A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, criticou nesta terça-feira (12-7), em discurso no Plenário do Senado, a falta de investimentos em logística e lembrou que o investimento em 2.700 quilômetros de uma hidrovia, a Tocantins, permitiria o escoamento de tudo o que produzido na Zona Franca de Manaus e a distribuição de todo o combustível da região Norte do País e do Centro-Norte, reduzindo custos. “A hidrovia Tocantins está empatada por uma eclusa em Lajeado”, lembrou ao acrescentar que está sendo construída outra hidroelétrica em Estreito, também sem a eclusa. “Os barramentos próximos ao futuro Porto de Praia Norte impedem que essa hidrovia possa ser um instrumento poderoso para o Brasil diminuir custo”, afirmou. A construção da hidrovia Tocantins, estimou, custaria R$ 1,5 bilhão, valor inferior ao desviado, segundo denúncias da revista Veja, em apenas uma obra conduzida pelo Ministério dos Transportes no período de um ano.
A senadora Kátia Abreu avaliou, também, a condição do transporte hidroviário em países que concorrem com o Brasil no mercado internacional. Enquanto os Estados Unidos têm 41 mil quilômetros de hidrovias; a China tem 124 mil; a Rússia, 102 mil; e o Brasil, 7 mil quilômetros de hidrovias. “Essa condição empata o nosso crescimento.
Estamos empatando os nossos Mississipis com as hidrelétricas sem as eclusas”, afirmou. Ao criticar a falta de investimentos em logística, a senadora Kátia Abreu citou denúncias de superfaturamento em obras do Ministério dos Transportes. “É por isso que o dinheiro não dá. Se é um sistema viciado, de anos e anos, vamos corrigir, vamos estancar essa ferida. Mas nós precisamos de logística. O País não pode continuar com o custo com que se encontra”, afirmou.
Para comprovar a ineficiência do sistema brasileiro de transporte, a presidente da CNA acrescentou, ainda, que são quatro milhões de quilômetros de rodovias asfaltadas nos Estados Unidos; na China, são 1,5 milhões de quilômetros asfaltados; e no Brasil, 196 mil quilômetros. “Esses são nossos concorrentes. Nossos concorrentes são os americanos, são os chineses, são os australianos, são os canadenses, que vão nos tirar do ramo, porque não temos logística”, afirmou. Acrescentou, ainda, as péssimas condições das estradas. “Nós sabemos que 70% das estradas do País são péssimas ou ruins”, avaliou.
Em seu discurso, a presidente da CNA citou ainda os problemas das ferrovias. Nos Estados Unidos, as ferrovias somam 226 mil quilômetros. Na China, são 74 mil quilômetros. “No Canadá, são 48 mil quilômetros, apesar das grandes extensões de gelo naquele país e de que muito pouca área daquele país produz. E no Brasil, são 29 mil quilômetros de ferrovias, enquanto o recurso público vai pelo ralo”, afirmou a senadora Kátia Abreu ao lembrar que o Ministério dos Transportes deveria “ser um ministério vital para o país, junto com a Agricultura, porque não existe produção, não existe industrialização, sem logística”.
Após apresentar uma radiografia da logística do País, a presidente da CNA avaliou os custos para implantação de cada um desses modais e afirmou que os governos anteriores não priorizaram as hidrovias sob alegação de que os custos de instalação são altos. “Mas quero dizer que construir um quilômetro de ferrovia custa R$ 6 milhões; de rodovias, R$ 2,5 milhões, mas de hidrovias não chega a R$ 50 mil, dependendo das condições do rio, como é o caso do rio Madeira, que já nasceu pronto. Basta a eclusa do Madeira, das hidrelétricas que estão sendo feitas em Jirau, para que oportunizássemos mais quatro hidrovias para fora do país”, afirmou. Em seu discurso, a senadora Kátia Abreu também lamentou que a partilha de cargos no governo seja feita por interesse de partidos. “Muitas vezes, os interesses dos estados são comprometidos. O povo não consegue entender como os cargos são divididos”, afirmou.
A senadora Kátia Abreu também destacou o artigo Por que os brasileiros não reagem?, de Juan Arias, correspondente do jornal El Pais no Brasil, texto publicado originalmente no periódico e reproduzido pelo jornal O Globo na última segunda-feira (11/7). A presidente da CNA classificou o artigo como "brilhante", mas disse que lia o texto "com muita tristeza". “Eu quero ler alguns trechos do artigo com muita tristeza. Não quero entrar em detalhes, nos méritos das culpas, dos erros, que são muitos, imensos, mas para uma reflexão de todos nós”, afirmou a senadora Kátia Abreu.
O artigo lembra que, em seis meses, a presidente Dilma Rousseff já afastou dois ministros importantes. Juan Arias diz que no Brasil não existe o "fenômeno dos indignados", comum em todo o mundo. "Será que os brasileiros não se importam que os políticos sejam salteadores do dinheiro público?", questiona o autor. Os senadores Armando Monteiro (PTB-PE) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) fizeram apartes e elogiaram o discurso da senadora Kátia Abreu.
Fonte: CNA
PUBLICIDADE