Buscando pegar carona no superávit de US$ 11,6 bilhões registrados no ano passado na balança comercial com o Brasil, empresários da Flórida iniciaram ontem, em São Paulo, a Expo-Florida 2011, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para tentar "vender o peixe" ao investidor brasileiro, pequenas e médias empresas do Estado americano instalaram seus estandes na sede da entidade.
Animados com o crescimento do comércio com o país, e de olho nas condições da economia e do mercado interno brasileiro, bancos e empresas do setores imobiliário, aeronáutico, de componentes eletrônicos e equipamentos médicos, entre outras, querem estabelecer ou ampliar laços comerciais.
No ano passado, a Flórida (quarta maior economia dos EUA, com PIB de US$ 770 bilhões em 2010) vendeu ao Brasil US$ 13,7 bilhões, de acordo com levantamento da Florida Enterprise, empresa público-privada que auxilia os americanos a fazer negócios em solo brasileiro. Em contrapartida, o Brasil vendeu US$ 2,1 bilhões em produtos ao Estado. A previsão para este ano é que a corrente de comércio aumente 25% em relação a 2010. Nesse comércio, imperam as grandes empresas de setores de alta tecnologia, como o de componentes aeronáuticos. Mas agora, os pequenos querem uma "carona";
O otimismo com o mercado brasileiro atingiu Bill Rutherford, presidente da Clemon's, Rutherford & Associates, que visita o país pela primeira vez. A intenção do executivo é vender projetos arquitetônicos para hospitais, escolas e presídios. Apesar de não revelar o valor dos negócios, Rutherford afirma que está conversando com cinco empresas nacionais para fornecer o serviço. A expectativa é que os acordos cresçam nos próximos anos. "O Brasil está grande em tudo e, pelo que sei, há atrasos em obras relacionadas à Copa e à Olimpíada. Estamos aqui para o que necessitarem."
Com atuação no segmento de produtos de luxo, Phillip Greenman, vice-presidente da Bellingham Marine, quer construir marinas no Brasil. Também em sua primeira viagem, diz que a demanda por infraestrutura traz boas perspectivas ao seu negócio. "A produção aqui é de 3 mil barcos por ano. Faltam marinas, então devemos fechar contratos para construir seis delas."
Outro que sonha alto é Luis Riano, diretor de vendas para a América Latina da Aeroflex. Depois de vender US$ 1 milhão em equipamentos eletrônicos para hospitais em 2010, a empresa espera dobrar a receita neste ano e ampliar a atuação em direção à indústria de petróleo e navegação. Para o executivo colombiano, há espaço de sobra para crescer no Brasil. "Nós atendemos a uma demanda grande, que não é preenchida pela indústria nacional."
O otimismo dos vendedores da Flórida é explicado pelos números de 2011. De janeiro a julho, as exportações ao Brasil atingiram US$ 8,9 bilhões, número 19,7% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Em sentido contrário, as vendas brasileiras para o Estado americano caíram 2,7% até julho, ficando em US$ 1,1 bilhão.
Além de serviços e produtos industriais de tecnologia de ponta, os americanos registram expressiva entrada de capital via turismo e compra de imóveis. De acordo com levantamento da National Association of Realtors (entidade que representa as imobiliárias americanas), 20% dos compradores de casas na Flórida, no ano passado, eram estrangeiros. Nesse grupo, 3% eram brasileiros. Neste ano, esse número subiu para 8%.
Em média, um imóvel na Flórida sai por US$ 135 mil, segundo John Sebree, da Florida Realtors. O real valorizado e a crise no mercado imobiliário americano atraíram os brasileiros, que são vistos como bons clientes. "Eles preferem Miami e a região de Orlando, e 85% pagam em dinheiro, à vista. Por isso, conseguem um preço melhor", afirma Sebree.
De olho tanto na necessidade de financiamento de empresas americanas interessadas em fazer negócios no Brasil quanto brasileiros que buscam comprar casas na Flórida, o banco português Espírito Santo também está na feira. Raul Vidal, vice-presidente da área imobiliária do banco, afirma que os empréstimos para brasileiros são, em média, de US$ 550 mil. Vidal, que é cubano e vive na Flórida há 20 anos, elogia os clientes do Brasil. "A taxa dos EUA é muito mais atrativa do que as dos bancos brasileiros, então eles nunca deram calote. São bons pagadores."
Excluído o comércio com a Flórida, o Brasil registrou superávit na balança comercial com os EUA no ano passado: US$ 17,2 bilhões em exportações e US$ 14,3 bilhões em importações, com saldo positivo de US$ 3,1 bilhões. No entanto, contando o Estado, a balança, em 2010, foi deficitária em US$ 7,7 bilhões para o Brasil.
Apostando no comércio com o Brasil como fonte de geração de empregos em seu território, Rick Scott, governador da Flórida, foi o responsável pela abertura da feira na Fiesp. No que depender dele, a relação entre as partes vai se intensificar. "O Brasil é o pais mais importante para a Flórida."
Fonte: Valor Econômico/Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
PUBLICIDADE