A pior crise hídrica no Brasil em 91 anos, que leva o país ao risco de racionamento e apagão, faz a Gerdau traçar estratégia para este cenário. Segundo Marcos Faraco, diretor responsável pela operação na América do Sul, a companhia tem trabalhado em capacidade máxima para atender os clientes e aumentar os estoques de aço.
“Na verdade, isso é um ponto de atenção e estamos monitorando de perto como vai se desenrolar. Mas, é importante que se entenda que essa crise é mais severa no Sudeste, e isso é importante porque temos instalações de produção no país inteiro, o que nos dá mais flexibilidade para deslocar a produção, como já fizemos na crise anterior. Essa é uma alternativa”, disse Faraco.
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Além disso, com o estoque maior, a companhia vai conseguir atender os clientes no final deste ano e no início de 2022, caso a situação se agrave, afirmou o executivo.
A Gerdau tem geração própria na Usina de Ouro Branco, em Minas Gerais, que consegue suprir de 60% a 70% de sua demanda de energia. “Temos ainda a usina de Dona Francisca, no Sul do país, que também é integrada a nossa matriz energética no Brasil. Vamos preparar a organização para um cenário pior do que o atual”, afirmou Faraco.
Aumento da demanda
O presidente da siderúrgica Gerdau, Gustavo Werneck, disse que a companhia acompanha “com muita atenção” o crescimento do contágio da variante Delta no mundo e os impactos que essa disseminação pode causar sobre a economia mundial.
“Acompanhamos de perto as novas variantes do coronavirus e os impactos que elas podem causar apesar do avanço da vacinação em vários países. Além disso, no curto prazo, no Brasil, estamos atentos às eleições em um cenário que reflete as incertezas politicas no país”, disse Werneck.
A condução da política econômica também está sendo observada pela Gerdau. Segundo o executivo, haverá impacto da inflação no poder de compra do brasileiro e, em consequência, no consumo.
“Há ainda o problema da escassez de chip para a indústria automotiva que deve se prolongar por mais tempo. Essas são questões que podem refletir no nosso negócio no curto prazo.”
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Apesar desses desafios, a companhia estima uma demanda por aço crescente no Brasil no próximo ano, segundo Faraco, diretor responsável pelas unidades na América do Sul. “A demanda vem aumentando mês a mês desde maio de 2020, e esse movimento vai continuar”, disse.
Faraco acrescentou que a Gerdau se prepara para atender essa demanda com o aumento da capacidade, como a retomada de operações no Rio de Janeiro e a unidade no Ceará. Hoje, a companhia opera, no segmento de longos, com 80% da capacidade. Já em chapas grossas, a capacidade está em 75%, enquanto em bobinas a quente, fabricadas em Ouro Branco (MG), opera em sua capacidade máxima.
O segmento do varejo também é um grande indutor da alta da demanda no Brasil. Segundo Faraco, hoje o varejo representa 50% do mercado brasileiro. A Gerdau tem uma parceria com a Tigre e a Votorantim Cimentos em um marketplace, chamado Juntos Somos Mais, que já conta com mais de 100 mil empresas integradas, informou.
“Na América do Sul, na Argentina, Peru e Uruguai, também temos expectativas de crescimento de demanda. A nossa estimativa é uma alta de 20% a 30% nas nossas entregas nesses países puxada pelos setores de mineração, agronegócio e construção. Em 2022, teremos uma demanda sólida na região.”
Mercado externo
Com o problema do abastecimento do mercado doméstico de aço resolvido, a Gerdau agora se volta ao mercado externo. Segundo Faraco, a companhia deve voltar aos níveis históricos de exportação já este ano.
“Com a pandemia, toda a indústria se voltou para o mercado doméstico. No ano passado, praticamente zeramos as exportações para atendermos o mercado interno. Agora estamos retomando a níveis tradicionais saindo de 4% até 15% nos próximos meses”, disse Faraco.
O executivo ressaltou que as remessas são basicamente para as coligadas e para mercados históricos. “Temos capacidade das usinas disponível e por isso estamos olhando o mercado de exportação com mais afinco. Há alguns negócios rentáveis”, afirmou ele.
Para o aumento da capacidade a Gerdau reativou algumas operações. Os investimentos nessa retomada estão contemplados nos investimentos operacionais previstos para este ano de R$ 3,5 bilhões. Segundo o diretor financeiro, Harley Scardoelli, desse total a companhia já gastou R$ 1 bilhão. O executivo ressaltou, ainda, que o primeiro semestre deste ano a Gerdau acumulou recordes.
“A nossa alavancagem, de 0,65 vez é a menor em 14 anos. Temos meta de chegar de 1 vez a 1,5 vezes no máximo e estamos abaixo. A alavancagem está sob controle. Tivemos um Ebitda recorde no semestre de R$ 10,2 bilhões. É um desempenho que nos prepara para o futuro.”
Fonte: Valor