Integrantes do governo federal, da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e executivos do setor de óleo e gás ouvidos pelo GLOBO apontam uma uma série de fatores que ajudam a explicar o que levou ao fracasso do leilão de petróleo realizado nesta quinta-feira pelo Executivo.
A avaliação é que o foco das grandes petroleiras globais na transição energética, a sensibilidade ambiental de grande parte dos ativos ofertados, o risco associado à carteira ofertada, e o forte portfólio que as empresas já têm no Brasil ajudam a explicar o resultado do leilão.
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Embora a ANP e tenha falado publicamente “sucesso” para o leilão, nos bastidores a avaliação é de que o resultado foi decepcionante.
O leilão realizado pela ANP nesta quinta-feira foi o pior resultado para esse tipo de oferta, em número de participantes e de áreas arrematadas desde 1999, quando foi realizada a primeira Rodada de licitações. Apenas duas empresas (Shell e a boliviana Ecopetrol) arremataram cinco blocos, de um total de 92 oferecidos pelo governo.
Técnicos que participam do leilão avaliam que a 17ª Rodada marcou um novo ciclo para a indústria de petróleo no país porque as áreas mais cobiçadas (incluindo aquelas com potencial no pré-sal) já foram arrematadas em uma sequência de leilões iniciados em 2017.
Desde 2017, as áreas que vinham sendo ofertadas eram consideradas de baixo risco e com grandes chances de sucesso na campanha de exploração.
Um executivo do setor disse que as carteiras das empresas estão cheias de ativos brasileiros em blocos que demandam altos investimentos. Aliado a isso, há uma expectativa de redução do consumo de petróleo nas próximas décadas e investimentos massivos em novas áreas podem ficar debaixo d’água.
As empresas do setor tiveram perdas de receitas em 2020 com a baixa no preço do barril de petróleo e precisam fazer caixa para investimentos em energia limpa.
Um integrante do governo lembrou também que está prevista para dezembro a licitação dos blocos de Sépia e Atapu, no pré-sal da Bacia de Santos. É possível que algumas empresas tenham poupado recursos para o leilão, que exigirá desembolsos de R$ 11 bilhões em bônus em áreas que já contam com reservas provadas.
O leilão desta quinta-feira ofertou áreas consideradas de “novas fronteiras”, com maior risco para as empresas. Duas bacias chamam atenção: Pelotas e Potiguar, ambas no centro de campanhas de ambientalistas e de entidades contrárias à exploração nessas áreas.
Seria um risco para as petroleiras entrar em áreas próximas a Fernando de Noronha e Atol das Rocas neste momento, avaliam as empresas, diante de uma grande insegurança jurídica e da dificuldade de um eventual licenciamento ambiental para a exploração das áreas.
Também havia blocos nas bacias de Campos e Santos, tradicionais para o setor. Nesses casos, porém, a ANP licitou blocos cada vez mais distante da costa e com risco exploratório elevado.
Foi a primeira vez que o governo licitou áreas além das 200 milhas náuticas, na extensão da plataforma continental do Brasil. Não houve interessados nessas áreas. As empresas avaliaram (e fizeram chegar ao governo essa análise) que as áreas têm um risco alto e um custo elevado para exploração. Ficam distante da costa, e exigem uma estrutura inédita para exploração no país.
Fonte: O Globo