A Petrobrasadmitiu ontem, pela primeira vez, que está analisando a aquisição de uma fatia de 33,34% na portuguesa Galp, detidas pela italiana Ente Nazionale Idrocarburi (ENIspA). Ao confirmar que está "estudando a possibilidade de uma potencial transação" com a italiana, a Petrobras informou, em nota, que "até o momento nenhuma análise foi concluída assim como não há qualquer documento vinculante entre as partes. As negociações entre a Petrobras e a ENI começaram em 2005, quando as duas iniciaram os contatos para aquisição da distribuidora Gas Brasiliano, em São Paulo. A venda foi concluída em maio do ano passado.
Fontes ouvidas ontem pelo Valornegaram que a Petrobras tenha feito uma oferta de US$ 4,7 bilhões (equivalentes a €3,5 bilhões) pela participação da ENI na Galp, como informou o jornal "Diário Econômico", de Lisboa. O montante, que representa €17 por ação da portuguesa e equivale a prêmio de 15% em relação ao preço negociado na bolsa de Lisboa (€14,8 no meio da tarde), foi considerado irreal na sede da estatal brasileira, no Rio.
A avaliação no Brasil é que os frequentes rumores no último ano sobre o fechamento iminente do negócio, que ainda está em fase de negociação, têm origem em pessoas envolvidas no "imbróglio" entre o comendador Américo Amorim e a família Santos. Através da Amorim Energia, o comendador tem 33,34% da Galp. Mas essa fatia é compartilhada com a família Santos, capitaneada por Isabel Santos (filha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos) e com a estatal angolana de petróleo Sonangol, por meio da Esperaza Holding, que tem 45% da Amorim Energia.
Tanto a Sonangol quanto a família Santos gostariam de ter uma participação direta na Galp, o que aumentaria a liquidez de suas ações e daria mais fôlego para investir. Mas isso, aparentemente, reduziria o poder do comendador Amorim. Analistas ouvidos ontem peloValor atribuem a essas discussões societárias a decisão da ENI de vender sua participação na Galp, já que não conseguiu o controle.
Para a Petrobras, as vantagens da aquisição são menos óbvias. Fontes próximas à negociação chamam a atenção, em primeiro lugar, para as facilidades de acesso ao mercado europeu para distribuição de combustível brasileiro, notadamente o diesel produzido nas refinarias que serão construídas. O foco deve ser a Europa porque as duas refinarias da Galp em Portugal, com capacidade de processar 310 mil barris/dia, atendem o mercado português, que consome cerca de 270 mil barris/dia.
Outro ponto favorável à entrada da Petrobras na Galp é que a brasileira emprestaria prestígio para melhorar a classificação de risco. "Não se conhece muito bem a capacidade da Galp para acompanhar todo o desenvolvimento do pré-sal e é melhor que ela tenha a Petrobras como sócia do que a ENI", diz Nelson Matos, do BB Investimentos.
O analista menciona um ponto fundamental, já que os investimentos para desenvolvimento da produção de petróleo em gás nos campos Lula (ex-Tupi) e Cernambi (ex-Iracema) são bilionários. No Brasil, a Galp também tem participação nos reservatórios Júpiter (20%), Bem-Te-Vi (10%) e Caramba (20%), é parceira da Petrobras em 22 áreas e opera outras onze sozinha. Até dezembro de 2009, último dado disponível, ela tinha investido €261 milhões no país.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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