De São Paulo - "No Brasil sempre foi assim", diz Gianni Coda, quando o assunto é aumento no preço do aço. Ao lembrar-se dos tempos em que foi presidente da filial brasileira da montadora, entre 1999 e 2002, o engenheiro italiano gesticula, bate na mesa e dá uma gargalhada. "Aqui o aço custa 40% mais", afirma.
Hoje no comando das compras do grupo Fiat em todo o mundo, Coda esteve no Brasil esta semana e soube que a filial brasileira pretende importar este ano entre 15% e 20% do aço que usa de países como Coreia e Taiwan. Segundo a montadora, mesmo levando em conta os custos com a alíquota do Imposto de Importação e frete, o aço vindo do exterior custa ainda 15% menos.
Apesar do tempo que se passou desde que o executivo trabalhou no país, Coda consegue se comunicar em bom português. Gesticulando o tempo todo, o engenheiro italiano só interrompe a conversa para tirar a dúvida com algumas palavras. "É demanda que se diz?", questiona. É demanda, sim, o que ele acha que leva as siderúrgicas a cobrar mais pelo aço que vendem no Brasil, mesmo sendo este o país que mais produz minério de ferro.
Mas se o produto estrangeiro é mais barato por que não importar mais? "Porque precisamos manter uma boa relação com as aciarias", responde o italiano. Coda explica que, na Europa, a Fiat conseguiu negociar com as siderúrgicas preço fixo para o fornecimento durante o ano todo.
A empresa não consegue, porém, usar o aço comprado na Europa para abastecer a filial brasileira. "A siderúrgica, que é a mesma que fornece no Brasil, a Arcelor, não permitiria", diz. Coda estima que o preço mundial do aço, que já está acima dos níveis de antes da crise no fim de 2008, deverá começar a cair a partir de setembro.
O diretor de compras da Fiat no Brasil, Osias Galantine, diz que a montadora prefere negociar com os fornecedores locais a pleitear do governo a isenção de impostos para o produto importado. Mas as discussões não têm sido das mais fáceis.
A empresa diz que um carro leva em torno de 60% em aço do seu peso total. No custo, o peso da matéria-prima é de 20%, em média, segundo a montadora, no carro feito na Europa e de até 40% no Brasil. "Porque na Europa o peso de itens eletrônicos é maior", diz Coda. .
A dependência do aço é inevitável, lamenta Coda. Segundo ele, para ser produzido, qualquer carro vai, ainda por um bom tempo, carregar pelo menos uma tonelada do produto. (MO)
Fonte: Valor Econômico/
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