As seguradoras que antes atuavam exclusivamente com seguro garantia estão diversificando seus negócios, de olho nas oportunidades trazidas pela onda de obras de infraestrutura espalhadas pelo país. As quatro principais companhias que atuam no segmento - J. Malucelli, UBF, Fator e Austral - receberam injeções de capital nos últimos meses e agora começam a atuar com linhas que têm sinergia com garantia, casos de seguros de risco de engenharia, energia, responsabilidade civil e transportes.
O mercado de seguro garantia faturou R$ 392,7 milhões em prêmios no primeiro semestre deste ano, alta de 21,36% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2010, os prêmios somaram R$ 707,5 milhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Nas contas da Confederação Nacional de Seguros (CNSeg), o investimento de R$ 300 bilhões estimado em infraestrutura no Brasil nos próximos seis anos vai gerar receita de até R$ 8 bilhões para as seguradoras, sendo o segmento de garantia a principal modalidade beneficiada.
A J. Malucelli, líder no mercado com uma participação de 30,6% no primeiro semestre, associou-se à americana Travelers para atuar com seguro de riscos de engenharia e responsabilidade civil. A Travelers fechou em julho a compra de participação de 43,34% da J. Malucelli Participações - guarda-chuva sob o qual estão as seguradoras de garantia, crédito e resseguradora do grupo - por R$ 657,112 milhões.
Com o aporte, são três os objetivos, segundo Gustavo Henrich, diretor técnico da J. Malucelli: além de usar a experiência da Travelers em riscos de engenharia e responsabilidade, aumentar o poder de retenção de seguro garantia - que passou de R$ 3 milhões por risco para R$ 5 milhões, dependendo menos de resseguro - e expandir a atuação da J. Malucelli Resseguradora para a América Latina.
Outra seguradora que está contando com parceiros estrangeiros para expandir é a UBF Seguros, que recebeu no ano passado investimento da Swiss Re e do IFC, agência do Banco Mundial para projetos no setor privado. Com aporte de R$ 40 milhões dos sócios, a seguradora dobrou seu patrimônio líquido, para R$ 110,9 milhões, de acordo com o último dado da Susep.
Com o "upgrade" a companhia está estreando em seguro de engenharia e, daqui a dois meses, em apólice de transportes, conta Filipe Bonetti, o novo presidente da UBF, vindo da Swiss Re. Segundo ele, no primeiro semestre do ano que vem a empresa começa a operar com seguro patrimonial, responsabilidade civil e energia. O reforço no patrimônio também multiplicou por cinco a capacidade de retenção de riscos em garantia, de R$ 600 mil para R$ 3,3 milhões, diz Luis Alberto Pestana, vice-presidente da UBF.
Segundo Bonetti, a seguradora está se reposicionando no mercado, reforçando a análise dos riscos, melhorando sua plataforma e trazendo novas soluções. A UBF perdeu mercado em garantia - carro-chefe da seguradora junto com seguro agrícola - com a crise financeira de 2008 e o aumento da concorrência no segmento. "Já conseguimos reverter do ano passado para cá e retomamos o investimento", afirma Pestana.
Quem começou esse movimento de expansão de portfólio foi a vice-líder do segmento, a Fator Seguradora, que em janeiro começou a operar com seguro de engenharia, responsabilidade civil para obras, riscos de equipamentos, eventos e apólices. Começa agora a atuar com seguro aeronáutico para plataformas de petróleo. Para aumentar os produtos da prateleira, o controlador da seguradora, o Banco Fator, quase quadruplicou o patrimônio da empresa, de R$ 25 milhões para R$ 98 milhões. Com a incorporação dos resultados do primeiro semestre, o patrimônio sobe para R$ 118 milhões.
A seguradora completa três anos esta semana e espera fechar o ano com faturamento de R$ 125 milhões, com garantia respondendo por 80% dos prêmios. "Passamos de um mercado de R$ 800 milhões, que é o de garantia, para um de R$ 5 bilhões", diz André Gregori, presidente da Fator Seguradora, referindo-se à soma das receitas das novas linhas de seguros em que a companhia passou a atuar.
A seguradora Austral, do grupo Vinci Partners, também planeja expansão para novos ramos, começando pelo de riscos de engenharia. "Para garantia, nosso capital hoje é suficiente. Para outras linhas, precisaremos de capitalização", diz Carlos Ferreira, diretor executivo da Austral. A empresa fará uma análise no fim do ano para determinar uma possível injeção de capital. A Austral tem, de acordo com a Susep, R$ 23,1 milhões em patrimônio líquido. A Vinci já afirmou que tem disponíveis R$ 500 milhões para investir.
A capitalização ajudaria a Austral a chegar na ambiciosa meta para o fim de 2012. "Queremos chegar a 10% de participação em seguro garantia e a R$ 100 milhões em prêmio", conta Ferreira. A Austral teve no semestre R$ 22,6 milhões de prêmios em garantia, correspondente a 4,3% do mercado.
Fonte: Valor Econômico/ Thais Folego e Felipe Marques | De São Paulo
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