Dinheiro sobrando no caixa e os pagamentos semanais de fornecedores e prestadores de serviços rigorosamente em dia transformaram a prefeitura de Jeceaba, pequeno município de apenas 6 mil habitantes e tradição agrícola da região central de Minas Gerais, em um caso raro de bonança nas administrações municipais.
O pulo surpreendente da arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISSQN) - de R$ 50 mil por mês em meados do ano passado para quase R$ 1,5 milhão mensais, ou seja, cerca de 30 vezes mais - é um dos reflexos mais imediatos da injeção de recursos na cidade escolhida para abrigar a mais moderna fábrica de tubos de aço sem costura do mundo, para o setor de petróleo e gás. A estrutura gigantesca da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB), joint venture formada pelas multinacionais da siderurgia Vallourec Mannesmann e Sumitomo, está saindo do chão rapidamente e deve alcançar o pico das obras no começo de abril.
São 7 mil pessoas trabalhando no projeto, que deu impulso a investimentos na construção civil e no comércio local. A região vive mudanças, num misto de apostas na prosperidade econômica e de preocupação com o jeito de viver das cidades grandes, que mostra a sua cara não só em Jeceaba, como também nas vizinhas São Brás do Suaçuí e Entre Rios de Minas.
Com uma receita tão polpuda que atropelou a capacidade do governo municipal de definir e executar projetos de interesse da população, atendendo à lei de licitações, só agora o prefeito de Jeceaba, Júlio César Reis, traçou os planos para um novo centro administrativo, equipado com escola, centros de saúde e lazer. A receita total cresceu 150% ao mês nos últimos seis meses.
A negociação de um terreno de 160 mil metros quadrados, futuro endereço do centro administrativo - algo difícil de imaginar ante os cômodos modestos de uma pequena casa de dois andares em que a prefeitura se ajeita no centro da cidade - faz inveja, diante da penúria dos pequenos municípios. "Pagamos R$ 1.450.000 à vista. Antes da siderúrgica, o terreno foi oferecido à prefeitura por R$ 230 mil e não pudemos comprar", conta Júlio Reis.
Na Praça Tancredo Neves, já reformada, o tempo das conversas não é mais tão longo. O trânsito de caminhões e ônibus virou rotina pela manhã e à tarde, um cenário animador para a nova loja de cosméticos aberta por Márcia Gonçalves Rocha, que trocou um antigo sacolão pela promessa de mais lucro. "A cidade cresceu muito e as vendas refletem esse crescimento todo mês", afirma.
CONCORRÊNCIA. Nas prateleiras, o consumidor encontra produtos que tinha de buscar em municípios maiores da região e até tintas importadas. Concorrência no varejo também parece ser algo novo em Jeceaba. Cláudia Helena dos Reis, que estava desempregada há um ano e meio, foi contratada como vendedora na mais recente filial da rede Iza Móveis e Eletro, de Congonhas. A empresa chegou com planos de financiamento em até dez meses.
"A cidade melhorou e as pessoas estão procurando estudar para ter mais opção de emprego", conta Cláudia Helena, que optou pelo curso de logística oferecido a distância por uma universidade de São Brás do Suaçuí. Com seus 3,4 mil habitantes, São Brás é a opção mais próxima para o almoço de uma população flutuante que ninguém se arrisca a calcular neste momento.
Aberto há dois anos na cidade, o Restaurante e Pizzaria Brasão passou a concentrar 90% do seu faturamento nas 600 refeições servidas todo dia aos empregados das 28 empreiteiras e prestadoras de serviços à VSB. Boa parte delas já informou à administradora da casa, Andréa Cristina Coutinho, que vai trabalhar na região por pelo menos mais dez anos. "Quem quer ganhar dinheiro aqui, tem de se estabelecer agora", afirma Andréa.
25 DE MARÇO. O sentimento não parece ser diferente em Entre Rios de Minas, onde o negócio da hora é o aluguel de casas ou parte delas para abrigar brasileiros e estrangeiros envolvidos na construção da siderúrgica. O trânsito intenso do fim da tarde nem parece pertencer àquela tranquila cidade às margens da rodovia que liga a BR-040, na altura de Congonhas, a São João del-Rei, observa Magno Gonçalves Coelho, secretário de planejamento e finanças do município. "Nossa rua principal de comércio já faz lembrar a 25 de Março (rua mais movimentada do comércio popular de São Paulo)", afirma.
Quem imaginaria a falta de mão-de-obra na região, por exemplo, na construção civil? Preocupado, o prefeito de Conselheiro Lafaiete, José Milton de Carvalho Rocha, entregou no fim de janeiro ao governo estadual um relatório contendo um pacote de projetos de infraestrutura viária, saúde e saneamento básico para que a região possa preparar o seu crescimento.
Lafaiete, com 130 mil habitantes, é polo regional de serviços de educação e saúde na área de influência direta da VSB, mas não quer ficar só com o ônus do crescimento prometido no entorno da empresa. "Não é possível o desenvolvimento de toda a região sem esse planejamento", diz Rocha. Entre as propostas, está a construção de uma avenida perimetral para desafogar o trânsito e a transformação do aeroporto em terminal regional.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/Marta Vieira)
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