O anúncio da Companhia Vale do Rio Doce de que a partir de abril o preço do seu minério de ferro terá uma elevação de 114% explodiu como uma bomba nos mercados internacional e doméstico. É difícil entender como o preço de uma commodity com oferta abundante no mundo pode sofrer um reajuste dessa ordem, considerando, sobretudo, que a elevação do preço dessa matéria-prima afeta a quase totalidade dos bens da indústria de transformação, tornando-se um vetor da inflação.
Para entender o problema é preciso ter presente que, no mundo, apenas três grupos ? a Vale, a Rio Tinto e a BHP ? controlam o mercado de minério de ferro, representando um oligopólio que enfrenta um forte comprador: a China. No entanto, dadas as suas enormes necessidades, a China não pode escapar das decisões desses fornecedores, que naturalmente agem em comum acordo, cujos detalhes não foram revelados. O objetivo parece ser o de extinguir contratos de longo prazo com reajuste trimestral, que levam em conta a qualidade do minério (teor), o vínculo com o preço de outra commodity (carvão) e estabelecem um sistema de indexação do custo do transporte marítimo. O reajuste de preços se funda na crença de que a economia mundial, e não apenas a da China, está em recuperação. As empresas de mineração não procuraram justificar o reajuste dos preços e levaram em conta apenas a necessidade dos investimentos que terão de realizar para acompanhar o crescimento da demanda.
As repercussões desse aumento, caso seja aceito no plano internacional, poderão ser perturbadoras. Uma elevação do preço do minério nessa proporção poderá ter um efeito sobre o preço do aço de 12% a 15%, que por sua vez vai repercutir em toda a cadeia de produtos manufaturados, naturalmente com variações relativas a cada produto, com o maior impacto sobre veículos de todo tipo e equipamentos pesados.
Seria necessário convencer a Vale a não impor um reajuste tão brutal, sabendo que é necessário que o preço doméstico não fique muito abaixo do preço internacional.
Em compensação, estima-se que as receitas de exportação poderão crescer mais de US$ 10 bilhões, reduzindo o déficit em conta corrente, embora a China tenha avisado que vai comprar mais aço do que minério para escapar do monopólio dos fornecedores. Isso explica, aliás, o interesse das mineradoras de expandir sua produção de aço, que permite maior valor adicionado. Neste quadro, a política monetária do governo volta a ter grande importância.
Fonte: Estadão
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