Desenvolvido na Esalq, estudo aponta cenário de concentração após fusões e desestatização na última década
O mercado siderúrgico é oligopolizado no mundo inteiro, incluindo o Brasil. As inúmeras fusões e aquisições ocorridas, principalmente após a desestatização do setor, contribuíram para a concentração. No país, essa atividade apresentou alto índice de concentração, principalmente no mercado de vergalhões, no qual apenas três grupos empresariais controlam o mercado. “Em uma atividade produtiva altamente concentrada, as firmas podem exercer poder de mercado e desta forma há perdas econômicas para a sociedade”, afirma o professor Janderson Reis, que defendeu sua tese no programa de pós-graduação em Economia Aplicada, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
Orientado pela professora Marcia Azanha de Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES), o trabalho mensurou a concentração do mercado siderúrgico brasileiro e calcular a perda de bem-estar ocasionada por este processo. Na prática, a pesquisa estudou áreas específicas do setor siderúrgico, como o de aço bruto, laminados, vergalhões e ferro-gusa. “No Brasil, há pouca importação e poucos produtos substitutos do aço, fatores que sugerem que a elasticidade-preço da demanda deste produto deva ser baixa. Além disso, nem todas as siderúrgicas produzem todos os tipos de aço, logo, sugerimos que a rivalidade entre os detentores do mercado não seja grande. Tais características corroboram com a hipótese de que essas formas não somente tenham elevado poder de mercado, mas também a possibilidade de exercê-lo. Se isso ocorre, há perda de bem estar econômico”, avalia Janderson.
No início, o pesquisador coletou informações a respeito do setor nos anuários do Instituto Aço Brasil, além de verificar relatórios anuais dos grupos siderúrgicos brasileiros. Houve troca de informações e experiências com pesquisadores da Universidade de Illinois (EUA). “Para o cálculo da perda de bem-estar, calculamos a elasticidade-preço da demanda nos diferentes mercados estudados. As elasticidades-preços são fundamentais para o cálculo da perda de bem-estar, à medida que quanto menor o valor da elasticidade maior o peso-morto ou perda de bem-estar”, explica o autor do trabalho. O estudo, que teve financiamento da Capes e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), instituição onde Janderson atua como docente, apresentou também o cálculo do peso morto (PM), que quantifica a perda monetária da sociedade devido ao exercício do poder de mercado de uma empresa ou de uma indústria.
Os resultados mostraram que o mercado siderúrgico brasileiro é, de fato, muito concentrado e há o exercício do poder de mercado por parte das firmas participantes em todas as ramificações analisadas, ocasionando perda de bem-estar para sociedade brasileira. De forma específica, o mercado de produtos laminados e em especial o de vergalhões foram os que apresentaram os mais elevados valores de peso morto. Somente em 2008, o peso morto estimado variou de R$ 6,7 bilhões a R$ 190 milhões, quando consideradas as vendas externas, sendo o maior valor no mercado de laminados e o menor valor no mercado de ferro-gusa. Considerando apenas o mercado interno, a variação é de R$ 5,5 bilhões (laminados) a R$ 104 milhões (ferro-gusa). Os valores referentes ao aço bruto são de suma importância à medida que revelam o peso morto da indústria siderúrgica como um todo (exceto o mercado de ferro-gusa). Em 2008, a perda foi de cerca de R$ 6,4 bilhões, que representou cerca de 0,22% do PIB do país.
“Concluímos que a indústria siderúrgica, nos mais diversos mercados, tem exercido poder de mercado nos anos recentes, ocasionando perda de bem-estar para sociedade brasileira. Espera-se que este estudo, ao apresentar os valores de perda de bem-estar, possa contribuir para a análise ou para elaboração de políticas públicas relacionadas ao setor em questão”, finaliza o pesquisador.
Fonte:A Tribuna
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