Na primeira Carteira Valor após a eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência do país, o que se vê é que as apostas dos analistas continuam voltadas para um consumo para lá de aquecido na economia, juntamente com o crédito farto. Tanto que, para o portfólio recomendado para novembro, depois dos papéis do Pão de Açúcar, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) do Itaú Unibanco se destacam, com três recomendações para a carteira do mês.
Em outubro, a Carteira Valor deu de goleada ante o retorno do Índice Bovespa: ganho de 7,02%, para 1,79% do indicador. No mês, a rentabilidade foi puxada por Randon Participações PN, que subiu 19,92%, e Lojas Americanas PN, com alta de 18,31%. Na ponta oposta ficaram as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da CSN, com perda de 3,68% em outubro, e Gerdau PN, com queda de 3,08%. No acumulado do ano, o portfólio composto pelas recomendações das dez corretoras rende 13,76%, ante 3,04% do Ibovespa.
No caso do Itaú Unibanco, a valorização aquém das ações de outros bancos confere potencial de alta aos papéis, ressalta Wagner Salaverry, diretor da Geração Futuro Corretora. Em outubro, as preferenciais (PN, sem direito a voto) do Itaú subiram 2,58%, enquanto as do Bradesco se valorizaram 3,38%. No ano, até segunda, os papéis do Itaú têm alta de 12,03%, para 21,06% do concorrente.
Os resultados trimestrais do Itaú têm sido prejudicados pelo aumento de gasto com agências em meio ao processo de unificação com as do Unibanco, e que terminou recentemente, diz o executivo da Geração. "Mas, como no ano que vem o banco não terá mais esses gastos e o crédito deverá continuar crescendo, os resultados para 2011 devem ser melhores", avalia.
O balanço do Itaú será divulgado hoje e a Planner, que também colocou os papéis em seu portfólio sugerido, estima lucro líquido de R$ 3,45 bilhões - ou R$ 0,76 por ação. O valor é aproximadamente 9% maior que os R$ 3,16 bilhões registrados no segundo trimestre deste ano. Isso demonstra a capacidade do banco de entregar resultados consistentes, avalia a corretora.
A Carteira Valor indicada para novembro se mostra também bastante pulverizada, já que, com exceção de Pão de Açúcar e Itaú Unibanco, todos os outros papéis foram citados apenas por duas corretoras. Chama a atenção o fato de algumas casas terem trocado as PNAs da Vale pelas ONs (as duas tiveram duas recomendações).
A Link Investimentos foi uma delas. De acordo com relatório da corretora, a decisão se deve ao fato de Vale ON ter prêmio mais baixo que sua média histórica. A instituição trabalha com preço-alvo de R$ 72 para a ação ordinária, o que embute um potencial de valorização de 31,38% sobre o fechamento do papel na segunda-feira, a R$ 54,80.
Na semana passada, a mineradora informou lucro líquido recorde de R$ 10,6 bilhões no terceiro trimestre deste ano. O valor é 59,1% acima dos R$ 6,6 bilhões apresentados no segundo trimestre e 253,4% mais que o registrado em igual período de 2009, quando ficou em R$ 2,9 bilhões. O resultado pegou os analistas de surpresa, já que a maioria esperava um lucro menor.
Para ajudar ainda mais, a empresa reiterou sua perspectiva positiva para os próximos trimestres. "Acreditamos existir espaço para aumento da confiança do investidor em relação aos resultados de 2011", ressalta a Itaú Corretora, que afirma manter as ações da Vale entre as preferidas dentro do universo de commodities. A instituição estima um preço justo de R$ 59 para as PNAs em 2011, o que significa um ganho potencial de 22%.
Os dados sobre a demanda da China continuam fortes, o que favorece as commodities, em especial o minério de ferro, diz Salaverry, da Geração. Na segunda, foram divulgados números relativos à atividade do setor manufatureiro chinês pelo Índice dos Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês). O indicador se acelerou em outubro, atingindo 54,7 pontos e registrando o terceiro mês consecutivo de alta. Em setembro, o índice havia marcado 53,8 pontos.
O receio está na possibilidade de mudança, para pior, no comando da Vale, ressalta o executivo da Geração. "Sempre que há mudança de governo, há o risco de alteração na presidência da companhia", diz. Vale lembrar que o mandato do diretor-presidente da mineradora, Roger Agnelli, se encerra em 2011.
Depois de quatro meses fora da Carteira Valor, os papéis da Petrobras voltam a integrar o portfólio recomendado. De acordo com relatório da Planner, encerrado o processo de capitalização, as atenções se voltam para aspectos como produção, vendas, resultados e descobertas da estatal. Em outubro, a Petrobras foi especialmente afetada por uma série de relatórios de corretoras reduzindo o preço-alvo das ações da empresa. "Acreditamos, no entanto, que os bons fundamentos da companhia permanecem e que a adequada monetização futura das reservas do pré-sal possa trazer uma melhor precificação para seus papéis", diz o relatório.
As indefinições com o processo de capitalização e com o preço da cessão onerosa dos barris de petróleo prejudicaram bastante a ação neste ano. As PNs, por exemplo, registram queda de 26,19% até segunda. "Ainda que existam muitas incertezas, há vários pontos positivos, como o aumento das reservas de petróleo", ressalta Salaverry. Apesar de boa parte do valor da empresa estar no longo prazo, há potencial para os próximos meses. "Como o papel já caiu bastante, acho que é difícil haver notícias ruins; a ação caiu demais e é possível esperar uma recuperação no curto prazo", avalia.
Fonte: Valor Econômico/Luciana Monteiro | De São Paulo
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