Depois de sofrer com quebras de safra no ano passado, o produtor brasileiro de milho tem motivos para comemorar. Devido à antecipação do plantio, a produtividade do ciclo 2018/19 - que está saindo dos campos agora - será recorde. A consultoria Agroconsult projeta rendimento de 101 sacas de 60 quilos por hectare na safrinha. Com isso, a produção da segunda safra deverá somar 74,6 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 38% em relação à temporada passada.
Considerando também a safra de verão, já colhida, a produção total de milho no Brasil deverá alcançar 101,2 milhões de toneladas nesta safra 2018/19, crescimento de 25%.
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Mas o maior volume colhido, por si só, não seria tão animador. O que beneficia os produtores é a demanda externa, impulsionada pela quebra de safra americana. Além disso, a perspectiva de maior demanda por carnes da China, que sofre com um surto de peste suína africana, tende a aumentar a produção de ração - feita com milho, sobretudo - no país.
"Não fosse a virada com a futura quebra da safra americana, teríamos de fazer o Natal com pamonha", brincou ontem o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, em evento em São Paulo. A consultoria elevou a perspectiva de exportações de 32 milhões para 38 milhões de toneladas, bem acima do recorde de cerca de 30 milhões de 2015 e de 2017. Em 2018, foram 23,5 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura.
"A dúvida hoje é se 38 milhões é o número mesmo ou se vai ter de revisar para cima", afirmou Pessôa. Segundo ele, o desenvolvimento da safra americana poderá ser pior que o previsto e abrir mais espaço para Brasil e Argentina. Para Cesário Ramalho da Silva, presidente da Aliança Internacional do Milho, dada a boa produtividade as exportações poderão atingir até 40 milhões de toneladas. "E os preços poderão subir com a quebra nos EUA", disse.
Mas esse o otimismo não é unânime. "Não acho que tem mercado para tudo isso. A gente trabalha com um número de até 32 milhões de toneladas", disse Lucas Eduardo de Brito, assistente executivo da A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Apesar do cenário mais pessimista traçado, Sérgio Mendes, diretor-executivo da entidade, não descarta reviravoltas. "A gente tem de lembrar que as exportações de milho vão em soluço".
No mercado interno, a demanda também vai ser recorde. A indústria de ração deverá demandar neste ano 51,7 milhões de toneladas, reflexo do aumento das exportações de suínos e frango. Considerando o milho destinado para a produção de etanol, a demanda interna deve chegar a 62,8 milhões de toneladas, conforme a Agroconsult. "Primeira vez na história o consumo vai superar 60 milhões de toneladas", disse Pêssoa.
Fonte: Valor