O volume das importações brasileiras está crescendo em ritmo mais fraco. O quantum do total desembarcado aumentou em 14,1% no acumulado dos cinco primeiros meses, na comparação com o mesmo período de 2010. A elevação foi bem mais moderada que a verificada de janeiro a maio do ano passado em relação aos mesmos meses de 2009, quando a alta no volume de importação chegou a 40%. O aumento mais contido das quantidades importadas resultou principalmente da redução no ritmo de desembarques de bens intermediários e de combustíveis, responsáveis por 70% das importações totais do Brasil. Os intermediários (insumos e matérias-primas) representam quase 50%.
A perda de fôlego na importação de combustíveis e, principalmente de intermediários, está relacionada à desaceleração da produção industrial nos cinco primeiros meses de 2011. Com ritmo menor de crescimento em relação ao ano passado, a produção industrial chegou a ter queda de 2,1% em abril na comparação com março, com ajuste sazonal, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O efeito da menor expansão do volume no valor das importações não foi tão grande em razão da alta de preços nos desembarques. Em situação inversa do que ocorreu no ano passado, o ritmo de crescimento dos preços aumentou.
De janeiro a maio de 2011, o preço médio do total das importações cresceu 13,4% na comparação com os primeiros cinco meses do ano passado. Trata-se de uma variação maior que a do ano anterior. Levando em conta os mesmos meses, de 2009 para 2010 o crescimento de preços médios na importação foi de apenas 2,8%.
"Há uma mudança importante nas importações em relação ao ano passado", diz Fernando Ribeiro, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Em termos de volume, as importações neste ano vêm crescendo menos do que em 2010, enquanto os preços têm aumentando mais rapidamente. No ano passado, aconteceu o inverso. A alta de preços nos desembarques foi pequena, enquanto o volume disparou.
A desaceleração no volume importado neste ano deve-se, diz Ribeiro, principalmente ao menor crescimento nos desembarques de bens intermediários e combustíveis. No acumulado de janeiro a maio, o volume dos desembarques de intermediários cresceu 10,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O volume de importação de combustíveis ficou praticamente estável, com queda de 0,2%. Os dois desempenhos ficaram abaixo da média de 14,1% de crescimento no volume do total importado.
Ao contrário dos bens de consumo e dos bens de capital, a importação de bens intermediários é menos sensível ao câmbio e ao preço. "A troca de fornecedor para intermediários é mais difícil e demorada, e a compra desse tipo de bem acompanha a evolução da produção industrial", diz Ribeiro.
Para o economista, é possível que alguns bens acabados produzidos pela indústria nacional estejam perdendo mercado para os vindos de fora. Mesmo que seja uma perda de mercado relacionada à elevação de vendas em razão da demanda doméstica. Isso ajuda a explicar o comportamento inverso dos desembarques de bens de capital e bens de consumo duráveis e não duráveis. Essas categorias continuam com crescimento forte, de 28%, 36% e 19,9%, respectivamente, no acumulado de janeiro a maio, na comparação com o mesmo período de 2010.
Para Ribeiro, o desempenho da importação de combustíveis tem explicação semelhante. "A diferença fica por conta da tendência nos últimos anos de redução da importação desse item, já que o Brasil tem se tornado menos dependente da compra de petróleo de outros países."
Sílvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, acredita que a expansão menor na importação de intermediários deve prosseguir até o fim do ano. "O real valorizado frente ao dólar e a renda relativamente elevada ainda devem manter o crescimento maior no volume de importação de bens de capital e de consumo, embora o ritmo deva se reduzir um pouco no segundo semestre."
A tendência também deve manter-se em relação aos preços, acredita Campos Neto. Ele lembra que a atual alta de preços de importação é na verdade resultado de uma recomposição. "Os preços caíram muito no pós-crise, em 2009 e no início de 2010."
A recuperação, lembra ele, começou a acontecer durante o segundo semestre do ano passado, refletindo não só a elevação de preços das commodities agrícolas e metálicas, que acabam tendo reflexo em intermediários e também em produtos acabados como bens de consumo e bens de capital. Há também o repasse da inflação, com elevação de preços por conta do retorno de demanda de mercados internacionais tradicionais, como da Europa e Estados Unidos. "Não se trata de uma demanda exuberante, mas já há um início de recuperação e de demanda maior que o do pós-crise."
Fonte:Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo
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