Incluída no Programa Nacional de Desestatização (PND), a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) teve sua previsão de privatização adiada pelo governo, de janeiro de 2021 para o segundo trimestre do mesmo ano, devido aos efeitos da crise. Para o presidente da companhia, Carlos Henrique Seixas, a depender do modelo que for adotado pelo governo, o processo pode ser benéfico à empresa, cuja fábrica, localizada em Itaguaí, no litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro, completará 40 anos de funcionamento nesta semana.
“O PPI [Programa de Parcerias de Investimentos] vai decidir qual será a linha de ação a ser adotada. Ela poderá ser muito favorável para a empresa”, afirmou o executivo, ao Valor. “O parceiro privado pode nos dar a flexibilidade que não temos. O fato de ter entrado no PND, dependendo do estudo que for feito e da linha de ação que for adotada, pode, sim, ser benéfico para a empresa. Vejo com bons olhos como algo que vai ajudar a empresa no futuro”.
PUBLICIDADE
Principal fornecedora de componentes para a indústria de energia nuclear do país, a Nuclep aguarda a definição pelo governo para a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3 e de outros projetos do tipo no futuro. Enquanto isso, a empresa diversificou sua atuação e iniciou este mês a fabricação de torres para o segmento de transmissão de energia.
Seixas explica que a entrada no setor de transmissão tem o objetivo de ampliar e garantir maior previsibilidade ao faturamento da estatal. A expectativa é que o faturamento cresça dos R$ 146 milhões previstos para este ano, para R$ 200 milhões em 2021 e R$ 300 milhões no ano seguinte, impulsionado principalmente pelo mercado de torres transmissão, que possui demanda reprimida, fruto das concessões contratadas nos leilões realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nos últimos anos. A companhia já possui encomendas da empreiteira Tabocas e do grupo Neoenergia.
“As torres de transmissão vão dar o faturamento mensal que precisamos para manter a empresa capacitada para construir os equipamentos para usinas nucleares e o submarino de propulsão nuclear da Marinha, que precisa de uma tecnologia que nós temos”, completou Seixas. Segundo ele, a Nuclep possui uma certificação americana que a credencia para fazer equipamentos e soldas especiais para o segmento nuclear.
As torres de transmissão serão produzidas no parque fabril da companhia, situado em uma área de 1 milhão de metros de quadrados. A capacidade da linha de montagem de torres, atualmente de 12 mil toneladas ao ano, deverá crescer para 30 mil toneladas por ano, em setembro, com a chegada de novas máquinas. O investimento na aquisição dos equipamentos foi da ordem de R$ 9 milhões.
Em outra frente, a Nuclep está construindo uma parte do reator do protótipo do submarino de propulsão nuclear em desenvolvimento pela Marinha, cujo contrato foi assinado no ano passado. A empresa também está construindo uma máquina de mineração de 1.600 toneladas para a Thyssenkrupp, uma torre de processos para a Petrobras e um condensador para Angra 3.
Ele prevê tempos difíceis devido à crise. “Vejo duas vertentes [para a Nuclep]: a Marinha, com o submarino de propulsão nuclear, e as torres de transmissão. Para o restante, acredito que haverá retração”.
Fonte: Valor