O choque dos preços do petróleo no mercado internacional tem feito a Petrobras queimar cerca de US$ 1 bilhão do seu caixa por mês, disse a diretora financeira da companhia, Andrea Marques de Almeida. A situação, segundo a executiva, exigiu da empresa a adoção de um pacote de medidas para reduzir custos e aumentar a liquidez e, assim, fazer frente à crise em 2020.
A estatal fechou 2019 com US$ 7,4 bilhões em caixa e vinha trabalhando com a meta de atingir caixa mínimo de US$ 5,5 bilhões. Desde que assumiu o comando da Petrobras, Roberto Castello Branco tem defendido a redução do excesso de caixa da empresa, de forma que o dinheiro disponível seja empregado em projetos de maior retorno, ao invés de ser aplicado em títulos de baixo risco no mercado financeiro, mas com taxas de juros baixas. Se antes a ideia era reduzir o caixa, o lema agora é preservá-lo.
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“Os preços menores e a demanda menor afetam de forma significativa nossa receita. Temos que adequar nossos custos às receitas. Para se ter uma ideia, a Petrobras, hoje em dia, e olhando para frente, dentro do que vimos no nosso cenário, está queimando, consumindo US$ 1 bilhão de caixa por mês”, afirmou a executiva, na quarta-feira, durante evento on-line com os empregados da companhia, ao defender a adoção das medidas de redução de despesas.
A estatal convive com uma queda de 55% do preço do barril do tipo Brent em 2020. A situação piorou principalmente a partir de março. O petróleo, que até então estava na casa dos US$ 50, caiu de forma abrupta e, em abril, chegou a ser negociado abaixo dos US$ 20. Ontem, o Brent fechou com queda de 0,87%, a US$ 29,46.
Em meio ao aprofundamento da queda da commodity, em março, a estatal anunciou um pacote de medidas de “resiliência”. Dentre outras iniciativas, a companhia sacou US$ 8 bilhões em instrumentos crédito e mais R$ 3,5 bilhões em duas novas linhas. A empresa também cortou em cerca de 30% investimentos para 2020, para US$ 8,5 bilhões; adiou o pagamento de dividendos e bônus do programa de remuneração variável; e prometeu reduzir em US$ 2 bilhões os gastos operacionais.
Nesse sentido, a petroleira anunciou em abril a “hibernação” (desativação) de 62 plataformas que operam em águas rasas. O número equivale a 75% das 82 unidades de produção que a companhia possui em águas rasas, região que possui um custo de extração mais elevado e que, segundo a estatal, não se sustenta economicamente no atual patamar de preços. Ao todo, as plataformas paralisadas somam produção de 23 mil barris diários de petróleo, cerca de 1% do volume produzido pela empresa.
O diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, justificou a decisão como necessária para “estancar a hemorragia” no caixa da empresa. Ele disse, contudo, que não há qualquer indicativo, neste momento, de que a companhia precisará hibernar mais unidades.
Ele também destacou que a decisão de reduzir a atividade em águas rasas se deve a aspectos econômicos e que, hoje, a queda da demanda já não impõe mais “nenhuma restrição” às operações da companhia. Em março, a empresa chegou a anunciar um corte de 200 mil barris/dia na produção, por falta de mercado. A empresa, no entanto, conseguiu aumentar as exportações de petróleo em abril, para o patamar recorde de 1 milhão barris/dia, e, com isso, voltou atrás da medida.
O comando da estatal reforçou também a defesa pela venda das refinarias. A diretora de refino e gás, Anelise Lara, citou a pressão da indústria de biocombustíveis por aumento da taxação sobre os combustíveis fósseis e destacou que a posição monopolista da empresa no refino deixa a petroleira muito exposta. Na avaliação de Anelise, faltam parceiros na defesa dos interesses do setor. “Precisamos de parceiros na luta por demandas que esse segmento vai precisar enfrentar nos próximos anos”, defendeu.
Fonte: Valor