A gestora acredita que uma possível “Blue Wave” (“onda azul”) — cenário que consistiria no controle democrata da Câmara dos Deputados e do Senado — poderia acelerar uma transição sustentável
Após a vantagem do candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, ter ficado maior nas pesquisas de intenção de voto, instituições financeiras começam a avaliar o que uma mudança de comando na Casa Branca poderia significar para a economia e para os ativos financeiros do país. Para a BlackRock, as implicações devem ser mais sentidas em três frentes: energia, tecnologia e saúde.
Com relação a matrizes energéticas, a gestora acredita que uma possível “Blue Wave” (“onda azul”) — cenário que consistiria no controle democrata da Câmara dos Deputados e do Senado, sob a presidência de Biden — poderia acelerar uma transição sustentável, que já vem ocorrendo nos últimos anos.
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Segundo aponta a BlackRock, a participação da eletricidade gerada por fontes renováveis tem crescido constantemente nos EUA — de 10% em 2010 para 17% em 2019 —, de acordo com a Administração de Informação de Energia (EIA, da sigla em inglês) dos EUA.
“Uma vitória ampla democrata poderia acelerar a descarbonização do setor de energia, ao estender e expandir os créditos fiscais para fontes de energia renováveis e outras fontes industriais de carbono zero, como o sequestro de carbono”, afirmam os analistas das BlackRock Investment Institute, Mike Pyle, Elga Bartsch e Scott Thiel.
De acordo com a gestora, a “onda azul” provavelmente levaria a um grande impulso no investimento público em energia limpa, enquanto que, com um Congresso dividido, os gastos fiscais seriam significativamente mais restritos.
Os analistas ponderam que o endurecimento das regras de exploração, produção e transporte de petróleo e gás, além de uma repressão às licenças de perfuração, poderiam restringir a oferta de óleo de xisto nos EUA e empurrar os preços do petróleo para cima, especialmente à medida que a demanda se recuperar após a pandemia.
“No entanto, qualquer aumento nos preços do petróleo pode não ser sustentado, dada a perspectiva de uma mudança acelerada para energia limpa no setor de transporte”, afirmam os estrategistas. “Vemos oportunidades nos mercados privados de energias renováveis, infraestrutura digital e transporte, independentemente do resultado da eleição, dada a mudança estrutural para a sustentabilidade”, concluem.
Tecnologia
Para o setor de tecnologia, um governo Biden provavelmente traria revisões antitruste mais duras, inclusive em torno de questões como salários e poder das plataformas. Reformas fiscais também poderiam pesar particularmente sobre os gigantes globais da tecnologia, segundo a BlackRock.
“Vemos os riscos regulatórios enfrentados pelas gigantes de tecnologia como administráveis, em geral, visto que muitas já se ajustaram às regras de privacidade de dados mais rígidas da Europa”, afirmam.
A gestora crê que o potencial de liderança dentro do setor possa se estender a um conjunto mais amplo de empresas de diferentes categorias, o que inclui companhias de conectividade 5G.
“Empresas de software e semicondutores também podem assumir a dianteira, já que enfrentam menos riscos regulatórios e desfrutam de tendências de crescimento de longo prazo. Outras empresas de tecnologia também podem se beneficiar da transição para energia limpa e de uma mudança em direção a uma maior eficiência energética”, concluem.
Saúde
Por fim, de maneira diferente do que ocorreu nos primeiros anos da administração Obama e Trump, quando a reforma do sistema de saúde era o principal tema da campanha eleitoral, a BlackRock vê um cenário mais estável no segmento de saúde no primeiro ano de um possível mandato de Biden.
De acordo com a gestora, a resposta à pandemia, a recuperação econômica e as iniciativas relacionadas ao clima provavelmente terão prioridade em 2021.
No entanto, há riscos para a previsão. “A Suprema Corte deve julgar um caso sobre o ‘Affordable Care Act’ uma semana após a eleição, potencialmente empurrando o debate sobre saúde de volta para o primeiro plano”, dizem os analistas da instituição.
“Medidas para conter o aumento dos preços dos medicamentos são um foco potencial, independentemente do resultado da eleição. Ainda assim, esperamos apenas uma ação modesta contra o pano de fundo da pandemia, já que os fabricantes de medicamentos estão desempenhando um papel importante no desenvolvimento de vacinas e na resposta à covid-19”, concluem.
A BlackRock vê as melhores oportunidades no setor de saúde em empresas de dispositivos médicos e de diagnósticos, além de algumas farmacêuticas de grande capitalização na Europa.
Fonte: Valor