A atratividade do segmento agropecuário estadual mostra sinais de melhoria. Estudo da Fundação de Economia e Estatística (FEE), assinado pelo pesquisador Vanclei Zanin e divulgado neste mês pela Carta de Conjuntura, observou evolução nas relações de troca do setor de janeiro de 2000 a abril de 2012 e indica que houve progresso considerável dos preços das commodities e outros produtos do setor primário vendidos para a indústria - com destaque para soja, milho, arroz, leite e carne, entre mais de 30 itens.
Considerando o Índice dos Preços Recebidos (IPR) e o Índice dos Preços Pagos (IPP) pelos produtores, calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o economista criou um índice de termos de troca que mostrou que neste sentido a situação de quem atua no setor tende a se manter em patamar razoável de estabilização, registrado desde 2011. A valorização cambial de 2002 e o aumento das exportações, sobretudo da soja para a China, contribuíram para a alta dos preços recebidos.
Mas foi somente a partir de 2008 que os preços pagos pelos insumos têm se mantido estagnados. “Agora é preciso elencar o que deve ser feito para aproveitar este momento, já que os preços de venda da produção agropecuária devem continuar elevados”, pontua Zanin, sugerindo que tanto investimentos públicos quanto privados devem se voltar para atenuação dos efeitos climáticos extremos (como enchentes ou estiagens) que costumam ocorrer no Estado. “É importante mitigar as oscilações negativas da produção, para que a melhoria de renda se torne uma realidade para os produtores rurais, beneficiando toda a economia gaúcha.” Investir em irrigação, treinar mão de obra e comprar máquinas são iniciativas que estão no rol de alternativas aplicáveis neste momento.
Outros indicadores reforçam a existência de uma melhora na atratividade da agropecuária no Rio Grande do Sul, entre eles o preço real médio do arrendamento de terras no Estado, calculado pela FGV, que aumentou cerca de 50% entre dezembro de 1999 e junho de 2010. Já o valor de venda de terra subiu ainda mais, com ganhos reais superiores a 120% para campos de pastagens e de 140% para áreas de lavoura.
Outro destaque da edição de setembro da Carta de Conjuntura FEE, o estudo de comportamento dos Polos Regionais Sul-Rio-Grandenses entre 1999 e 2009, de autoria do economista Jaime Carrion Fialkow, revela que boa parte do crescimento industrial gaúcho foi puxada por estes centros durante o período. Juntos, os polos de Porto Alegre, São Leopoldo-Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Pelotas-Rio Grande, Passo Fundo-Marau e de Santa Maria (que representam 33 municípios) responderam, em 2009, por 50,4% da população e 63,4% do Valor Adicional Bruto (VAB) não agropecuário.
Com exceção de São Leopoldo-Novo Hamburgo, atingido pela crise do setor coureiro-calçadista, com baixa de 33,1% da produção industrial, os outros polos somados viram suas indústrias crescerem 22,8%. Na soma de indústria e serviços, estes mesmos polos cresceram em torno da média do resto do Estado (25,5%), com destaque para Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria. Apesar do bom desempenho destes centros, a população continua se deslocando para a região de maior concentração de habitantes (onde estão Porto Alegre, São Leopoldo-Novo Hamburgo e Caxias do Sul).
Em compensação, os polos de Santa Maria, Passo Fundo-Marau e Pelotas-Rio Grande não conseguiram atrair população na mesma magnitude, mesmo com bom desempenho produtivo, observa Fialkow. Ele afirma que a renda per capita mais alta na região Nordeste seria o principal atrativo de pessoas. “Além disso, nestes polos também se encontram as principais indústrias e principais universidades, o que também explica este fenômeno de migração.”
Uso de 900 mil toneladas de agrotóxicos no País preocupa
O uso crescente de agrotóxicos no Brasil fez com que engenheiros-agrônomos e especialistas ligados ao agronegócio acendessem o sinal de alerta. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil utilizou 900 mil toneladas da matéria em 2011. O País é hoje responsável por 19% do consumo de químicos no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Nesta quinta-feira, no encerramento de seminário realizado pelo Crea-RS na Capital, o presidente do órgão entregou uma carta contendo sugestões ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho.
O político prometeu analisar o documento e fazer parcerias com órgãos regionais para atenuar a situação atual. “Sabemos das dificuldades de fiscalização que existem hoje. Estamos tentando mudar critérios. Pela proporção continental do Brasil e a diversidade de climas e culturas, esse processo precisa ser regionalizado”, acredita Mendes. O material repassado ao ministro pede a criação de um programa de monitoramento de resíduos agrotóxicos, pois, segundo o texto, “o monitoramento realizado pelo Ministério da Agricultura e pela Anvisa tem um número de amostras limitado e não garante que a produção agrícola nacional gere um alimento seguro.”
Além disso, a carta sugere que os agricultores passem por um treinamento para manejar adequadamente as substâncias. Como consequência, o acesso às políticas públicas, como o crédito rural, ficaria atrelado à participação no curso. O grupo de engenheiros também defende que o governo gaúcho crie um sistema de retirada de amostras e analise os resíduos, denunciando os casos de irregularidade ao Ministério Público.
Tamanha preocupação tem origem nos números. A quantidade de agrotóxicos utilizada em 2011 em solo brasileiro é quase oito vezes maior à porção utilizada 15 anos atrás. No ano passado, conforme a Anvisa, cada brasileiro consumiu, em média, cinco quilos de químicos. No Rio Grande do Sul, a situação se torna ainda mais delicada. De acordo com levantamento do IBGE, o Estado utiliza mais de 4 quilos de agrotóxico por hectare, índice 16% superior à média nacional, que é de 3,6 quilos.
“A situação é preocupante. A grande maioria dos produtores faz o manejo correto dos agroquímicos, mas uma minoria prejudica a qualidade e coloca em risco a segurança alimentar. Precisa haver punição para isso, até porque existem diversos órgãos de assistência técnica que podem auxiliar o produtor a adequar suas práticas”, define o engenheiro-agrônomo Mauro Cirne. O coordenador do Programa de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos da Anvisa, Carlos Alexandre Gomes, acredita que deveria ser dada maior atenção a sistemas de produção integrada e métodos orgânicos de cultivo.
Fonte: Jornal do Commercio/RS / Adriana Lampert e Fernando Soares
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