Rio de Janeiro - Difícil prever o papel que o investidor pessoa física terá na megacapitalização da Petrobras. A grosso modo, a capitalização se resume à premissa básica de que cada investidor poderia acompanhar o aumento de capital proposto pelo acionista controlador (União), na proporção da participação que cada um detém hoje na empresa.
Nesse caso, o investidor pessoa física faz, por meio da sua corretora de valores, a solicitação de reserva do volume de ações que pretende adquirir para manter intacta sua participação na companhia. A data de abertura e fechamento desse cadastro está prevista para sair ainda hoje, na publicação do prospecto da operação.
O preço da ação da Petrobras, há 15 semanas flutuando entre R$ 25 e R$ 30, é favorável à compra. O papel está “barato”, levando em consideração a cotação média de R$ 40 que alcançava em dezembro do ano passado. A questão é que o valor total da capitalização será alto: pode chegar a R$ 150 bilhões.
Hoje, o governo detém 32% do capital da Petrobrás e 55% das ações ordinárias (com direito a voto). Para manter essa participação, a União entrará com um terço do valor da capitalização – no caso do limite máximo isso é equivalente a R$ 50 bilhões.
Sendo assim, a pessoa física que tiver em mãos um lote de ações que corresponda, por exemplo, a 0,001% do capital da Petrobras (fatia grande para o investidor comum) teria de dispor, em dinheiro, de R$ 1,5 milhão para não ter a sua participação no capital da empresa diluída. Não acompanhando integralmente a oferta, a participação do acionista minoritário é diluída, ou seja, mingua para um patamar menor.
Isso, para os acionistas preferencialistas (detentores de ações PN, sem direito a voto) representa perda de dividendos (o rateio anual de parte dos lucros da empresa). Para os ordinaristas (ações ON), pode representar, em alguns casos, perda de um assento no Conselho de Administração, por exemplo.
Ainda há muitas incertezas em torno da capitalização da Petrobras. A operação terá três etapas: na primeira, os acionistas subscrevem a parcela que acompanharão do aumento de capital; na segunda, rateiam as “sobras” da primeira e, na terceira, se ainda houver excedente, há uma oferta pública das ações ao mercado.
Investimentos
O retorno dos investimentos da Petrobras para explorar e produzir o petróleo da cessão onerosa será inferior aos de outros projetos da própria companhia e foi recebido com pesadas críticas pelo mercado.
O governo estabeleceu em 8,83% a taxa interna de retorno (TIR) dos 4,999 bilhões de barris, ganho inferior aos 14% ao ano previsto nos projetos que estão no plano de negócios da estatal para os próximos quatro anos.
Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) o mercado esperava que os ganhos dos investimentos superassem pelo menos a remuneração de títulos do Tesouro, que pagam os 10,75% da Selic.
“Em teste, o ganho de quem investe em títulos do Tesouro e fica sentado em casa é maior do que o ganho que a Petrobras terá investindo nesses barris”, resume.
Entenda o que muda com a operação
MINORITÁRIOS
Tanto os grandes quanto os pequenos investidores poderão participar da capitalização da Petrobras, desembolsando recursos para comprar as novas ações da empresa que serão emitidas e, assim, manter sua atual participação na companhia (do contrário, a fatia que esses acionistas têm hoje será diluída no capital total). O governo, que tem um terço das ações da Petrobras, vai entrar com US$ 42,5 bilhões. Para que os minoritários fiquem com a mesma posição na Petrobras, terão de entrar com US$ 85 bilhões.
DINHEIRO X BARRIL
A grande diferença é que os minoritários entrarão com dinheiro, enquanto o governo entrará com os 4,999 bilhões de barris de um petróleo que ainda está nas profundezas do pré-sal. Caso não entrem com os US$ 85 bilhões, o governo aumentará a sua fatia na participação acionária da companhia. Caso os aportes dos minoritários se confirmem, serão US$ 127,5 bilhões a mais nos cofres da Petrobras para a realização dos investimentos. Novos investidores também poderão comprar ações que a Petrobras emitir, mas só se houver sobra.
FGTS
Os trabalhadores que têm FGTS-Petrobras poderão participar da capitalização usando parte de seu saldo atual no Fundo. O valor está limitado a 30% do saldo atual do FGTS. No entanto, ainda há dúvidas se ele poderá colocar dinheiro do próprio bolso. De 2002 – quando os trabalhadores puderam comprar ações da Petrobras pela primeira vez – até hoje, a valorização é de mais de 600%. No mesmo período, o FGTS teve uma valorização de pouco mais de 60%.
“Capixabas assistem de camarote”
“Mais tranquilidade para realizar os investimentos”. Foi desta forma que o secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo, Márcio Félix Bezerra, avaliou o anúncio das regras para a capitalização da Petrobras. Para ele, o capixaba assiste o desenrolar do assunto de camarote.
Até 2014, de acordo com o plano de investimentos da estatal, serão R$ 40,6 bilhões no Estado em diversos projetos que envolvem, além de novas plataformas nos campos do Litoral Sul, gasoduto marítimo, terminal portuário para apoio às plataformas, terminal aquaviário para embarque de gás de cozinha e C5+, e o polo gás-químico de Linhares, que ainda não foi orçado.
“Os capixabas estão de camarote assistindo a tudo o que está acontecendo. Somos um dos Estados mais beneficiados pelos investimentos da Petrobras. Todo esse dinheiro que entrará por conta da capitalização, dará mais tranquilidade para que os projetos anunciados saiam de fato do papel. É um grande reforço de caixa que dará suporte para todos esses investimentos”, assinalou Márcio Félix.
Alguns dos projetos
Em maio desse ano, a estatal anunciou que deve investir entre US$ 200 bilhões e US$ 220 bilhões até 2014, daí a necessidade da capitalização, já que o plano é ousado. Confirmados os projetos, o Espírito Santo ficará com uma fatia entre 10% e 11,15% do total do montante previsto.
O primeiro projeto incluído nesse investimento é o FPSO Capixaba, navio-plataforma que deveria ter começado a produzir no campo de Baleia Franca, no Parque das Baleias, no Litoral Sul, desde o dia 25 de abril passado. Com capacidade para produzir 100 mil barris por dia de óleo e gás, a plataforma já está produzindo nos poços do pré-sal.
Em novembro, a estatal espera colocar em operação, no campo de Jubarte, em poços na camada do pós-sal, a primeira plataforma com capacidade de produção de 180 mil barris por dia. A P-57, convertida em Cingapura, está agora em Angra dos Reis recebendo os equipamentos de produção e armazenagem.
Ainda este ano, também estará pronta a terceira fase da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas (UTGC), em Linhares. Os investimentos na região permitirão que a Petrobras chegue à produção de 20 milhões de metros cúbicos por dia de gás até 2015.
Contexto
Ações: é hora de comprar?
José Márcio Soares de Barros - Diretor da Banestes DTVM
Foi ótimo para a Petrobras as regras terem saído. O andamento interno da empresa já se arrastava nos últimos meses justamente por conta dessa indecisão. Para o governo também foi bom, afinal, não tirou um tostão do bolso e ainda poderá ver sua participação acionária crescer. Agora vamos ver se os minoritários, que possuem dois terços das ações, vão entrar com uma contrapartida que impeça o avanço da União na quantidade de papéis. Creio que a ação da Petrobras chegue ao dia 30 de setembro, dia da capitalização, valendo entre R$ 25,50 e R$ 27. O preço alvo, segundo análises do mercado, é R$ 46. Será um bom negócio colocar dinheiro na Petrobras e, se for possível colocar também o FGTS, melhor.
Contrato será assinado na próxima semana
O ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann, disse ontem que o contrato da cessão onerosa de até 5 bilhões de barris à Petrobras estará pronto para ser assinado, a partir da próxima semana. O documento está sendo analisado e revisado pelo departamento jurídico do ministério para que possa ser liberado para assinatura.
Gabrielli: maior produção entre as grandes majors
Rio de Janeiro
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem, em apresentação para analistas financeiros, que a companhia estará em breve entre os maiores produtores de petróleo e deverá ser a maior entre as grandes “majors”.
O executivo também destacou que as reservas da companhia, que hoje somam 14 bilhões de barris, vão aumentar em 35% com a cessão onerosa. Gabrielli também disse que pelo menos dez áreas estavam sendo estudadas para serem repassadas pela União e que em nenhum momento foi falado que apenas uma área seria transferida.
Segundo ele, destas dez, sete foram escolhidas para compor a negociação, sendo que uma delas será utilizada como “reserva” apenas no caso de as demais não atingirem os cinco bilhões de barris de óleo.
Indagado por analistas sobre a forma de pagamento da cessão onerosa, o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, informou que os US$ 42 bilhões serão pagos em reais ao governo. Para isso, segundo ele, será considerado o câmbio médio de agosto, de R$ 1,7588, o que deve perfazer um volume total de R$$ 73,86 bilhões.
Fonte: A Gazeta (ES) Vitória
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