O presidente global da petroleira norueguesa Equinor, Anders Opedal, vê as discussões sobre a transição para uma economia de baixo carbono mais equilibradas depois que os debates passaram a incluir também os temas da segurança energética e dos preços de energia. “Governos e empresas precisam encontrar soluções que encaixem esses fatores”, disse ao ser perguntado sobre as principais conclusões da Offshore Nothern Seas (ONS), maior evento sobre energia da Europa, realizado, na semana passada, na Noruega.
A conferência ocorreu na cidade de Stavanger, sede da Equinor, onde Opedal conversou com o Valor. O executivo, que foi presidente da Equinor Brasil antes de se tornar CEO global em 2020, disse que vê o país como um “gigante energético”, com um papel importante na descarbonização mundial. “O mundo vai precisar do petróleo que o Brasil pode produzir. Ainda há uma demanda crescente, é necessária mais energia para garantir o crescimento econômico de muitos países”, diz.
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O Brasil é hoje o principal mercado da Equinor fora da Noruega e corresponde a 30% do seu portfólio internacional. Segundo Opedal, a empresa está comprometida com o país, independentemente dos resultados das eleições presidenciais deste ano. Isso ocorre, diz, por causa do histórico do país de respeito aos contratos.
“Para nós, como investidores, é importante ter previsibilidade na regulação, tributação e nos termos e condições dos contratos. O Brasil é um país que tem feito isso e essa é uma das razões pelas quais consideramos um país importante, onde pretendemos investir mais, tanto em óleo e gás quanto possivelmente em renováveis”, diz.
O executivo norueguês lembra de uma operação que aprovou quando ainda liderava a Equinor Brasil e que entra em operação este mês: a substituição do uso do diesel pelo gás nas operações do campo de Peregrino, na Bacia de Campos.
O campo, o maior da Equinor fora da Noruega, recebeu uma terceira plataforma, que vai aumentar a produção da empresa. Em março de 2020, antes da interrupção das operações em Peregrino para as adaptações, a companhia era a segunda maior operadora do país, com média de 60,2 mil barris equivalentes por dia (boe/dia), atrás da Petrobras.
Também na Bacia de Campos, a norueguesa detém 25% de participação no campo de Roncador, sendo os 75% restantes da Petrobras. A Equinor prevê iniciar em 2024 as operações no primeiro campo que vai operar no pré-sal, a área de Bacalhau, na Bacia de Santos.
O portfólio da Equinor tem ainda uma descoberta de gás na Bacia de Campos, na área de Pão de Açúcar. Opedal aponta que a empresa está mais próxima de uma decisão sobre o investimento na área depois das alterações regulatórias no setor de gás no país. “Foi difícil conseguir os preços certos para avançar nesse projeto, mas estamos mais otimistas. Queremos primeiro garantir uma boa execução de Bacalhau antes de partir para o próximo projeto.”
O executivo adianta que o desenvolvimento de Pão de Açúcar deve ser similar ao de Bacalhau, com tecnologia para reduzir emissões. “Estamos focados em produzir óleo e gás com baixo teor de carbono. Mesmo que o país ainda não tenha uma taxação de carbono, nos preparamos para isso.”
Para ele, o projeto de Pão de Açúcar pode ter papel importante no suprimento de gás no mercado brasileiro. Opedal lembra que o país importa gás natural liquefeito (GNL), mas que o mercado mudou depois que a Europa ampliou as compras desse produto, efeito colateral da redução do suprimento de gás russo. “Há maior competição por GNL no mundo, então a produção de gás doméstica [no Brasil] vai ser muito importante de agora em diante.”
Sobre novas atividades exploratórias no Brasil, o executivo afirma que a Equinor tem interesse na aquisição de blocos em leilões, mas ressalva que a empresa adotou a postura global de focar em regiões próximas àquelas que opera e sair de novas fronteiras, áreas pouco exploradas. “Nossa estratégia é focar nas áreas em que estamos. Atuamos assim na Noruega e, por isso, conseguimos focar em recuperação avançada, tirar o máximo de cada reservatório; além de procurar por jazidas menores para conectá-las a uma plataforma existente. Vemos um grande potencial para isso no Brasil e já comunicamos ao governo e à ANP [Agência Nacional de Petróleo]”, diz.
Opedal destaca que a Equinor tem planos de investir US$ 26 bilhões no Brasil no período de 2009 a 2030, montante que pode aumentar caso outras oportunidades surjam. A ampliação do portfólio no país pode incluir renováveis.
O primeiro projeto no segmento de geração solar da Equinor no mundo foi a planta de Apodi (CE), que entrou em operação em 2018. O projeto, de 162 megawatts (MW), tem como parceiras Scatec, Z2 Power, Pacto Energia e Kroma Energia. O consórcio tem um segundo parque solar em construção, em Pernambuco. “Estamos em solar e, sobre a eólica terrestre, estamos curiosos. Queremos investir nos projetos certos para fornecer mais energia ao Brasil, mas precisamos dos retornos certos”, diz.
A companhia norueguesa tem um acordo com a Petrobras para estudar a viabilidade de construir uma usina de geração eólica marítima na Bacia de Campos. A Equinor atua nesse segmento há mais de uma década, na Europa e na América do Norte, e tem planos de expansão na Noruega, onde quer participar de um leilão em 2023.
Opedal afirma que é importante que o Brasil leve em consideração, enquanto discute as regulações para as eólicas marítimas, questões sobre os diferentes usos do oceano, como as atividades pesqueiras e a preservação da biodiversidade. Para ele, a concessão de áreas para a construção de eólicas no mar deve ser baseada em critérios de qualidade, por causa dos altos custos desses investimentos.
“É preciso garantir que haja não apenas uma competição pelo maior preço pago num leilão, mas que essa competição ocorra entre as empresas que de fato serão capazes de desenvolver o projeto, além de rapidez nas aprovações para que se possa começar a construir o parque rapidamente", diz.
Opedal disse que, por enquanto, a Equinor não estuda projetos de reflorestamento e captura e armazenagem de carbono no Brasil. A companhia faz parte do consórcio Nothern Lights, com a Shell e a TotalEnergies. O grupo anunciou, na ONS, uma parceria para o transporte do carbono emitido em uma fábrica de fertilizantes da Yara na Holanda, com armazenamento no Mar do Norte, no primeiro acordo transfronteiriço do mundo nesse segmento. “Nosso foco é construir essa nova cadeia de valor e garantir desenvolvimento tecnológico, ganho de escala e redução no custo”, afirma o executivo.
Para o executivo, o armazenamento de carbono é importante para setores de difícil abatimento de emissões. “Entendemos que o óleo e o gás também vão ser necessários na transição energética. O mundo ainda precisa de ganho de escala em renováveis”. Na visão dele, a decisão europeia de reduzir a dependência da Rússia tornou a transição ainda mais complexa. “Quanto mais eu penso, mais percebo como é difícil. Vai ser necessária força de vontade e pensamento de longo prazo.”
Fonte: Valor