O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse nesta sexta (15) que a empresa vai arrecadar US$ 10 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões) com vendas de ativos até abril e espera atingir ao menos US$ 30 bilhões (cerca de R$ 114 bilhões)em ativos em 2019.
A expectativa é maior do que os US$ 26,9 bilhões (R$ 103 bilhões) previstos para os próximos cinco anos no plano de negócios da empresa, aprovado pela gestão anterior. Castello Branco já disse que pretende propor um plano "mais agressivo".
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"Nos primeiros quatro meses do ano teremos realizado desinvestimentos de US$ 10 bilhões (R$ 38 bilhões) e pretendemos fazer muito mais. Acredito que, ao longo de doze meses, podemos ter três ou quatro vezes esses US$ 10 bilhões", afirmou o presidente da Petrobras, em palestra durante evento da FGV.
O executivo não detalhou os ativos com os quais conta para atingir o objetivo. No momento, a empresa negocia a venda da malha de gasodutos das regiões norte e nordeste, negócio estimado pelo mercado em torno dos US$ 8 bilhões.
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, durante apresentação dos resultados da empresa em 2018 - Tomaz Silva 28.fev.2018/Agência Brasil
Em sua palestra, ele reforçou, porém, que a companhia pretende se desfazer de cerca de metade de sua capacidade de refino, que hoje representa 98% da capacidade nacional. Um novo modelo de venda de refinarias, porém, ainda não foi anunciado.
Em 2018, a Petrobras abriu processo de venda de dois polos de refino - cada um com duas refinarias, dutos e terminais de armazenamento de petróleo --mas as negociações foram interrompidas após questionamentos do STF (Supremo Tribunal Federal) e abandonadas este ano pela gestão indicada pelo presidente Jair Bolsonaro.
A estatal tem hoje 12 refinarias, duas no nordeste, duas no sul e as outras na região sudeste. Castello Branco defende que a redução da presença estatal no negócio aumenta a competição e elimina riscos de uso do poder de monopólio.
"A Petrobras não quer ser monopolista de nada", afirmou, reforçando que o foco de sua gestão será a exploração e produção de petróleo em águas profundas, ativos que considera que a companhia é "dona natural".
Também presente ao evento, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que governo e Petrobras estão perto de um acordo para a revisão do contrato da cessão onerosa, assinado em 2010, que deu à empresa o direito de explorar cinco bilhões de barris do pré-sal.
Segundo ele, a diferença entre os cálculos do governo e da estatal é hoje de US$ 2 bilhões - no início das negociações, era de US$ 60 bilhões - o que sinaliza a proximidade de um consenso.
PRIVATIZAÇÃO
Defensor da privatização da estatal, ele voltou a dizer que acredita que a empresa deveria ser vendida, mas que o governo Bolsonaro não lhe deu mandato para isso. "Com exceção do Banco Central, bancos públicos deveriam ser privatizados e o BNDES extinto. A Petrobras também deveria ser privatizada", afirmou.
"Mas como cantam os Rollings Stones: you can't always get what you want [você não pode ter sempre o que você quer]", brincou, em referência a música da banda de rock britânica que chamou de "ícone da nossa geração".
Ele disse que, já que a privatização está descartada, a estratégia é "transformar a Petrobras no mais próximo possível de uma empresa privada", citando a mineradora estatal chilena Codelco como exemplo. "É uma empresa lucrativa, que nunca foi envolvida em escândalos. É uma empresa privada, na realidade."
DISTRIBUIÇÃO
Para a Plural (associação das distribuidoras de combustíveis), as vendas de ativos da Petrobras são positivas e estão em linha com o que o setor considera que deve ser a prioridade do novo governo: incentivar a multiplicidade de agentes na produção. "É isso que vai fazer o mercado mudar de patamar", afirma Leonardo Gadotti, presidente da associação.
Segundo ele, para isso, o Brasil precisa demonstrar que os preços permanecerão sendo definidos de maneira livre pelo mercado, condição monitorada por outras companhias para entrar no país.
"Não adianta colocar refinaria à venda e não ter interessado", diz Gadotti.
O setor espera a aprovação da reforma da Previdência —o que deve melhorar o ambiente macro de negócios— no aguardo também de uma reforma tributária.
Um estudo do BCG (Boston Consulting Group) mostra que, em junho 2018, ainda no rescaldo da greve de caminhoneiros de maio, o preço do diesel ao consumidor final foi 32% menor que a média mundial em termos absolutos e 12% se considerado o poder aquisitivo da população.
Já o preço da gasolina estava 8% menor em termos absolutos, mas, levando em conta o poder aquisitivo, ficou 50% acima da média global. Segundo André Pinto, do BCG, os tributos pesam nessa conta.
Ele observa também que a precificação dos combustíveis deu um salto entre 2016 e 2017, após a Petrobras anunciar mudanças em sua política de preços.
"Se houvesse mais refinarias no país, o preço não teria subido nessa magnitude. Com o refino aberto fica mais difícil haver sobrepreço por um tempo e cria-se uma dinâmica mais competitiva no mercado", diz.
Segundo a Plural, estima-se um crescimento na demanda de combustíveis no Brasil de 1,9% ao ano, o que levaria o volume comercializado a 137,3 bilhões de litros de gasolina e óleo diesel.
Para dar conta do recado, a entidade estima que seriam necessários investimentos na ordem de R$ 82 bilhões até 2030, sobretudo em infraestrutura logística, como ferrovias e portos.
Fonte: Folha SP