Por Fernando Torres e Vera Saavedra Durão, de São Paulo e do Rio
Vilões de 2009 em termos de resultado das companhias abertas, os setores de mineração e siderurgia já começam a atrair a atenção dos investidores em 2010.
Embora os números do quarto trimestre do ano passado ainda tenham mostrado queda na comparação anual, o tom das empresas em seus relatórios mudou radicalmente. Enquanto um ano atrás os textos tinham como foco a crise internacional e a suspensão de investimentos e da produção, hoje as empresas falam em casa arrumada, retomada dos investimentos e expectativa de alta na demanda e nos preços.
Segundo Carlos Constantini, chefe da área de análise da Itaú Corretora, nos últimos dois meses diversos analistas revisaram para cima as recomendações para as ações das empresas do setor. "Nossa carteira está com recomendação para aplicação 'overweight' (acima da média do mercado) em siderurgia. E desde o começo da crise a gente não fazia isso", afirma o analista, acrescentando que não é exceção à regra neste movimento.
Nessa linha, Constantini chama atenção para o fato de que, à medida que as companhias abertas de forma geral divulgaram os resultados referentes a 2009 e os investidores puderam conversar com os executivos sobre as projeções para os números deste ano, as recomendações foram revisadas positivamente.
Além de mineração e siderurgia, ele menciona que as expectativas ficaram mais otimistas para os setores de consumo e alimentos, construção e papel e celulose. Para as empresas de telecomunicações e de energia, ele diz que as revisões neste início de ano foram mistas, com algumas para cima e outras para baixo.
Em relação às exportadoras, Constantini avalia que a situação melhorou, já que a maioria dos analistas prevê agora que o câmbio deve ficar estável neste ano, em torno de R$ 1,80. Antes, a projeção era de valorização do real, o que prejudicaria a receita dessas companhias.
De modo geral, portanto, a visão do chefe da área de análise do Itaú é de resultados em alta para as companhias abertas em 2010, com expectativa de aumento de 20% no lucro líquido das empresas com ações listadas no Ibovespa.
O único setor que ainda patina é aquele ligado a bens de capital. "Existe a teoria de que esse é o ultimo setor a sair da crise, já que as empresas têm que voltar a investir para haver recuperação. Talvez por isso as revisões ainda não tenham acontecido", afirma Constantini, que cita os números positivos de investimento estrangeiro direto e também o anúncio de projetos de longo prazo como fatores que devem motivar uma retomada do setor. Do lado negativo, há o aumento das importações de bens de capital.
Como pano de fundo para a aposta em mineração e siderurgia está a recuperação da demanda, com previsão de elevação dos preços dos produtos. Para o minério de ferro, por exemplo, as apostas são de uma elevação significativa do preço. O Bradesco prevê alta de 96%, o Itaú fala em reajuste de 70% e a Banif Securities projeta elevação de 46%.
A CSN, que tem produção própria de ferro, mencionou ontem que não descarta aumento de 90% no preço do minério em 2010.
Em relação ao setor siderúrgico, o consultor Germano Mendes de Paula, que também é professor de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, lembra que os incentivos do governo federal para o setor automobilístico foram fundamentais para evitar uma paralisia total das empresas em 2009, já que o mercado externo minguou.
"Mas o fim do ano foi muito superior ao que se esperava no seu início e as perspectivas para 2010 são de retomada da demanda", avalia Mendes de Paula. Ele acredita que neste momento as siderúrgicas estão reavaliando os projetos de expansão, que não faziam mais o menor sentido durante a turbulência global e foram deixados de lado. A Gerdau, por exemplo, promete investir R$ 9,5 bilhões em cinco anos. (fonte: Valor)
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