A área da Tianjin Pipe é distinta de qualquer siderúrgica no mundo. Avestruzes, cervos malhados e pavões perambulam no terreno entre salgueiros, pontes de bambu e pavilhões chineses. A usina tem seu próprio hotel e estação de metrô leve.
Outra característica - a presença, na área, de grandes agências dos três maiores bancos estatais chineses - simboliza o apoio financeiro do governo que coloca a Tianjin Pipe no centro de uma crescente disputa comercial.
Em outubro, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA decidiu manter tarifas de 63% e outras mais altas sobre produtos de aço da Tianjin e de outros produtores, ao concluir que as siderúrgicas americanas são prejudicadas pelos subsídios recebidos pelas empresas chinesas e por preços desleais.
"Enquanto dizemos: 'Deixemos que os mercados funcionem', a China está construindo esses grandes empresas nacionais", disse Alan Price, advogado em Washington que representa as siderúrgicas dos EUA em litígios. Essa batalha em torno do apoio do governo a seus exportadores marca uma piora nas relações sino-americanas, já tensas por acusações e contra-acusações envolvendo manipulação cambial.
Uma análise de prospectos de lançamentos de ações mostra como a Tianjin Pipe se beneficia de íntimos laços com o governo. Uma década atrás, a empresa estava insolvente. Seu controle acionário estava inteiramente nas mãos de quatro companhias gestoras de ativos instituídas pelo governo central para dar baixa em dívidas incobráveis devidas ao Banco Industrial e Comercial da China, ao Banco de Construção da China, ao Banco da China e ao Banco Agrícola da China, todos estatais.
A revitalização da Tianjin Pipe, sediada na cidade portuária de Tianjin, nordeste da China, começou depois que ela foi comprada pelo governo local em 2003. Desde então, a empresa prosperou com financiamento barato dos bancos, tomando capital a juros mais próximos dos pagos por uma entidade governamental do que por um tomador comercial.
"A própria existência da empresa se deve a enormes subsídios originados de bancos estatais que socorrem empresas estatais privilegiadas indefinidamente por governos locais e centrais", diz Victor Shih, professor da Northwestern University, de Illinois, que estuda o sistema financeiro chinês.
Quando em julho a Tianjin Pipe emitiu títulos com maturação para um ano a juros de 3,48%, a taxa básica bancária na China era quase 2 pontos percentuais maior, de 5,31%. Os custos de financiamento assumidos pela empresa estavam mais próximos dos do Ministério das Ferrovias da China, que emitiu em julho títulos de um ano a 0,89 ponto percentual abaixo da taxa relativa à dívida da Tianjin Pipe.
A dívida da Tianjin Pipe surgiu quando o governo da China orientou seus bancos estatais a ampliarem seus empréstimos a partir do fim de 2008 para combater os efeitos da desaceleração econômica mundial. No fim de março a dívida de longo prazo era de 6,72 bilhões de yuans (US$ 1 bilhão), acima do 1,89 bilhão de yuans no fim de 2008, de acordo com demonstrações financeiras da empresa.
Os lucros das empresas controladas pelo governo chinês seriam zerados, caso pagassem juros do mercado, segundo estudo do instituto de pesquisas do banco central de Hong Kong em 2009.
Liu Yunsheng, o presidente Tianjin Pipe, que foi nomeado pelo governo de Tianjin, não quis conceder entrevista. A empresa recusou-se a responder perguntas enviadas por fax.
Estatais como a Tianjin Pipe cuidam de si mesmas e não são ajudadas pelo Estado, disse o vice-ministro do Comércio, Chen Jian, em novembro. "O governo não concede subsídios", disse. "Talvez algumas pessoas vejam como as empresas chinesas estão crescendo e estejam se sentindo confusas".
Michael Pettis, professor de finanças na Universidade de Pequim e ex-diretor do Bear Stearns, diz que a verba recebida pelas estatais, como a Tianjin Pipe, lhes permite praticar preços inferiores aos de concorrentes estrangeiras.
O número de queixas comerciais contra a China disparou desde que Barack Obama tornou-se presidente - bem como as medidas retaliatórias chinesas. Os EUA já impuseram impostos sobre pneus, papel couché e produtos de alumínio chineses. A China aplicou tarifas a carne de aves e a aços especiais.
Apoio estatal a empresas de fundamental importância é uma política que a China não abandonará facilmente, diz Price. "É um padrão que vemos em grau diversificado em toda a economia chinesa", diz.
No caso da Tianjin Pipe, cujas exportações para os EUA caíram desde que as tarifas foram impostas, a China pode uma maneira de maneira de contornar os obstáculos. A empresa deverá iniciar no próximo ano a construção de uma fábrica de tubos de aço, que custará US$ 1 bilhão, no sul do Texas, perto de Corpus Christi, projetada para produzir 500 mil toneladas anuais de tubos reciclados feitos com sucata de aço.
A fábrica vai criar 300 postos de trabalho no primeiro ano de operação e chegará a criar um total de 600 postos de trabalho, diz Josephine Miller, diretora-executiva da Economic Development do condado de San Patrício. A empresa diz que a fábrica terá uma folha de pagamento anual de US$ 18 milhões. No Texas, a Tianjin Pipe recebe um reforço de ajuda governamental de outro tipo: isenções tributárias estaduais para compensar o custo de equipamentos de controle de poluição e redução de impostos predial e territorial.
O investimento da Tianjin "soa estranho, estranho, estranho, mas eles vendem tubos na área de Houston há 20 anos", disse Miller em entrevista. "Se alguém dissesse que eles estavam investindo um bilhão de dólares em sua área, você também iria ficar alerta".
Fonte: Valor Econômico/Michael Forsythe e Mark Drajem | Bloomberg, de Pequim e Washington
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