De Brasília - As medidas de restrição ao crédito adotadas pelo Banco Central provocarão um arrefecimento maior da atividade industrial no início de 2011, superior ao inicialmente previsto pelo setor.
O anúncio das mudanças no compulsório, na exigência de capital mínimo para empréstimo a pessoas físicas e o fim de títulos especiais criados durante a crise surpreendeu os industriais, que interpretaram a atuação da autoridade monetária como um sinal de elevação da taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
A avaliação é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apresentou ontem os indicadores dessazonalizados referentes a outubro em relação a setembro. Sob essa base de comparação houve redução de 0,7% no faturamento, ligeira alta de 0,1% nas horas trabalhadas na produção e estabilidade no emprego, numa indicação de acomodação frente ao ritmo aquecido do primeiro semestre.
A CNI, que projetava para o primeiro trimestre de 2011 um enfraquecimento natural da atividade industrial em decorrência da acomodação no segundo semestre e da base de comparação elevada que configura o primeiro semestre de 2010, calcula as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) industrial de 2011 com uma taxa mais modesta que a esperada. Para este ano está prevista alta de 12,3%. Mas também esse percentual poderá ser alterado a depender do PIB do terceiro trimestre que será divulgado na quinta-feira.
Após as medidas adotadas pelo BC, os industriais projetam redução da demanda, principalmente de bens duráveis, dificuldade de acesso a financiamento por parte dos segmentos mais dependentes de crédito e encarecimento das taxas de empréstimos a pessoas físicas e jurídicas. "As medidas causarão um arrefecimento mais intenso no início do ano", afirmou o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco.
Nesse cenário, ele vê riscos de que uma parte ainda maior da demanda interna passe a ser atendida pelas importações. "Essas medidas afetam as empresas domésticas porque são as que mais usam as fontes de financiamento do mercado interno", acrescentou.
Em outubro, os indicadores industriais voltaram a refletir acomodação. A retração de 0,7% no faturamento em outubro interrompeu três meses seguidos de alta. A despeito desse recuo, a CNI informa que os aumentos ao longo do ano já garantem um acréscimo de 9,3% no faturamento em 2010.
As horas trabalhadas, com ligeira alta de 0,1%, registraram ampliação de 6,8% no ano. O emprego, que se manteve estável, é outro indicador com bons resultados. Caso não haja elevação nos dois últimos meses do ano, a alta anual será de 5,1%.
O uso da capacidade instalada (UCI) no indicador dessazonalizado passou de 82% em setembro para 82,2% em outubro. A CNI não vê pressão sobre a utilização do parque fabril. O Banco Central, que monitora a UCI juntamente com outros indicadores econômicos na definição dos juros, não concorda.
Em avaliação expressa na última ata do Copom, o BC analisa que "há evidência de que as taxas da UCI se acomodaram em patamares elevados, e de que a manutenção da reduzida margem de ociosidade é resultado da expansão recente da atividade econômica, ainda não compensada totalmente pela maturação dos investimentos realizados e em curso".
(Fonte: Valor Econômico/LO)
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