Um estudo coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) encontrou 1.200 toneladas de trigo contaminado por um tipo de inseticida dentro de um silo público, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná.
A pesquisa foi divulgada em novembro deste ano. De acordo com a Embrapa, durante a análise de silos monitorados foi detectada a presença de fosfato de alumínio - pesticida usado para controle de insetos e pragas - em um silo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
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Conforme a Embrapa, os inseticidas não se degradaram no prazo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar da constatação, a pesquisadora Casiane Tibola, da Embrapa Trigo, explica que o produto não traria problemas caso fosse vendido para a indústria.
"Ele é recomendado no pós-colheita e não mantém resíduo nos grãos. Não teria problema para a população, porque ele é um inseticida que volatiliza", explicou.
A pesquisa ainda encontrou herbicida glifosato em um silo de Marau (RS) com 1.600 toneladas de trigo. O cereal analisado veio de Pato Branco, no sudoeste do Paraná.
A empresa acredita que o agrotóxico pode ter sido aplicado durante a dessecação pré-colheita. O processo serve para o controle de ervas daninhas e pragas que podem gerar prejuízos na safra antes da colheita.
"O herbicida glifosato é um dos agrotóxicos mais utilizados no mundo. No Brasil, o principal uso é na soja resistente a herbicida. O seu uso em dessecação pré-colheita no trigo, e em outras culturas, não é autorizado no Brasil", explicou.
Casiane disse que antes de ser enviado para indústria, o trigo passa por avaliações de indicadores de qualidade e contaminante. Caso seja constatada alguma irregularidade, o cereal não é comercializado.
"O trigo armazenado será reavaliado quanto aos níveis de resíduos agrotóxicos de acordo com informações divulgadas pela Conab. Se for registrado resíduos de glifosato pode ser recomendada o descarte deste lote de trigo", disse.
A pesquisa
Quinze responsáveis técnicos participaram do estudo que foi financiado pela Conab e coordenado pela Embrapa Trigo. O objetivo do projeto era diagnosticar perdas quantitativas e qualitativas no armazenamento de trigo no país.
A Universidade de Passo Fundo, o Instituto Federal Farroupilha, a Universidade Estadual de Campinas e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/Ascar-RS) também colaboraram no projeto.
"Havia uma lacuna em relação a estudos avaliando o armazenamento de trigo, em nível comercial, no Brasil. O estudo gerou um diagnóstico do manejo realizado no armazenamento e o seu impacto na manutenção da qualidade do trigo", afirmou Casiane.
Os pesquisadores avaliaram 80 parâmetros de qualidade e contaminantes ao longo de 11 meses de armazenamento do trigo, em amostras da safra de 2017 adquirida pela Conab.
"Estas informações poderão orientar ações de capacitação de técnicos, produtores e operários envolvidos no setor de grãos no que tange ao momento ideal da colheita, operações na secagem e no armazenamento", disse a pesquisadora.
Pesquisadores avaliaram parâmetros de qualidade e contaminantes ao longo de 11 meses de armazenamento do trigo — Foto: Reprodução/RBS TVPesquisadores avaliaram parâmetros de qualidade e contaminantes ao longo de 11 meses de armazenamento do trigo — Foto: Reprodução/RBS TV
Pesquisadores avaliaram parâmetros de qualidade e contaminantes ao longo de 11 meses de armazenamento do trigo — Foto: Reprodução/RBS TV
Fiscalização
A Conab informou que procedeu junto com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) novas análises dos grãos para definir para onde ele será destinado.
A companhia reforçou que este é o procedimento normal em amostras de estoques governamentais que apontam índices fora do padrão. A Conab disse também que caso seja confirmada a presença do glifosato, o produto será vedado ao consumo humano.
O Ministério da Agricultura disse que monitora grãos e outros produtos por meio do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes.
Segundo o Mapa, quando são detectados níveis de resíduos de moléculas de agrotóxicos acima do limite permitido, o proprietário é proibido de comercializar o produto, além de receber multa no valor de R$ 5 mil, acrescida de 400% do valor comercial do produto irregular.
No caso da pesquisa, o Ministério da Agricultura disse que não houve autuação, uma vez que não foi uma ação de fiscalização. O Mapa informou que intensificou ações de fiscalização sobre resíduos e contaminantes de trigo no plano de fiscalização do Ministério
Fonte: G1