A escolha de um ocupante para a nova diretoria corporativa que será criada na Petrobras deve ficar em banho-maria. Primeiro, porque o governo quer evitar pressões consideradas desnecessárias até que, pelo menos, sejam decididas as presidências da Câmara e do Senado na legislatura que se inicia no dia 1º de fevereiro. Por isso, a avaliação na estatal é quanto menos se falar no assunto, nesse momento, melhor, pois a intenção em Brasília é evitar reacender o apetite do PMDB por cargos.
Em segundo lugar, e não menos importante, está o fato de ainda faltarem trâmites na Petrobras. A criação da nova diretoria foi aprovada pelo conselho de administração da estatal, mas ainda é necessária convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) e um decreto presidencial para que possa ser criada. A expectativa da direção da estatal é esse processo ainda demore de cinco a seis meses.
A nova diretoria está sendo desenhada para desafogar a agenda do presidente executivo da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Hoje ele assina, por exemplo, até autorizações para viagens internacionais de gerentes e a ideia é desvencilhá-lo de algumas atribuições que demandam seu tempo. Atualmente, estão ligadas à presidência as áreas de recursos humanos, comunicação, jurídica, gestão, estratégia e novos negócios. Somente as três últimas continuarão subordinadas diretamente à presidência e as demais ficarão sob responsabilidade do novo diretor corporativo, que também ficará responderá pelas áreas de segurança, meio ambiente e saúde (SMS).
Durante as discussões para criação da nova área, o gerente executivo de comunicação institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, mostrou interesse pelo novo cargo, fato conhecido nos círculos petistas e até fora dele. Mas a ideia de Santarosa, ex-secretário-geral da CUT-São Paulo, ligado à corrente "Articulação Unidade na Luta" do PT, esbarra no atual estatuto social da Petrobras, que prevê que os diretores tenham "notório conhecimento e especialização nas respectivas áreas de contato em que esses administradores irão atuar".
Santarosa é técnico em contabilidade e entrou na estatal em 1975 como "operador de transferência e estocagem" um cargo de nível médio no qual se aposentou em 1993. Fora da Petrobras suas experiências profissionais incluem a diretoria das Centrais de Abastecimento de Campinas (Ceasa), entre 2000 e 2002 e o conselho consultivo da Petros (fundo de pensão dos funcionários da Petrobras), cargo que acumula com o comando da comunicação institucional da estatal.
A área controla as gerências de imprensa, responsabilidade social, patrocínio esportivo e cultural, propaganda e planejamento da publicidade. Trata-se de orçamento milionário, que equivale a até 0,5% da receita líquida anual consolidada da estatal. Em 2009, a receita da companhia foi de R$ 182,7 bilhões e R$ 738 milhões foram destinados à comunicação. Em 2010, o valor relativo aos três primeiros trimestres acumulados até setembro, último dado disponível, soma R$ 793,9 milhões e deve fechar próximo a esse valor.
A regra de blindagem da diretoria no estatuto social foi criada depois da passagem do deputado Edilson Távora (CE), da antiga Arena, na diretoria de produção da Petrobras no governo de José Sarney (1985-1990), quando a atual diretoria de exploração e produção (E&P) era dividida em duas. Foi a segunda passagem do político na direção da companhia, pois em 1980 tinha Távora tinha sido vice-presidente da Petrobras Mineração (Petromisa) durante o governo Figueiredo.
Procurado, Wilson Santarosa, que está em férias, negou por meio de sua assessoria que esteja fazendo qualquer movimentação para ser indicado à vaga, informando que uma nova responsabilidade não está nos seus planos. O Valor também apurou que a presidente Dilma Rousseff ainda não tem um nome fechado para a diretoria que ainda não foi criada. Já o presidente da Petrobras foi ainda mais incisivo ao comentar o assunto: "Qualquer especulação sobre nomes que devem ocupar a diretoria não passa de futrica, de coscuvilhice", disse Gabrielli por meio da assessoria de imprensa, afirmando ainda que a discussão sobre a nova diretoria é interna à Petrobras.
Há quem atribua o vazamento do nome de Santarosa para a diretoria administrativa a uma confusão motivada pelas mudanças para elaboração do novo estatuto social da Petrobras. Estão sendo feitas, segundo um executivo, para adequar o estatuto à Lei nº 12.353, assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 28 de dezembro, que obriga as empresas públicas e sociedades de economia mista a prever participação de representante dos trabalhadores nos seus conselhos de administração. Há, entretanto, avaliações dentro da Petrobras de que tivessem o objetivo de, mais uma vez, ajudar na ascensão do sindicalista na companhia.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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