O avanço da pandemia do coronavírus resultará em uma queda de, no mínimo, US$ 18,6 bilhões nas exportações brasileiras em 2020. A projeção, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), representa um recuo de 8,3% nos valores vendidos ao exterior no ano passado.
O estudo inédito, repassado ao Estadão/Broadcast, considera que uma retração de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial devido ao avanço da doença, o que provocaria uma redução de 56 milhões de toneladas nos embarques de produtos brasileiro. O montante representa queda de 11% na comparação com o ano passado.
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Importações
“A América Latina, grande destino dos nossos produtos manufaturados, poderá ter, nas próximas semanas, um aumento maior nas medidas para contenção do vírus, o que poderá vir a afetar ainda mais as exportações de manufaturas do Brasil”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.
Ele ressalta que as previsões são baseadas em um cenário de recessão ampla e não considera a performance de países específicos, já que essas projeções ainda estão sendo revisadas.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a redução nas exportações poderá ser ainda maior, principalmente por causa da queda no preço do petróleo.
Outro produto importante da pauta exportadora brasileira que vem sofrendo os impactos da retração na demanda mundial é o minério de ferro. Castro lembra que os embarques do produto já caíram pela metade nos dois primeiros meses do ano, mas que o preço vem se mantendo em patamar elevado. Entre os principais itens exportados, a soja vem apresentando embarques ainda normais porque a safra está no início.
“A única certeza é que as exportações vão cair. O quanto, ainda não sabemos. Não conseguimos saber nem como estaremos daqui a dois meses”, pondera.
A expectativa é de recuo também nas importações, que devem diminuir com o mercado interno desaquecido pelos impactos da covid-19.
Restrições na logística
Abijaodi ressalta que, além da queda na demanda mundial, a pandemia tem provocado problemas logísticos, com medidas restritivas a cargas marítimas, rodoviárias e deslocamento de pessoas, o que pode aprofundar ainda mais a crise nos negócios.
“Temos muitos navios que estão na China e não conseguem sair. Ainda não temos um problema de oferta, a questão é o produto sair do produtor e chegar no destino”, completa Castro.
Para o diretor da CNI, o real desvalorizado frente ao dólar representa uma janela a ser aproveitada pelos exportadores, principalmente daqueles setores com cadeias de produção mais longas e envolvendo pequenas empresas, como alimentos e bebidas, calçados, joias, móveis e vestuário. “Mas o câmbio é um elemento temporário de melhora da competitividade”, afirmou.
A confederação defende que sejam adotadas medidas para sustentar e ampliar as exportações na retomada da economia pós-crise, aumentando e preservando a competitividade em setores intensivos em tecnologia, como aeronáutico, automotivo, eletroeletrônicos e de máquinas e equipamentos.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex) preparou estudos e documentos para auxiliar os exportadores frente à pandemia. Uma cartilha foi preparada com orientações, entre elas a de viabilizar o trabalho remoto dos empregados em cada empresa e de elaborar um plano de ação para um possível aumento de reclamação dos clientes.
A agência orienta ainda que os empresários acompanhem mudanças do mercado doméstico e internacional, como no padrão de consumo, oferta de crédito e mudanças regulatórias e que estejam prontos para avançar rapidamente caso sejam identificadas “oportunidades em potencial”. “Mapeie possíveis cenários e desenvolva planos de ação para cada um deles”, aconselha.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 224 bilhões e importou US$ 177,3 bilhões, resultando em um saldo positivo de US$ 46,7 bilhões.
Neste ano, até o dia 22 de março, as exportações somam US$ 44,1 bilhões e as importações US$ 40 bilhões, saldo de US$ 4,1 bilhões. As exportações em 2020 apresentam uma queda de 6,2%, enquanto as importações avançaram 4,8%.
Fonte: Estadão