A Petrobras reportou na última sexta-feira (3) prejuízo líquido no segundo trimestre do ano, a primeira perda trimestral em mais de 13 anos, por conta da desvalorização do real e da defasagem de preços dos derivados no mercado interno. Uma queda na produção e maiores custos exploratórios também pesaram nos resultados.
Analistas esperavam queda no lucro, na ordem de 66 por cento, para uma média de 3,68 bilhões de reais, segundo pesquisa feita pela Reuters , mas foram pegos de surpresa pelo resultado negativo, o que deve levar a uma revisão das suas projeções.
O prejuízo líquido no segundo trimestre foi de 1,346 bilhão de reais, ante um lucro de 10,94 bilhões de reais no mesmo período de 2011 e contra um lucro de 9,21 bilhões de reais no primeiro trimestre de 2012.
"Nunca vi uma empresa passar de um lucro de 10 bilhões de reais para um prejuízo de mais de 1 bilhão. É uma coisa inédita", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e especialista em petróleo.
Desde o primeiro trimestre de 1999, quando o Brasil desvalorizou o real, a Petrobras não registrava prejuízo trimestral.
Pires lembrou o ambiente econômico mundial era completamente diferente do atual, com o petróleo abaixo de 20 dólares. "Além disso, não havia a perspectiva do pré-sal. Não dá para comparar", disse ele.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse em comunicado que o resultado se deu pela expressiva depreciação do real frente ao dólar e despesas extraordinárias com poços secos, com perfurações realizadas principalmente entre 2009 e 2012, além de menor exportação de petróleo fruto da menor produção devido às paradas programadas.
Na média de abril a junho, o dólar de venda da Petrobras ficou em 1,96 real ante 1,60 real no mesmo período de 2011, segundo dados da estatal.
Graça Foster, como prefere ser chamada, afirmou ainda que também pesaram no resultado o desalinhamento de preços dos derivados vendidos no mercado brasileiro em relação aos parâmetros internacionais.
"O resultado foi uma surpresa muito negativa, a pior das expectativas", disse o analista da Ativa Corretora Ricardo Corrêa.
Segundo Dany Rappaport, que gerencia 250 milhões de reais em investimentos em São Paulo para a InvestPort, "com a diretoria reconhecendo problemas antigos na unidade de abastecimento, analistas e investidores devem começar a repensar as perspectivas para a companhia".
A empresa tem trabalhado, segundo a presidente, para recuperar a rentabilidade e reajustou os combustíveis --3,94 por cento para o diesel e 7,83 por cento para a gasolina, a partir de 25 de junho, e em 6 por cento para o diesel, a partir de 16 de julho.
Mas esses aumentos só serão sentidos no terceiro trimestre, segundo analistas.
PREJUÍZO NO ABASTECIMENTO
Como resultado da venda de combustíveis com defasagem no mercado interno e do câmbio, a Petrobras informou que a área de abastecimento registrou perdas de 7,03 bilhões de reais no mesmo período.
No semestre, o prejuízo da área de abastecimento é de 11,6 bilhões de reais.
O resultado operacional medido pelo Ebitda somou 10,59 bilhões de reais, ante 15,90 bilhões de reais no mesmo período do ano passado.
Já a receita somou 68,04 bilhões de reais, crescimento ante os 61 bilhões de reais registrados no segundo trimestre do ano passado.
PRODUÇÃO MENOR E EXPOSIÇÃO CAMBIAL MAIOR
A produção de petróleo e gás natural somou 2,579 milhões de barris de óleo equivalente, queda de quase 4 por cento ante o primeiro trimestre e de 1 por cento na comparação com o segundo trimestre de 2011, com paradas programadas com vistas ao aumento da eficiência e segurança operacional, segundo a Petrobras.
Essa queda na produção, somada ao aumento de custos exploratórios, também colaborou para o resultado negativo.
A Petrobras reportou despesas com custos exploratórios extras de 2,405 bilhões de reais, "pelas maiores baixas de poços secos ou subcomerciais, perfurados principalmente no período 2009-2012, a custos mais elevados, com destaque para áreas de novas fronteiras exploratórias, além da perda estimada com desvalorização dos estoques nas refinarias no exterior (509 milhões de reais), decorrente das menores cotações internacionais".
A cotação do petróleo na média do trimestre ficou 7,8 por cento menor em relação ao mesmo período de 2011. Atualmente, o Brent está cotado em cerca de 108 dólares o barril.
Segundo a estatal, que possui ativos e passivos sujeitos a variações de moedas estrangeiras, a exposição cambial líquida da empresa aumentou de 55,57 bilhões de reais em 31 de dezembro de 2011 para 82,78 bilhões de reais em 30 de junho de 2012.
Já o endividamento total subiu 15 por cento ante 31 de dezembro de 2011, para 179,1 bilhões de reais em 30 de junho --da dívida bruta total, 56 por cento é em moeda norte-americana.
Fonte: Reuters / Leila Coimbra e Jeb Blount
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