O novo plano da Petrobras, o primeiro tendo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, no conselho de administração - ela assumiu a vaga deixada pelo ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci-, prevê investimentos de US$ 224,7 bilhões em 688 projetos até 2015. Esse volume de investimentos, menor do que a estatal pretendia três meses atrás, foi bem recebido, apesar de algumas ressalvas. Até o início deste mês a Petrobras já tinha perdido R$ 55 bilhões em valor de mercado e o novo plano, mais austero, pode melhorar a performance das ações na bolsa de valores. É o que se verá hoje na abertura do mercado.
Analistas ouvidos pelo Valor, todos sob o compromisso de não serem identificados, elogiaram o novo plano da estatal.
"Foi bom pelo fato de o conselho mostrar cautela com o balanço da empresa, e por ela admitir que gera menos caixa do que se pensava no passado. Bom também porque a empresa mostra que em tempos de vacas magras prefere e consegue focar na exploração e produção. E porque demonstrou menos apego a seus ativos do que se pensa que tem", resumiu um analista, para quem a recuperação da ação vai depender da forma como a direção da companhia vai explicar o novo plano ao mercado.
Porém, tem quem esperasse mais. Um analista de um grande banco avalia que a qualidade dos investimentos caiu junto com o orçamento. Já outro vê como positivo o foco na geração de caixa e nos investimentos com retorno mais alto. "É uma mudança estrutural importante", destacou.
Do total que a Petrobras planeja investir, US$ 127,5 bilhões (equivalentes a 57%) vão para a área de exploração e produção, dos quais US$ 117,7 bilhões no Brasil e US$ 10 bilhões no exterior. A empresa informou ainda que planeja obter US$ 13,6 bilhões com a venda de ativos e que retirou projetos orçados em US$ 10,8 bilhões no plano anterior, sem entrar em detalhes.
A Petrobras também se compromete a obedecer algumas metas de redução de custo na construção das novas refinarias. Para a área de refino foram destinados US$ 35,4 bilhões, número praticamente estável, com redução de apenas 4% em relação ao plano anterior. Apesar de criticadas, todas as refinarias foram mantidas no plano.
A ênfase no desenvolvimento da produção das áreas no pré-sal, que é mais caro, em detrimento de mais foco na produção em áreas já descobertas no pós-sal, não é uma unanimidade entre os profissionais do mercado financeiro consultados ontem.
O analista de um grande banco achou positiva a contenção de investimentos e o valor do plano como um todo, destacando também o fato de a direção da estatal continuar empenhada em manter o grau de investimento. Mas na sua opinião, no todo, "a qualidade dos investimentos da Petrobras caiu". Ele cita como exemplo o aumento de projetos no pré-sal, o que vai exigir investimentos elevados agora, com geração de caixa mais no longo prazo. "Essas áreas da cessão onerosa têm um retorno fechado em 8,56%. E quando for declarada a comercialidade (das áreas) a Petrobras provavelmente terá de pagar mais ao governo", destaca, completando que preferia que elas fossem postergadas.
Ele se refere ao acordo que prevê um recálculo, em 2014, do preço dos barris comprados no processo de cessão onerosa, no ano passado. Na sexta-feira, a Petrobras informou que prevê gastar US$ 12,4 bilhões nas áreas da cessão onerosa até 2015. Segundo a companhia, serão perfurados 10 poços exploratórios nas áreas cedidas, o que permitirá fechar 2015 produzindo 150 mil barris por dia em Franco - um campo gigante que era da União e onde são estimadas reservas de 3 bilhões de barris de óleo e gás.
Outro ponto considerado positivo foi o anúncio da venda de ativos, que deve ser mais detalhado hoje, quando a diretoria da estatal dará uma entrevista coletiva no Rio. No fim-de-semana o exercício era de tentar antecipar de que projetos a Petrobras pretende sair. O melhor, disseram as fontes, seria que fossem vendidos ativos no exterior, como a refinaria de Pasadena (no Texas). Ainda não é possível identificar áreas que tenham tanto valor, já que a companhia pretende arrecadar quase US$ 14 bilhões.
"Acho que a receita vem da venda de campos menores no já que os ativos da área internacional, tirando a produção na Nigéria e no Golfo do México, não valem grande coisa", afirma um dos analistas ouvidos ontem.
Outro que também pediu para não ter seu nome revelado - os relatórios dos bancos para clientes ainda estavam em fase de produção até o fechamento desta edição - concorda.
"Meu palpite é que devem ser vendidos campos pequenos, em terra e também áreas maduras. Isso seria positivo para companhias menores que querem crescer, até porque o governo não se resolve quanto à 11ª Rodada", disse esse analista, referindo-se ao fato de o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ainda não ter publicado o edital que dará início aos procedimentos a serem seguidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Considerando todas as premissas do plano, a Petrobras prevê uma geração de caixa variando entre US$ 125 bilhões e US$ 149 bilhões. Nos dois cenários, a necessidade de captação líquida anual (excluídas amortizações) vai variar entre US$ 7,2 bilhões US$ 12 bilhões por ano. A companhia também manteve a metade alavancagem financeira (medida pela dívida bruta dividida pelo patrimônio) entre 25% e 35%.
Já as metas de produção são ambiciosas. A Petrobras planeja fechar 2015 produzindo 543 mil barris de óleo equivalente (boe/dia) no pré-sal, quando a meta do plano anterior, até 2014, era de 241 mil boe/dia naquela área. Já o plano de longo prazo, até 2020, aumentou em 1 milhão de barris a meta de produção total da companhia, que agora é de 6,418 milhões de boe (sendo 5 milhões no Brasil), contra 5,382 milhões de barris/dia no plano anterior. Para se ter uma dimensão do salto, basta lembrar que no mês passado ela produziu 2,6 milhões de barris equivalentes/dia, sendo 2,4 milhões no Brasil, dos quais 2,046 milhões/dia de petróleo e o resto de gás.
FonteValor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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