O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse nesta terça-feira, 4, que a questão ambiental será decisiva nas negociações comerciais nos próximos anos.
“Qualquer grande acordo mundial no futuro incluirá questão ambiental. Na OMC, começam a falar de negociações que levem questão ambiental em consideração. Ela não vai sumir e temos que estar preparados para lidar com ela de maneira construtiva e crível”, afirmou.
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Azevêdo, que deixa o cargo no fim do mês, ressaltou que o momento político não é o “mais favorável” para a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que ainda depende de análise dos parlamentos dos países de cada bloco.
Uma das críticas dos europeus ao acordo é justamente em relação ao Brasil e o temor de que leve ao aumento do desmatamento no País. O diretor-geral recomendou que os negociadores procurem “pensar no longo prazo”, mas sem perder o senso de urgência.
Em evento virtual organizado pela Câmara de Comércio Internacional no Brasil (ICC Brasil) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Azevêdo disse ainda que a pandemia do coronavírus não acabará com a globalização, mas deverá trazer mudanças para o comércio internacional e o relacionamento entre os países.
Ele afirmou que a “nova cara” da globalização passará por uma reconfiguração das cadeias globais de valor, com as corporações tentando reduzir as dependências em relação a um só insumo, um só fornecedor ou uma só região.
“A pandemia expôs o risco de concentração da produção. As cadeias de produção serão ampliadas e o Brasil pode se aproveitar de oportunidade. Mas tem que ter competitividade”, acrescentou.
O diretor-geral ponderou que o discurso antiglobalização continuará no futuro imediato. “Há um crescimento de frustração nas populações, sobretudo na classe média, que encontra no comércio exterior um bode expiatório para questões como o desemprego. A causa do desemprego é o avanço tecnológico, atacar a globalização não resolve o problema.”
Comércio
Para Azevêdo, a pandemia do coronavírus levará o comércio internacional a sofrer “inevitavelmente” um grande baque em 2020. A previsão dos economistas da entidade é de perda de 13% neste ano. “Isso é pior do que na crise de 2008/2009, pior do que isso só na Grande Depressão.”
Ele acredita que o eixo EUA- China continuará ditando a política internacional nos próximos anos, mesmo após o coronavírus. E lembrou que a disputa entre as duas potências vinha causando tensões mesmo antes da pandemia. “EUA e China se veem como rivais, sobretudo o lado norte-americano, e têm modelos políticos diferentes. Isso leva a tensões. Houve desaceleração econômica em 2019, já resultado de tensões entre EUA e China”, completou.
Fonte: Estadão