De janeiro a agosto o Brasil teve superávit de US$ 19,6 bilhões na balança comercial, com novo recorde do resultado médio diário (US$ 118,8 milhões). A expectativa de especialistas é de que as exportações continuem crescendo e possibilitem geração de saldos positivos ao fim do ano, embora o ritmo dos embarques diminua em razão do recuo no preço do petróleo e do fim da safra da soja. Os dois itens são, ao lado do minério de ferro, os principais produtos da pauta brasileira de exportação.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a desaceleração na economia americana e na dos países europeus não deve se refletir na balança ainda este ano. Ele lembra que os embarques atuais foram contratados em abril ou maio e que a nova crise começará a ter maior efeito daqui a três ou quatro meses, sem grande alteração nas exportações de 2011.
Para o economista Rafael Bistafa, da Rosenberg, a desaceleração deve acontecer em razão de uma acomodação nos preços das commodities exportadas pelo Brasil. Ele afirma, porém, que apesar da desaceleração ou da queda de cotação de alguns itens, as commodities permanecem com preços em patamares elevados.
O ritmo de crescimento dos embarques, acredita Castro, deve sofrer redução também em função da tendência de menor elevação na exportação de petróleo, não somente em valores como em volume. Ele diz que os preços já mostram tendência de queda. Em junho, afirma o dirigente da AEB, o petróleo custava US$ 748 a tonelada, mas em agosto houve queda para US$ 722. Além disso, acredita, o volume de exportação do óleo deve ser afetado a partir de outubro pela redução da participação do etanol na gasolina. “Isso fará com que a demanda interna aumente e, com isso, haverá menor excedente exportável de petróleo.”
Outra variável importante, segundo Castro, fica por conta do complexo soja, cujos embarques devem perder força já a partir de setembro, em função do fim da safra. Até agosto, diz, foram exportados cerca de 25,5 milhões de toneladas da soja em grão. A estimativa é de que o embarque total em 2011 chegue perto dos 30 milhões. “Ou seja, a maior parte da soja já foi exportada, o que significa que sua contribuição para puxar as exportações será reduzida.”
De janeiro a agosto os embarques de soja em grão somaram US$ 12,6 bilhões, com crescimento de 31,3% no valor médio embarcado no período, na comparação com os mesmos meses do ano passado. Com participação de 7,5% no valor total embarcado, a soja em grão é o terceiro item mais importante na pauta brasileira de exportação. O petróleo bruto é o segundo item, com embarque de US$ 14,4 bilhões nos oito primeiros meses do ano, com alta de 43,5% em relação ao mesmo período do ano passado. O minério de ferro continua sendo o item mais importante, com valor exportado de US$ 26,6 bilhões no mesmo período.
Com pouco impacto da crise no saldo comercial do Brasil em 2011, os especialistas preveem superávit este ano. Bistafa diz que a Rosenberg estima saldo de US$ 23 bilhões. Castro, da AEB, calcula US$ 27 bilhões. A incógnita, diz Castro, fica para 2012. “É difícil fazer previsões. Gerou-se um clima de expectativa com o que foi interpretado como duas sinalizações distintas do governo em relação à economia no próximo ano.” Ele se refere ao envio da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que prevê crescimento de 5% para 2010. “Ao mesmo tempo houve corte da taxa de juros de 0,5%. Ou seja, parece que há um cenário ruim para o próximo ano.”
O dirigente da AEB não descarta a possibilidade de déficit na balança comercial em 2012. Se o preço do dólar ficar entre R$ 1,60 e R$ 1,70 e o governo mantiver o ritmo de financiamento interno, diz, a demanda interna irá continuar e, com isso, as importações continuarão crescendo em ritmo parecido. “Ano que vem é um ano eleitoral e não há interesse nenhum do governo em promover uma desaceleração econômica, e os mecanismos de defesa comercial que o Brasil vem adotando não são capazes de barrar importações resultantes de uma demanda aquecida.”
Ano que vem, porém, diz o executivo da AEB, é bem provável que haja uma repercussão maior da crise nas exportações brasileiras. A desaceleração nas economias americana e europeia pode levar a uma queda no preço do minério de ferro, com impacto no valor dos embarques brasileiros. “Há ainda uma dúvida em relação à China e ao efeito que essa crise terá sobre ela, o que também deve se refletir no preço das commodities exportadas pelo Brasil.”
Bistafa, da Rosenberg, está mais otimista. Por enquanto, diz ele, a consultoria não acredita que haverá impacto tão grande nos preços das commodities, mesmo em 2012. Ele acredita que as importações devem manter ritmo forte, em razão de expectativa de dólar barato e de um crescimento doméstico relativamente mais forte que o do resto do mundo. A estimativa até agora da consultoria, diz Bistafa, é de superávit de US$ 19 bilhões para o ano que vem.
Fonte: Valor
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