No ano em que completa meio século de história no Brasil, a multinacional alemã Voith lamenta a falta de crescimento, tanto da economia brasileira, como de suas receitas no país, e diz que não vai elevar investimentos enquanto a economia não retomar uma trajetória de crescimento. "Temos dinheiro e poderíamos investir e ter mais negócios aqui se a situação estivesse melhor", afirmou o presidente mundial da companhia, Hubert Lienhard, em entrevista exclusiva ao ValorPRO, serviço de tempo real do Valor.
Em passagem pelo Brasil, Lienhard afirmou que não espera um aumento das receitas da empresa no país neste ano, pois seus negócios acompanham o desempenho do PIB. "Neste ano, o Brasil não deve alcançar 2% de crescimento." Ele comparou o país à Índia, afirmando que as expectativas globais também eram de um comportamento econômico mais positivo. "A Índia está crescendo 4%, o que é um desastre para o país."
Por outro lado, Lienhard comemora a participação de mercado que a companhia possui no país, principalmente nos mercados de energia e papel, que são os responsáveis pela maior parte das vendas locais. "Em energia, temos 25% de participação de mercado, com clientes como as usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte", afirma.
Com aproximadamente cinco mil funcionários e duas fábricas no Brasil, em São Paulo (SP) e Manaus (AM), a Voith faturou € 687 milhões no país no ano fiscal terminado em setembro de 2013. A operação brasileira é uma das principais da companhia fora da Europa, correspondendo por 12% de sua receita global, de € 5,7 bilhões.
Lienhard conta que esteve com diversos clientes locais e que uma das impressões que levará consigo das conversas é de sensação de incertezas sobre o futuro. "O Brasil tem bons profissionais, mas precisa de regras claras e sustentáveis que deem segurança no longo prazo", afirma. Como exemplo de medidas necessárias, ele citou a simplificação do sistema tributário. "Operamos em 52 países, e o Brasil tem um dos sistemas tributários mais complicados de todos", acrescentou.
Nos últimos anos, a Voith investiu € 250 milhões no Brasil, segundo o executivo, sendo € 30 milhões na fábrica de Manaus.
Fundada por Friedrich Voith em 1867, inicialmente com produção de máquinas para o setor papeleiro, a companhia é hoje uma das maiores empresas familiares da Europa. Produz turbinas, geradores, sistemas de transmissão e frenagem para veículos, máquinas e sistemas para usos industriais diversos. Globalmente, seus negócios estão divididos em quatro áreas: Hidrogeração de energia ("Hydro"), Papel ("Paper"), Turbo e Serviços Industriais.
O setor papeleiro é o primeiro em vendas da empresa no país e, segundo Lienhard, é o que permite ter um pouco mais de otimismo para os próximos meses, apesar de poucos projetos em desenvolvimento neste momento.
Com os outros países, Lienhard não está muito mais animado. "Na Europa, por exemplo, não há grande crescimento. Os Estados Unidos crescem em torno de 2%", diz.
Para tentar atravessar o momento mais fraco dos mercados, ele afirma que pretende melhorar a competitividade global da Voith nos mercados em que já atua, principalmente com automatizações e inovações. "Não vamos atuar em outro setor, como de produtos de consumo, por exemplo." A Voith vai buscar, nos próximos meses, elevar a inteligência de seus produtos, com o uso de mais softwares e soluções eletrônicas, segundo o executivo.
Uma possibilidade para ajudar a crescer são as aquisições. "Crescemos cerca de 7,5% ao ano nos últimos anos. Dois terços disso foram decorrentes de aquisições", afirmou, acrescentando que a Voith continua avaliando cerca de 30 a 40 empresas no mundo.
Fonte: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo
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