A Shell assina, hoje, um contrato com a distribuidora Copergás para fornecimento de gás natural ao mercado pernambucano a partir de 2022. O acordo é emblemático, por se tratar do primeiro contrato entre uma concessionária de gás canalizado e uma produtora do pré-sal, fora a Petrobras, no contexto da abertura do mercado brasileiro.
Válido por dois anos, o acordo prevê a entrega de 750 mil metros cúbicos diários (m3 /dia) à Copergás em 2022 e 1 milhão de m3 /dia em 2023. A Petrobras ainda será responsável por metade do volume contratado pela pernambucana em 2022 e por um terço em 2023. A concessionária espera obter, com a Shell, uma economia de 17% na compra do gás, em relação aos valores da estatal - ou seja, corte de custos estimado em R$ 180 milhões, nos dois anos, a ser repassado aos clientes nas tarifas.
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Pelos termos do negócio, haverá uma flexibilidade na indexação dos preços. Até então, o contrato da Copergás com a Petrobras era 100% atrelado ao petróleo. No acordo com a Shell, o gás poderá ser indexado ou ao barril do petróleo ou ao Henry Hub, preço de referência do gás nos EUA e que, em geral, é menos volátil. A concessionária poderá arbitrar, a cada três meses, o indexador de preferência.
“Esse contrato é histórico e servirá de exemplo para outros acordos, até de outras concessionárias [na abertura do mercado]”, comenta o diretor-presidente da Copergás, André Campos.
A Shell venceu a concorrência aberta pela Copergás no fim de 2020. Desde então, as partes negociavam os termos finais do acordo, que tem como condição precedente a assinatura de um contrato extraordinário de transporte de curto prazo, para acesso à malha de gasodutos, enquanto a Transportadora Associada de Gás (TAG) não lança a sua chamada pública de contratação de capacidade. Campos se diz confiante com um desfecho positivo até o fim do ano.
O diretor-presidente da Shell Energy no Brasil, braço de comercialização de gás e energia da multinacional, Christian Iturri, defende regras mais claras para as chamadas públicas para acesso à capacidade disponível dos gasodutos, no país. “O tema do acesso ao transporte pode atrapalhar a abertura do mercado”, disse.
Sobre o acesso à infraestrutura de processamento do gás do pré-sal, o executivo afirma que as conversas com a Petrobras estão “muito bem encaminhadas”.
Com volumes de 15 milhões de m3 /dia, a Shell é a segunda maior produtora do Brasil, atrás da estatal brasileira, e busca novos clientes para seu gás. A principal fonte da multinacional é Tupi (ex-Lula), no pré-sal da Bacia de Santos. A multinacional possui 23% do ativo, operado pela Petrobras.
Até então, a multinacional vendia toda a sua parcela de gás para a estatal, por valores baixos, mas as perspectivas mudaram quando a Petrobras se comprometeu junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a não mais renovar os contratos de compra dos volumes de seus sócios.
Iturri diz que espera fechar, nos próximos meses, novos contratos de fornecimento do gás do pré-sal. “Estamos vendo todas as possibilidades, desde as chamadas públicas abertas por outras distribuidoras até clientes no mercado livre”, afirmou o executivo ao Valor.
A Shell também mira o setor termelétrico, dentro da estratégia de monetização do gás. Iturri citou que vê “oportunidades interessantes” no leilão de energia de dezembro. A multinacional é, hoje, um dos sócios de Marlim Azul, termelétrica de 565 megawatts (MW) em construção em Macaé (RJ) pelo consórcio Pátria (50,1%), Shell (29,9%) e Mitsubishi Power (20%).
Iturri afirma que a Shell também tem interesse de importar, no futuro, gás natural liquefeito (GNL), por meio de um terminal de regaseificação que a OnCorp tenta viabilizar no Porto de Suape (PE). Também para o futuro, a empresa espera viabilizar a produção do campo de Gato do Mato, no pré-sal, e disponibilizar o gás do ativo ao mercado entre 2027 e 2028.
Fonte: Valor