Negociação sobre acordos que vencem em 2012 não avança por indefinição de preço
Empresas pressionam para baixar custo do insumo, hoje um dos mais altos do mundo, enquanto estatal aguarda o reaquecimento da demanda
As 27 distribuidoras de gás natural do país não estão conseguindo renovar seus contratos de compra do insumo com a Petrobras, a única fornecedora nacional.
Todos os contratos de compra e venda de gás nacional vencem em 2012 e representam quase 50 milhões de metros cúbicos diários, um volume maior do que todo o consumo atual, que está na casa dos 36 milhões de metros cúbicos por dia depois do impacto da crise mundial, agravada em setembro do ano passado.
Apenas a Gasmig, distribuidora de gás de Minas Gerais, que possui contratos com vencimento em 2020, e o volume importado pelo gasoduto Bolívia-Brasil, cujo contrato é diferenciado, são exceções.
As indefinições com relação ao preço do gás -um dos mais caros do mundo, conforme a Folha publicou ontem- nos futuros contratos já começam a prejudicar os planos de expansão de indústrias que dependem da matéria-prima.
O caso mais grave é na Bahia, que tem novos projetos na área química e de fertilizantes sob risco de ficarem paralisados.
Indústrias como Braskem, Dow e Gerdau já demonstraram interesse em adquirir gás natural a partir de 2012 da Bahiagás, distribuidora local, porém sem sinalização de preço para os contratos futuros.
No Rio, empresas como CSN e Quattor já procuraram as distribuidoras locais de gás natural, sem sucesso. A Comgás, distribuidora de gás paulista, tentou negociar os contratos a partir de 2012 com a Petrobras, mas não conseguiu dar andamento ao processo.
Os contratos atuais duram por mais dois anos e, a rigor, ninguém é obrigado a renegociar nada muito antes do vencimento. Mas a Petrobras vem postergando as conversas porque o momento atual é altamente desfavorável a ela. O preço médio do gás que ela vende às distribuidoras nos contratos atuais está em US$ 8,70 por milhão de BTU (unidade de medida do setor).
Mas, desde o fim do ano passado, com o impacto da crise mundial na indústria, o consumo de gás no país sofreu uma retração de 28% e as sobras atuais estão sendo queimadas pela Petrobras nos seus poços de produção ou então sendo vendidas em leilões por valores entre US$ 4 e US$ 5, aproximadamente, preços muito inferiores aos fixados nos contratos atualmente em vigor.
Enquanto as distribuidoras querem renovar agora, no atual cenário de sobra de gás, a Petrobras quer deixar para 2010 ou até mesmo 2011 a negociação. Até lá essa sobra desaparecerá e o preço mais alto seria então justificado.
"As empresas de gás estão conversando com a Petrobras, mas ninguém conseguiu nenhuma definição de preço até agora. Isso traz incertezas aos investidores", diz o presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Armando Martins Laudorio.
A solução, na visão do executivo, seria uma regulamentação da nova Lei do Gás (sancionada no ano passado), possibilitando a competição. Então, outros agentes poderiam acessar os citygates (canalizações que distribuem o gás para as empresas), que hoje estão sob monopólio da Petrobras.
Ricardo Lima, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), que reúne empresas como Vale, Alcoa, CSN e Braskem, diz que cerca de dois terços de todo o volume de gás contratado pelas empresas da associação vencem em 2012 e, desse total, cerca de dois terços ainda não foram renovados.
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