 5,3% em 2012)
— Aumentou a concessão do crédito (mais 16% em 2012) e os juros bancários foram reduzidos
— O governo prorrogou a linha de financiamento para compra de bens de capital, ônibus, caminhões, máquinas e equipamentos pelo Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES
— O PIB dá sinais de aquecimento
— O governo anuncia obras em infraestrutura (estradas, portos, aeroportos e geração de energia), para aumentar a competitividade do país
Motivos para cautela
— A indefinição do valor do real em relação ao dólar, o que pode afetar negócios com o estrangeiro
— A desvalorização do real prejudica a compra de máquinas, equipamentos e as operações de leasing (aluguel de um veículo com opção de compra, prática comum entre as empresas de aviação)
— Os sinais de retomada do crescimento do PIB seriam animadores?
— As promessas do governo para obras de infraestrutura vão acontecer?
— Choverá o suficiente para encher os reservatórios das hidrelétricas, maiores produtoras de energia às indústrias?
— Os Estados Unidos conseguirão resolver, em definitivo, o plano de ajuste fiscal?
Negócios projetados para o Rio Grande do Sul, a maioria com concretização ainda neste ano:
CELULOSE RIOGRANDENSE (Guaíba)
— Ampliação da fábrica de Guaíba, que atualmente produz 450 mil toneladas de celulose por ano. A capacidade aumentará para 1,75 milhão de toneladas anuais.
— R$ 4,9 bilhões (65% serão aplicados em 2013, o restante em 2014) e 7 mil empregos
ALSTOM WIND (Canoas)
— Construção de fábrica, em Canoas, para produzir torres metálicas para energia eólica
— R$ 25 milhões e 75 empregos
AMMANN (Gravataí)
— Construção de fábrica de rolos compactadores e usinas de asfalto
— R$ 15 milhões e 38 empregos
EBR (São José do Norte)
— Construção de estaleiro em São José do Norte
— R$ 1,2 bilhão (em 2013 e 2014) e 4 mil empregos
IESA (Charqueadas)
— Módulos para plataformas
— R$ 100 milhões e mil empregos
IMPSA
— Construção de aerogeradores, ainda sem local definido
— R$ 87,5 milhões e 500 empregos
INTECNIAL (Taquari)
— Expansão das instalações em Taquari
— R$ 30 milhões, ainda sem previsão de geração de empregos
IRMÃOS TAVARES (Dois Lajeados)
— Instalação de uma fábrica de gruas, em Dois Lajeados
— R$ 20 milhões e cem empregos
METASA (Charqueadas)
— Instalação de unidade para construção de elementos estruturais de grandes dimensões a serem transportados por via fluvial ou marítima (segmento de óleo e gás)
— R$ 120 milhões e 600 empregos
MOR (Santa Cruz do Sul)
— Instalação de linha de produção de garrafas térmicas e produtos isotérmicos
— R$ 45 milhões e 160 empregos
MULTPLAST (Osório)
— Transformação de material plástico
— R$ 25,4 milhões e 200 empregos
SHIYAN YUNLIHONG (Camaquã)
— Instalação de fábrica de caminhões leves
— R$ 185 milhões e 455 empregos
STIHL (São Leopoldo)
— Produzir cilindros, utilizados em equipamentos como roçadeiras, para as fábricas da Stihl nos EUA, na Alemanha e na China
— R$ 518,5 milhões
VIDROFORTE (Três Cachoeiras)
— Construção de unidade para produção de vidros de alta tecnologia para o segmento da construção civil
— R$ 20 milhões e 80 empregos
As apostas de companhias gaúchas
Maiores empresas instaladas no Estado (excluindo bancos) e investimentos em 2013. A lista é baseada em ranking elaborado pela Revista Amanhã:
GERDAU
— Construção da nova fábrica com capacidade instalada de 650 mil toneladas anuais, substituindo a planta atual. O investimento também possibilitará melhor qualidade dos produtos, proteção ambiental e redução do consumo de energia
— R$ 460 milhões na usina Riograndense, em Sapucaia do Sul, até 2015
CEEE
— Melhorias nos três segmentos: distribuição, transmissão e geração de energia
— R$ 1,23 bilhão
RANDON
— Com o parque industrial de Caxias do Sul no limite, busca se expandir em outras áreas, como São Paulo e Santa Catarina. Em Araraquara (SP), investirá
R$ 500 milhões em novas instalações, que devem estar funcionando em 2017
— Não informa o valor para 2013. Mas anunciou R$ 2,5 bilhões de investimentos para o ciclo 2012-2016. Do total, R$ 1,1 bilhão serão no RS
LOJAS RENNER
— Remodelações de lojas, aprimoramento logístico e tecnologia. Pretende manter crescimento de 2012, quando foram abertas 25 lojas Renner e Blue Steel,
além de 10 operações Camicado
— R$ 420 milhões. O valor ainda será validado pelo conselho de administração e acionistas
MARCOPOLO
— Investimentos nas operações mundiais, principalmente no Brasil, em modernização, formação de mão de obra, aumento de capacidade e
produtividade e lançamento de produtos
— R$ 200 milhões
RGE
— Melhoria e ampliação da rede de energia elétrica nos 262 municípios da área de concessão. A RGE prioriza obras em áreas rurais. Estão previstas novas subestações e linhas de transmissão, além da substituição de equipamentos
— R$ 250 milhões. Para os próximos três anos, serão R$ 810 milhões
AES SUL
— Modernização da rede elétrica, melhoria na qualidade e no fornecimento de energia
— R$ 271 milhões. No ciclo 2013-2017, será R$ 1,2 bilhão
YARA
— Reforma da unidade misturadora de Porto Alegre, com a automatização das operações de descarga, mistura e ensaque de fertilizantes. A unidade fabril
de Rio Grande também receberá melhorias
— R$ 78 milhões no Rio Grande do Sul
GETNET
— Aquisição de equipamentos para o crescimento em mais 300 mil novos estabelecimentos. Pesquisa e desenvolvimento de novas soluções de tecnologia, produtos e serviços.
— Aquisições em tecnologia de hardware e software R$ 270 milhões
CORSAN
— Para abastecimento de água (R$ 197,76 milhões), esgoto sanitário (R$ 282,29 milhões) e desenvolvimento institucional (R$ 69,22 milhões)
— R$ 549,28 milhões
VONPAR
— No segmento de bebidas, ampliará parque de geladeiras e frota de caminhões. Na parte de alimentos, construção da fábrica da Neugebauer, em Arroio do Meio, a ser inaugurada em maio. Aumentará em 200% a capacidade de produção
— Projeta 20% de crescimento nos investimentos na Vonpar Bebidas e Alimentos. Não informa valores
CAMERA AGROALIMENTOS
— Nova usina de biodiesel em Estrela, com capacidade de 650 mil litros dia. Somando-se à atual em Ijuí, produzirá 1,3 milhão de litros por dia na extração de soja
— R$ 45 milhões
BIANCHINI
— Armazenagem, logística e máquinas
— R$ 39 milhões
COLOMBO
— Abertura e revitalização de lojas, logística, tecnologia e recursos humanos
— R$ 15,2 milhões
INNOVA
— Projetos de infraestrutura e aumento da produção
— Cerca de R$ 45 milhões
DIMED/ PANVEL
— Principal investimento será finalizar sede, em Eldorado do Sul, aplicando R$ 60 milhões na área que deverá ocupar o centro administrativo e de distribuição da empresa (uma das maiores da América Latina). Mais R$ 25 milhões serão aplicados em tecnologia de informação, logística e abertura de novas lojas.
— R$ 85 milhões
PETROPAR
— Início de operação da nova planta em Lima (Peru), da nova linha de produção em Gravataí e implantação de nova unidade em Teresina (PI). Mais investimentos na unidade de Venâncio Aires
— R$ 320 milhões em projetos em andamento (R$ 50 milhões no RS)
Fonte: ZERO HORA/Nilson Mariano
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