A Shell pretende elevar para cerca de US$ 3 bilhões os seus investimentos globais em “novas energias”, com foco em renováveis, e acredita que o Brasil será um dos destinos prioritários de seu crescimento nessa área, disse, nesta quinta-feira (19), o presidente da companhia no Brasil, André Araujo. Segundo o executivo, a empresa tem a intenção de entrar no setor de geração de energia solar no mercado brasileiro.
Ele afirmou que a empresa criou uma área para avaliar oportunidades de negócios no segmento de renováveis.
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“Estamos estabelecendo nossa equipe de novas energias. Temos um grupo já estabelecido na área solar e estamos buscando oportunidades de negócios. Não temos uma pressão de termos projetos numa data especifica, mas vamos buscar projetos que façam sentido e sejam competitivos. Em algum momento vai sair alguma coisa”, afirmou Araujo, a jornalistas, após participar do evento Shell Eco-marathon Brasil.
Ele disse ainda que a empresa investe entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões por ano em novas energias, mas que a expectativa é chegar a valores próximos aos US$ 3 bilhões já este ano.
“Há países que são prioritários [nos investimentos] e o Brasil é um deles”, comentou.
Termelétricas
Araujo disse também que a empresa está focada na busca de mercados para os volumes crescentes de gás natural que a petroleira vai produzir no pré-sal, nos próximos anos. Segundo o executivo, a multinacional avalia novas oportunidades de negócios na geração de energia a gás, mas também vê potencial para venda do energético para os grandes consumidores industriais do país.
A maior parte do gás produzido pela empresa, hoje, no país, é vendido para a Petrobras. A estatal se comprometeu junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), contudo, a não renovar seus contratos para compra de gás de seus sócios nos campos de produção. Araujo disse, no entanto, que o principal foco da companhia, neste momento, está na busca de clientes para a produção adicional que virá nos próximos anos, e não para o gás que será descontratado junto à Petrobras.
“Os contratos existentes terão que ser adequados, mas estamos olhando bastante as oportunidades de crescimento de volume... A grande oportunidade será em novos volumes, encontrar caminhos [para vender esse gás].”
O executivo citou a entrada da empresa no projeto termelétrico de Marlim Azul (565 megawatts), em Macaé (RJ), como um primeiro movimento da empresa na busca por mercado para o seu gás do pré-sal. Ele disse que o consórcio está empenhado em antecipar a entrada em operação da usina, prevista para 2023, e que a companhia avalia investir novamente na geração de energia. “Estamos buscando alternativas”, afirmou.
No mercado não termelétrico, o Valor apurou que a Shell está, hoje, em negociações com as distribuidoras de gás canalizado. Araujo, no entanto, sinalizou que uma outra opção pode ser o mercado livre de gás.
“Percebemos um volume bem razoável no setor industrial. A perspectiva de ter mais disponibilidade de gás começa a atrair grandes setores industriais. [o setor industrial] Vai ser um grande complemento como alternativa de gás”, comentou.
O executivo destacou que a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), com as diretrizes para a liberalização do mercado de gás natural, publicada em junho, é o “início de um caminho” para viabilizar a abertura do setor de gás e que ele está “motivado” com o momento da indústria de gás. “As empresas operadoras não estão olhando para investimentos só pelo tamanho do mercado existente. A perspectiva é de ter uma alternativa de mercado crescente de gás natural, no Brasil”, disse.
Questionado se a companhia tem interesse em investir em novos gasodutos marítimos de escoamento da produção, ele disse que este não é um objetivo, mas que não descarta a possibilidade. “Nunca podemos dizer que não podemos fazer, mas seguramente temos empresas que podem fazer investimentos em gasodutos. Mas vamos fazer o que for necessário para atingir mercado. A Shell, no mundo, é bastante ativa na produção, mas é também muito ativa na comercialização de gás e energia e queremos ter certeza que a Shell aqui no Brasil terá um papel também nesse segmento de comercialização de gás e energia.”
Preços do petróleo caminham para a normalização
O presidente da Shell no Brasil minimizou os efeitos dos ataques às instalações sauditas por drones, no último fim de semana, sobre o mercado, e disse que os preços do petróleo caminham para a normalização.
“O que temos escutado é que a situação se ajusta nas próximas semanas. O mercado de óleo e gás historicamente sempre trabalhou com volatilidade. Não é primeira vez que temos guerras, boicotes e momentos que criam tensão grande que se reflete em 24 horas no preço da commodity. A tendência, com as informações que temos hoje, é que mercado vai caminhando para centro de preço ligado à oferta e demanda”, disse Araujo.
Questionado sobre a participação da empresa nos três leilões previstos para outubro e novembro, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o executivo afirmou que o momento é de “conversa com parceiros e de olhar internamente” as oportunidades de negócios. Sem dar maiores detalhes sobre o interesse da companhia, Araujo disse apenas que há equipes da empresa dedicadas a estudar as melhores oportunidades nas três licitações marcadas: a 16ª Rodada de concessões, a 6ª Rodada de partilha e o leilão dos excedentes da cessão onerosa.
Fonte: Valor