O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas apenas o 23º no ranking de exportadores, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados). A venda do produto nacional ainda esbarra em questões logísticas, cenário que foi agravado com a pandemia de coronavírus.
Cerca de 10% dos produtos exportados dependem de aviões para chegar ao destino. Com o fechamento de aeroportos durante a quarentena, frutas sensíveis e com menor tempo de vida deixaram de embarcar.
“A carga geralmente vai nos porões de aviões de passageiros.
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Como não tivemos os voos, consequentemente não tivemos essa exportação”, afirma Guilherme Coelho, que é presidente da Abrafrutas.
No primeiro semestre de 2020, o volume de frutas exportado pelo país caiu 5% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 399,8 milhões de quilos. Alguns itens, como pêssegos e caquis, sofreram mais, com quedas acima dos 50%.
A expectativa é de recuperação no segundo semestre quando, tradicionalmente, há maior volume de exportação.
Guilherme Coelho produz há 25 anos mangas e uvas em sua fazenda de 200 hectares em Petrolina, Pernambuco. Ele criou o plantio já de olho no potencial de venda para o exterior e hoje envia seus produtos para destinos como Estados Unidos e Inglaterra.
Para isso, o agricultor teve de obter certificados internacionais obrigatórios de boas práticas de higiene, manuseio da fruta e cuidados com a mão de obra.
Como são produtos perecíveis e de vida útil curta, toda a cadeia de transporte tem de funcionar muito bem, diz Luiz Roberto Barcelos, sócio da Agrícola Famosa, em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
“Precisamos de portos com boa estrutura. Além disso, a liberação de carga pela Receita Federal e pelo Ministério da Agricultura tem que correr bem para o navio não sair sem a fruta por causa de burocracia.”
Para exportar os melões produzidos em sua propriedade, Barcelos também recorre ao transporte marítimo. Quase 90% da produção é comprada por países europeus, entre eles Inglaterra, Holanda e Espanha. São 8.000 hectares de plantação, onde ele também cultiva melancias.
“Ter dois mercados, o interno e o externo, é melhor do que ter só um. Ainda mais para quem trabalha com produto fresco, que é muito perecível”, afirma Barcelos, que exporta seus produtos desde 1995.
As exigências fitossanitárias e as tarifas da exportação, contudo, acabam assustando boa parte dos produtores brasileiros.
Para Barcelos, falta no setor a cultura de vender para fora. “Fica difícil porque o Brasil quase não tem acordos bilaterais. São poucos os mercados abertos para gente”, diz o produtor, que reclama também da falta de registro por órgãos federais de defensivos usados na lavoura, o que impede a obtenção dos documentos para exportação.
Entre as frutas mais resistentes, a maçã tem 5% a 10% da sua safra exportada via navio. Chega a passar 60 dias em uma embarcação para chegar em Bangladesh, por exemplo. Se o destino for a Europa, são cerca de 20 dias de viagem.
“É bom exportar porque nos obriga a manter os melhores padrões. A exigência é tremenda”, afirma Pierre Nicolas Pérès, presidente da ABPM (Associação Brasileira de Produtores de Maçã).
O setor fruticultor brasileiro tenta conquistar novas fronteiras. Em breve, melões nacionais devem ser enviados à China. Há negociações também para vender avocado para o Chile e maçã para a Colômbia.
Durante a pandemia, houve um crescimento na venda de cítricos, tanto para dentro quanto para fora do país. Os produtores relacionam a alta à maior procura por alimentos fontes de vitamina C.
As exportações de laranja tiveram alta de 132% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019, segundo a Abrafrutas. A venda de tangerinas para o exterior aumentou 158%, a de limões e limas, 12%, e a de kiwis, 25%.
“Não sei o que vai ser do mundo depois da pandemia, mas sei que as pessoas vão comer mais fruta porque não tem nada mais saudável”, diz Coelho.
Fonte: Folha SP