A retomada intensa do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre deste ano na China e a estimativa de um crescimento de 9% no ano vão impulsionar ainda mais as exportações do agronegócio brasileiro para os países asiáticos.
Motor da economia da região, a China permitirá que um número maior da população dos países asiáticos ascenda à classe média, elevando a demanda por alimentos, principalmente proteínas.
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“A Ásia é o parceiro inevitável. Não cabe mais a discussão de alguns setores sobre o Brasil dever ou não buscar os países daquela região”, diz Lígia Dutra, superintendente de relações internacionais da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Essa é uma discussão superada e desnecessária, acrescenta ela.
Dutra tem razão. A China continua sendo essencial para o agronegócio brasileiro, mas os demais países da região aumentam cada vez mais as compras de produtos brasileiros.
No mês passado, a China elevou em 40% as importações do agronegócio brasileiro, em relação a março de 2020. No mesmo período, Vietnã e Paquistão dobraram os negócios com esse setor.
E essa não é uma conta isolada. Se for considerado o primeiro trimestre do ano, as exportações brasileiras aumentaram 62% para a Indonésia, 50% para Vietnã, 30% para Tailândia e 9% para a China.
São quantidades e valores menores do que os dos chineses, mas a soma da região ganha cada vez mais importância.
Em 2000, as exportações do setor para a Ásia somaram US$ 1,94 bilhão em alimentos. Dez anos depois, atingiram US$ 19,48 bilhões, terminando 2020 com US$ 42,3 bilhões.
A China, inicialmente com importações de soja, foi sempre o carro-chefe na região. Saindo da exclusividade da soja, foi ganhando importância nas carnes, nos produtos florestais e, mais recentemente, no açúcar no mercado brasileiro.
A presença dos demais países da região também tem sido de relevância nos anos recentes nas compras de produtos brasileiros. Dutra diz acreditar, no entanto, que é hora de o país avançar ainda mais.
A evolução econômica no Sudeste Asiático tem forte correlação com o aumento da classe média, que muda os hábitos de consumo. Ela tem, cada vez mais, necessidade de produtos de origem no Ocidente.
O agronegócio brasileiro está atrelado ao mercado chinês, mas há grandes oportunidades em todo o Sudeste Asiático, diz a coordenadora de relações internacionais da CNA.
O Brasil tem de investir na região para suprir parte dos produtos que estão sendo incorporados, cada vez mais, à dieta alimentar dos consumidores desses países, como proteínas, lácteos, café e outros. O momento é agora, diz a superintendente.
Ela cita o exemplo da China. Conforme dados divulgados nesta segunda-feira (19) pela CNA, 90% das exportações para esse país asiático estiveram ancoradas em apenas quatro produtos: soja, celulose e carnes bovina e suína.
Mas a coordenadora diz que é preciso olhar para a Ásia sem descuidar dos parceiros com alta renda, como Europa e Estados Unidos. Eles ficam com os produtos de maior valor agregado.
Nem sempre, porém, se consegue manter os mesmos padrões de exportações. As vendas de alimentos para a União Europeia, que subiram 158% de 2000 para 2010, recuaram 13% na última década. As exportações para o Oriente Médio também, após intenso crescimento na primeira década deste século, caíram 21% na segunda.
Entre os cinco principais blocos comerciais do país, a África surpreende, registrando o maior percentual de evolução nos últimos 12 meses.
Os africanos adquiriram US$ 6,4 bilhões de abril de 2020 a março de 2021, 20% mais do que em igual período anterior.
Na avaliação de Dutra, pela diversificação da pauta de exportação, o Brasil tem capacidade de atender qualquer região do mundo.
O aumento do apetite chinês e o ganho de importância de itens como os do complexo sucroalcooleiro na balança comercial devem levar as exportações brasileiras do agronegócio a novo recorde. Nos últimos 12 meses, as receitas já ultrapassam US$ 100 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Fonte: Folha SP