Excluindo a soja da pauta de vendas internacionais em 2019 e 2020 e sem contar a alta no volume comercializado de petróleo neste ano, as exportações brasileiras teriam ido pior do que o restante do mundo na pandemia, aponta o Relatório de Inflação de dezembro do Banco Central (BC).
“Em tais cenários hipotéticos, vemos que o desempenho brasileiro teria sido pior do que o global: -15,6% no acumulado do ano até agosto, frente a -11,5% no mundo”, estima o BC. “A queda de US$ 15 bilhões nas exportações, no acumulado até outubro segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia (ME), teria sido de US$ 20 bilhões sem a soja e de US$ 18 bilhões sem a alta do volume de petróleo”, acrescenta.
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Segundo a autoridade monetária, a composição da pauta brasileira – com relevante presença de produtos básicos, em particular alimentares – e a participação significativa da China entre os destinos das vendas ajudam a explicar a relativa resiliência das exportações do país durante a crise da covid-19. A desvalorização cambial ao longo do ano também colaborou para o fenômeno ao aumentar a atratividade das vendas externas diante das quedas nos preços internacionais.
O Brasil registrou melhora no seu saldo comercial, com retração mais forte nas importações do que nas exportações, mesmo em um cenário de comércio mundial fortemente impactado pela pandemia, com retração na corrente de comércio, redução no preço internacional de commodities e imposição de restrições a exportações, inclusive de produtos alimentícios, em ao menos 80 países, nota o BC. Esse comportamento contrasta mesmo na comparação com outros países latino-americanos, cujas pautas exportadoras, em sua maioria, também dependem de produtos básicos, observa o relatório.
Relativamente ao total mundial, o Brasil teve crescimento no volume exportado, enquanto os preços das exportações brasileiras caíram mais do que o total global, afirma o BC. O relatório cita dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) que reforçam que o “quantum” exportado pelo país se mostrou mais resiliente do que os preços. “No acumulado do ano até outubro, o índice de quantum registrou relativa estabilidade, enquanto o índice de preços recuou 7,4% na comparação interanual. Nesse período o real sofreu desvalorização média de 31%, compensando a queda dos preços internacionais em dólares, o que favoreceu o volume exportado.”
O BC destaca que o desempenho das exportações foi heterogêneo entre os fatores agregados, com melhora das vendas de básicos e recuo significativo nos produtos manufaturados, que já vinham de um patamar baixo com a forte queda das compras argentinas. Além do bom desempenho em 2020 das carnes bovinas e suínas e do açúcar, o relatório evidencia o forte crescimento do volume de exportação de soja e petróleo, dois produtos com peso elevado na pauta do comércio brasileiro.
No caso da soja, o crescimento do volume exportado (24% no acumulado do ano até outubro) decorreu do aumento da demanda chinesa e do ganho de participação do produto brasileiro em tal mercado, diz o BC. “No acumulado do ano até setembro, 75% do total de soja importada pelo país asiático teve como origem o Brasil, percentual acima, inclusive, do visto em 2018 (72%), período no qual a China, em resposta a sanções comerciais, impôs restrições às compras de soja americana.” O maior no volume comercializado foi possibilitado, segundo o relatório, pela safra recorde e pelo aumento da parcela da produção que foi exportada (de 58% em 2019 para 67% em 2020). “Do total de soja exportado em 2020, 73% teve como destino a China”, acrescenta.
No caso do petróleo, o BC ressalta aumento no quantum exportado (25% no acumulado até outubro), “porém não o suficiente para compensar a queda no preço (-32% na mesma comparação), que refletiu o comportamento dos preços internacionais da commodity'', afirma. Segundo a autoridade monetária, o maior volume das vendas externas pode ser explicado pelo excedente gerado com o crescimento da produção (12,9% no acumulado do ano até agosto, segundo dados da ANP), que não foi completamente acompanhado pelo refino do petróleo nacional (4,5% na mesma comparação). “Como resultado, houve aumento da parcela exportada, que passou de 42% em 2019 para 50% em 2020.” A China foi o principal destino, com participação de 61 % no acumulado do ano até outubro.
Fonte: Valor