Desacreditada pelo mercado, a Petrobras terá de investir na transparência e no respeito aos acionistas se quiser viabilizar uma nova rodada de injeção de dinheiro, segundo analistas.
Mesmo com uma eventual trégua na crise atual, dificilmente a estatal conseguiria fazer hoje uma operação igual à de 2010, quando obteve R$ 120,4 bilhões.
Desde a capitalização, os investidores perderam de 23% (ação ordinária, sem voto) a 29% (preferencial, com voto). A estatal perdeu para a Vale o posto de ação mais negociada na Bolsa.
Apesar do caixa alto, a estatal precisará até 2015 de dinheiro do mercado para atender seu plano de investimentos, que consome R$ 50 bilhões anuais.
NOVO MERCADO
Para reforçar a credibilidade após o prejuízo, os investidores cobram uma ação agressiva de aproximação com mercado, como a adesão ao Novo Mercado, segmento de alta transparência da Bolsa, que só tem ações ordinárias.
A Petrobras, porém, está longe das exigências de transparência e de abertura de informações exigidas.
"Como maior companhia do país, a Petrobras deveria abraçar isso. Mas é uma realidade muito distante. Nem representante dos minoritários conseguimos eleger", disse Will Landers, gestor da Blackrock, a maior minoritária com 5% da estatal.
A Blackrock e a Polo Capital tentaram eleger em março dois conselheiros, mas foram voto vencido porque os fundos de pensão Petros (Petrobras), Previ (BB) e Funcef (Caixa), que também são minoritários, apoiaram a chapa do governo.
Com só ações ordinárias, o próprio governo ganharia com uma divisão mais equilibrada de dividendos.
Hoje, a diferença de preço entre as ações preferenciais e ordinárias é de apenas 3%. À época da capitalização, em outubro de 2010, a diferença era de 11,3%.
As ordinárias são mais caras porque têm direito a voto e, em caso de venda da companhia, um bônus extra no valor de venda.
A maior resistência é de parte do governo, que teme diluir sua fatia de controle e ser obrigado a abrir informações estratégicas.
"O controle não está em risco com essa mudança. O mercado cobra transparência porque a empresa perdeu muito valor", disse Ricardo Tadeu Martins, vice-presidente da Apimec-SP (associação dos analistas).
"É uma discussão importante para todas as estatais", disse Carlos Eduardo Brandão, conselheiro do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).
Fonte: Jornal Floripa
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