Ao ver a capa da revista "The Economist", em agosto de 2010, com o título "Competição do Século, China versus Índia", o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso definiu o tema deste ano do Fórum Nacional. Na sua 23ª edição, o seminário começa segunda-feira, no Rio, e vai discutir o tema "Visão para o Brasil Desenvolvido entrar na Competição do Século".
"Temos condições de entrar nessa disputa, mas é preciso educação de qualidade, espírito empresarial e usar com eficiência a economia do conhecimento, a biotecnologia à base da biodiversidade e apoiar inovação", diz Reis Velloso.
O economista Claudio Frischtak, ex-presidente do BNDES fará parte de uma mesa redonda e acaba de lançar estudo discutindo como o Brasil deve se posicionar no cenário que caracteriza como de "triplo protagonismo chinês", já que a China atua com a maior oferta e demanda do mercado global, como país financiador soberano de nações, e, em futuro próximo, com o papel de maior investidor não apenas em moedas e títulos, mas em ativos produtivos.
Ele lembra que a Índia, "apesar de deter menos recursos, tem características que a fazem uma potência regional de primeira grandeza, com certos recursos tecnológicos diferenciados e com projeção sobre a África, que se sobrepõe aos interesses do Brasil".
Frischtak apresenta propostas para o Brasil se posicionar. Lembra que o "caráter único da economia chinesa não coloca o Brasil numa posição subalterna". "Nessa relação o Brasil desempenha um duplo papel: complementar, enquanto fornecedor de recursos naturais, cuja importância para a economia chinesa tende a aumentar nos próximos anos, e em simultâneo, rival, pois suas empresas competem por ativos e mercados".
Frischtak destaca as forças do Brasil: um regime democrático com equilíbrio de poderes, dinamismo econômico com redução da desigualdade e da pobreza, e recursos naturais e energéticos, biodiversidade e ecossistemas. Mas ele diz que a vantagem comparativa depende da capacidade do país de garantir que esses recursos sejam transformados nos chamados Recursos Naturais de Valor (RNVs).
Por último, ele enfatiza que a capacidade do Brasil de projetar seus interesses depende do dinamismo e poder transformador de suas empresas. Avalia que nos últimos anos houve grande amadurecimento e reconhecimento das empresas e trabalhadores e que o processo de globalização da economia e internacionalização das empresas é irreversível. "A resposta não tem sido uniforme, mas o aprendizado vem sendo relativamente rápido", destaca.
E as fragilidades brasileiras? Frischtak relata que entre elas está a escassez de recursos do Estado. Sugere três compromissos. O primeiro é a criação de sistema de planejamento do longo prazo, com fortes elementos de racionalidade e definindo de forma transparente os interesses do país no tabuleiro internacional. O segundo é mobilizar recursos fiscais para apoiar o que chama de diplomacia econômica e empresas brasileiras fora do país. E em terceiro lugar, destaca que "há necessidade de medidas para reduzir custos e estancar a perda progressiva de competitividade das empresas brasileiras, com a queda dos custos 'ex-fábrica', como os relacionados à qualidade de infraestrutura e serviços públicos e à pressão tributária".
Frischtak estará na mesa redonda de segunda-feira com o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, Robson Andrade (presidente da Confederação Nacional da Indústria), Jorge Gerdau (presidente do grupo Gerdau e um dos empresários que assessoram a presidente Dilma Rousseff), Adilson Primo (presidente da Siemens), e Antonio Barros de Castro. Reis Velloso convidou o Nobel de economia, Edmund Phelps que abre o encontro, no auditório do BNDES. Ele falará sobre a crise no Oriente Médio e as implicações para a recuperação da economia mundial.
Na terça-feira está prevista a presença do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, que abrirá o painel sobre oportunidades para o Brasil. No mesmo dia, falarão o ministro das Comunicações, Paulo Bernado, e empresários do setor.
Fonte: Valor Econômico/Heloisa Magalhães | Do Rio
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