A Petrobras concluiu ontem a maior captação de recursos de uma empresa brasileira no exterior, no valor de US$ 7 bilhões. A demanda, que superou US$ 25 bilhões, mostra o apetite dos investidores estrangeiros pelos papéis de companhias nacionais e aponta também o bom momento para a renda fixa internacional.
A estatal lançou US$ 1,25 bilhão em papéis com vencimento em três anos e outros US$ 1,75 bilhão em títulos de cinco anos. Além disso, a empresa realizou a reabertura de seus bônus com vencimento em 2021 (US$ 2,75 bilhões) e em 2041 (US$ 1,25 bilhão).
"O tamanho de algumas ordens me surpreendeu. Mostra que os investidores estão sentados em cima de muito dinheiro para as operações ainda por vir", diz Richards Dubbs, chefe da área de renda fixa da BB Securities em NY, braço do Banco do Brasil para o mercado de capitais internacional. O BB liderou a operação ao lado de Citigroup, Itaú BBA, J.P. Morgan, Morgan Stanley e Santander.
"A Petrobras conseguiu seu objetivo de obter taxas bem baixas", diz Cristina Schulman, chefe da área de renda fixa do Santander, que também liderou a operação. A Petrobras esperou o melhor momento para acessar o mercado, após a recuperação dos títulos negociados no mercado secundário. "Foi uma estratégia que deu certo", diz.
O retorno para o investidor ficou em 3,051% ao ano para os papéis de três anos e de 3,628% ao ano para os títulos de cinco anos. Nas duas operações de reabertura, a taxa ficou em 4,796% ao ano para os títulos de 10 anos e de 5,935% ao ano para 30 anos.
De fato, as taxas estão em queda, à medida que o mercado fica mais receptivo. A demanda elevada pelos papéis brasileiros - que superou os US$ 50 bilhões nas 11 emissões já realizadas no ano - ajuda a puxar para baixo os custos dos negócios. Soma-se a isso, o preço dos títulos soberanos americanos, as "treasuries", que atingiram nessa semana um dos patamares mais baixos da história - essas taxas servem de referência para as captações privadas.
Além disso, os prêmios de risco pagos pelas companhias brasileiras ficaram entre os menores do mundo. Em média, as taxas das colocações brasileiras tem ficado entre 10 e 20 pontos básicos acima dos preços dos papéis negociados no mercado secundário (medida conhecida como "new issue premium"). Essa mesma média ao redor do globo gira entre 20 e 25 pontos básicos.
Com a transação da Petrobras, o total de recursos atraídos pelo Brasil neste ano soma US$ 13,075 bilhões, volume 27% superior ao mesmo período do ano passado (US$ 10,33 bilhões). E há pelo menos outras seis companhias na fila que podem trazer mais US$ 2 bilhões já nas próximas semanas. A própria Petrobras deve acessar novamente o mercado internacional em três ou quatro meses.
As empresas de mais alto risco também já conseguem acessar os mercados internacionais, como foi o caso de JBS e Banrisul. Outras companhias, como Cimento Tupi, Virgolino Oliveira, Grupo Farias e Minerva estão em processo de "roadshow".
A operação do Grupo Farias, por exemplo, produtora de açúcar e álcool, começou a visitar investidores nessa semana e mesmo nunca tendo acessado os mercados internacionais vem tendo uma aceitação muito boa por parte dos investidores, segundo fonte próxima à operação.
As empresas estão aproveitando o bom humor do mercado neste início de ano para antecipar captações, mas o primeiro mês foi até mais ativo do que o esperado pelos bancos de investimentos. Houve uma grande procura por papéis brasileiros e as taxas ficaram em linha com o esperado.
Mas um fato chama atenção nesse primeiro mês: quase todas as companhias optaram por reabertura de operações antigas. Ao recolocar mais papéis de uma transação realizada no passado, as companhias ganham tempo e podem aproveitar dias de melhor humor dos investidores em meio à volatilidade ainda presente.
Fonte: Valor Econômico/Por Fernando Travaglini | De São Paulo
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