Instituto de pesquisa dos Estados Unidos especializado na indústria de petróleo, o Oil Change International (OIC) divulgou neste mês um relatório sobre o efetivo compromisso das grandes empresas de petróleo americanas (Chevron e ExxonMobil) e europeias (British Petroleum, Equinor, Repson, Shell, Eni e Total) com os efeitos das mudanças climáticas. A constatação é que, nestas companhias, a produção de petróleo – e, portanto, a emissão de carbono na atmosfera – tende a crescer até 2030. No Brasil, a Petrobrás segue o mesmo caminho. O coração do negócio da companhia (que não foi incluída no relatório) continua a ser o petróleo do pré-sal.
“Quase todas as grandes empresas de petróleo e gás vão contribuir ainda mais com a crise climática até 2030. Nenhuma delas liberou um compromisso ou plano de sustentabilidade que atenda aos critérios mínimos de alinhamento com o Acordo de Paris. Os governos vão precisar intervir para assegurar uma eliminação gradual (dos fósseis) que reflita a urgência e a ambição dos limites de temperatura (previstos no acordo)”, afirma o relatório da OIC, elaborado a partir de projeções da consultoria Rystad Energy, e que faz referência ao acordo aprovado em dezembro de 2015 estabelecendo o compromisso de países para tentar conter o aquecimento global.
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Gigantes do petróleo
Estudo do OIL considerou as maiores empresas de petróleo em operação nos Estados Unidos e na Europa. Foto: File Photo/Reuters
O que a OIC demonstra é que a presença do petróleo no cardápio de projetos das multinacionais está, na verdade, crescendo, com exceção da italiana Eni. Nas demais, o cenário é de avanço significativo, principalmente, nas gigantes ExxonMobil e Shell – que na próxima década devem elevar a extração de petróleo em 52% e 22%, respectivamente, segundo a OIC.
Já a produção de gás natural, considerado por especialistas como estratégico na transição para uma matriz energética mais limpa, deve perder força até 2030. Somente a British Petroleum, a ExxonMobil e a Shell planejam crescer neste segmento.
A OIC também analisou se as companhias petrolíferas pretendem reduzir a busca por novos reservatórios de petróleo na próxima década. Segundo o instituto, isso já acontece na companhia britânica – que em dez anos vai diminuir a busca por novos reservatórios em 30% – e na Eni – que seguirá a mesma trajetória daqui a cinco anos. As demais petrolíferas não preveem qualquer ação nesse sentido.
Petrobrás
No Brasil, a projeção é de crescimento da produção de petróleo de pelo menos 25% até 2030, segundo relatório da FGV Energia, assinado pela ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Magda Chambriard e pelo pesquisador Pedro Neves.
As estimativas são baseadas no plano de negócios divulgado pela Petrobrás. Os insumos fósseis continuam sendo prioridade para a estatal e não há na empresa previsão de investimento em fontes renováveis na próxima década.
A exceção é um estudo para instalar turbinas eólicas flutuantes que devem fornecer energia apenas para o funcionamento de equipamentos submarinos de campos do pré-sal. Em suas refinarias, até vai misturar matéria-prima limpa ao petróleo, que deve gerar produtos menos poluentes que os atuais. Mas, nem assim, não vai se diferenciar muito de suas congêneres no mundo.
“A exemplo das multinacionais, a Petrobrás vai seguir com foco na produção de petróleo. A diferença da estatal para as outras empresas, principalmente as europeias, é que planeja se ausentar por completo da indústria de geração de energia limpa. Em todo caso, tanto a Petrobrás quanto as multinacionais continuarão sendo empresas sujas na próxima década”, avalia Rodrigo Leão, coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Em evento na semana passada, o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, considerou exagerada a posição de companhias petrolíferas que têm se posicionado pela aceleração do processo de transição energética. “(As empresas europeias) têm de responder à militância na Europa. Mas elas não têm oportunidade de crescer. Nós temos ativos de baixo custo. Há também um pouco de hipocrisia nisso tudo”, afirmou o executivo.
Fonte: Estadão